A elite do funcionalismo público do Poder Executivo federal, que vem liderando os recentes movimentos por reajuste salarial, acumulou aumentos de salário superiores à inflação nos últimos 23 anos.
De acordo com levantamento publicado pelo economista Bruno Carazza, com base em dados oficiais: algumas carreiras acumularam reajuste próximo de 500% ou até 600% entre 1998 e 2021, bem acima da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nesse intervalo, de aproximadamente 326%.
Portanto, houve um aumento no poder de compra desses profissionais – e esse ganho ocorreu mesmo com a falta de reajustes a partir de 2019, no Governo Bolsonaro.
Ou seja: ainda que os salários não tenham acompanhado a inflação nos últimos três anos, as carreiras mais bem-remuneradas ainda acumulam um aumento real expressivo desde 1998.
“Embora seja verdade que os rendimentos desses servidores [da elite do funcionalismo] vêm sendo corroídos pela inflação no governo Bolsonaro, houve reajustes significativamente superiores à inflação para essas carreiras nos governos de FHC e Lula, e em alguns casos também no período Dilma II-Temer”, escreveu Carazza no Twitter.
Segundo o levantamento, servidores do ciclo de gestão do Executivo, que são responsáveis por atividades necessárias à gestão e avaliação de políticas públicas direcionadas à promoção do desenvolvimento nacional e à melhora do acesso a serviços públicos, acumularam aumento de 609,9% nos últimos 23 anos.
A remuneração de advogados e procuradores do Executivo subiu 608,2% no mesmo período.
Ainda de acordo com a pesquisa de Carazza, diplomatas, delegados da Polícia Federal e auditores fiscais tiveram, respectivamente, reajustes acumulados de 550,8%, 498,9% e 478,6%.
Os maiores reajustes para delegados da PF e servidores do ciclo de gestão ocorreram no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1999 e 2022.
Auditores fiscais, advogados e procuradores do funcionalismo público federal, por sua vez, tiveram os maiores aumentos durante o primeiro governo do ex-presidente Lula, entre 2003 e 2006.
O economista afirmou também que as categorias que comandaram a paralisação da última terça-feira (18) “já recebem uma remuneração mensal muito elevada”, citando os vencimentos de delegado da PF (R$ 30.936,91), auditor da Receita (R$ 30.303,62), e advogado da União e procurador da Fazenda (R$ 27.303,70, mais honorários de até R$ 10 mil por mês).