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Após uma forte mobilização do movimento negro, as tradicionais luminárias japonesas da Rua dos Aflitos, no bairro da Liberdade, em São Paulo, foram substituídas por postes de iluminação em LED. Enquanto a mudança ocorre apenas nessa rua, o restante do bairro ainda preserva os icônicos postes de iluminação asiática, conhecidos como lanternas Suzuranto.
O bairro da Liberdade, um dos maiores redutos da cultura japonesa no Brasil, carrega uma rica e complexa história, especialmente na Rua dos Aflitos, onde se encontra a Capela dos Aflitos, construída em 1779. O local foi originalmente um cemitério de escravizados, e sua importância histórica tem ganhado crescente reconhecimento. No ano passado, a Prefeitura de São Paulo anunciou a construção de um memorial no local, com o objetivo de homenagear a memória dos negros que viveram e sofreram naquele território.
De acordo com a administração municipal, a substituição das luminárias foi uma medida tomada para “equilibrar o respeito às diferentes camadas históricas e culturais presentes no bairro”, garantindo que a “memória de cada grupo seja adequadamente representada”. A decisão foi uma resposta ao apelo de diversas entidades do movimento negro, que questionaram a adequação das lanternas Suzuranto, símbolo da cultura japonesa, ao contexto histórico da região, marcada pela dor e sofrimento de muitos negros e indígenas.
Em 2018, escavações na área revelaram um antigo cemitério, onde estavam enterrados escravizados, indígenas e pessoas condenadas à forca. As ossadas, datadas entre 1775 e 1858, confirmaram a existência do Cemitério dos Aflitos, até então conhecido apenas por documentos históricos. O achado arqueológico trouxe à tona a complexidade da história do bairro, que abriga um patrimônio tanto da cultura japonesa quanto da memória negra.
Em 2020, após os descobrimentos, a Prefeitura de São Paulo autorizou a desapropriação do terreno do antigo cemitério para a construção do Memorial dos Aflitos, um espaço dedicado a preservar a memória das vítimas da escravidão e dos povos indígenas. As obras do memorial estão em andamento e devem proporcionar um espaço de reflexão e reconhecimento histórico.
Essa troca simbólica das luminárias na Rua dos Aflitos reflete um movimento maior de resgatar e valorizar a história negra de São Paulo, ao mesmo tempo em que busca respeitar a diversidade cultural do bairro, que mistura tradições japonesas e afro-brasileiras. O Memorial dos Aflitos, que está em construção, também representa um passo importante para a preservação da memória dos que foram silenciados pela história.