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O Tribunal Constitucional da Romênia determinou nesta quinta-feira (28) a recontagem dos votos do primeiro turno das eleições presidenciais, após a surpreendente vitória do candidato de direita e pró-Moscou, Calin Georgescu.
A decisão foi tomada em meio a denúncias de ataques cibernéticos e da influência de redes de “desinformação” russas no país, que, além de ser membro da União Europeia e da Otan, faz fronteira com a Ucrânia.
A Presidência romena também acusou o TikTok de ter dado “tratamento preferencial” aos conteúdos de Georgescu, que usou a plataforma para alcançar grande parte de seu eleitorado.
A recontagem foi solicitada após o presidenciável Cristian Terhes contestar o resultado das urnas, alegando que um partido extrapolou o tempo de campanha permitido na internet. Apesar disso, analistas alertam que a medida pode afetar a credibilidade das instituições, principalmente em um momento próximo a duas votações importantes: o segundo turno presidencial, em 8 de dezembro, e as eleições para o Parlamento, que acontecem neste domingo.
Inicialmente, Terhes também pediu que a Corte anulasse o resultado das eleições, mas o tribunal adiou essa decisão para sexta (29), optando por acatar o pedido de recontagem. Terhes, ligado à direita, obteve apenas 1% dos votos, ficando em 9º lugar.
De acordo com Terhes, a violação do tempo de campanha favoreceu a candidatura de Elena Lasconi, prefeita centrista, que disputará o 2º turno contra Georgescu. Lasconi derrotou o atual primeiro-ministro, Marcel Ciolacu, por uma margem de 2,7 mil votos, e um total de 9,46 milhões de eleitores participaram do pleito.
A vitória de Georgescu, que se autodenomina pró-Rússia e critica a Otan e a postura romena em relação à Ucrânia, causou surpresa no país, que até então havia resistido ao avanço do nacionalismo em nações vizinhas, como Hungria e Eslováquia.
O candidato, que defende figuras romenas da década de 1930, chamou-os de heróis e mártires nacionais e afirmou que a Romênia deveria se aproximar da Rússia, em vez de desafiá-la.
A campanha de Georgescu, centrada em conteúdos virais no TikTok, recebeu forte apoio de eleitores jovens e da diáspora romena. No entanto, a plataforma foi central na controvérsia, com entidades acusando-a de ser vítima de desinformação russa.
Em resposta, a Presidência romena afirmou, em um comunicado emitido após reunião do Conselho Supremo de Defesa Nacional, que o TikTok favoreceu Georgescu ao não classificá-lo como candidato político, o que gerou “exposição maciça” de sua campanha.
Na quarta, um alto funcionário do órgão regulador de telecomunicações da Romênia pediu a suspensão do TikTok até que o papel da plataforma na eleição fosse investigado. O TikTok negou as acusações, alegando que todos os candidatos utilizaram a plataforma e outras redes sociais para suas campanhas.
O comunicado também revelou que houve “ataques cibernéticos com o objetivo de influenciar a integridade do processo eleitoral”. Em outubro, o Tribunal Constitucional da Romênia já havia proibido um político de direita de concorrer à Presidência, em uma decisão que, segundo analistas e grupos de direitos civis, ultrapassou os limites do poder da Corte.
A vitória de Georgescu tem sido vista como um revés para a União Europeia, que recentemente celebrava a iminente adesão da Romênia ao espaço Schengen como um sinal pró-europeu.
Em Bruxelas, o resultado das eleições está sendo interpretado como mais uma evidência da crescente infiltração da propaganda russa, após episódios semelhantes na Moldávia e na Geórgia.
Embora as autoridades europeias ainda não tenham se manifestado publicamente com alarme, existe uma forte preocupação nos bastidores diplomáticos sobre a ligação entre as campanhas de desinformação russas e o aumento de candidaturas antiocidentais na UE e seus vizinhos.