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Um diário manuscrito encontrado no campo de batalha em Kursk, região fronteiriça entre Rússia e Ucrânia, revelou as táticas extremas e as condições às quais estão submetidos os soldados norte-coreanos enviados para apoiar as forças russas.
Segundo o The Wall Street Journal, o documento, atribuído a um jovem soldado norte-coreano chamado Jong Kyong Hong, detalha estratégias de combate, reflexões ideológicas e expressões de lealdade ao líder norte-coreano Kim Jong-un.
A descoberta, junto a outros documentos e testemunhos, forneceu mais informações sobre o envio de tropas norte-coreanas para o conflito, algo que nem Moscou nem Pyongyang reconheceram publicamente.
O diário, divulgado pelas forças de operações especiais da Ucrânia, inclui um diagrama que descreve como os soldados devem agir diante da ameaça de um drone ucraniano. No esquema, um soldado age como “isca”, permanecendo imóvel para atrair o drone, enquanto outros tentam abatê-lo. Essas táticas, classificadas como temerárias por especialistas militares, refletem a falta de preparo e equipamentos adequados das tropas norte-coreanas, que foram enviadas para combate após meses realizando tarefas logísticas e cavando trincheiras na região russa de Kursk.
Altas baixas entre as tropas norte-coreanas
Desde o envio das tropas em outubro, cerca de 12.000 soldados norte-coreanos foram enviados para a Rússia, conforme reportou o The Wall Street Journal. No entanto, os números de baixas são alarmantes. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, afirmou que mais de 4.000 soldados norte-coreanos morreram ou ficaram feridos desde dezembro, com mais de 1.000 baixas apenas na última semana desse mês.
Esses números refletem a intensidade dos combates em Kursk, uma região chave no conflito, onde a Ucrânia lançou uma nova contraofensiva após recuperar parte do território ocupado pela Rússia no verão passado.
As táticas utilizadas pelos soldados norte-coreanos, descritas como “ondas humanas”, foram criticadas por sua falta de eficácia e pelo alto custo em vidas humanas. De acordo com imagens de drones ucranianos, as tropas avançam a pé por campos abertos, sem veículos blindados ou artilharia de apoio, e com uniformes escuros que os tornam facilmente visíveis sobre a neve.
Além disso, sua integração com as forças russas parece ser deficiente, o que agrava sua vulnerabilidade no front de batalha.
Adoctrinamento e lealdade extrema
O diário de Jong Kyong Hong oferece uma visão do profundo adoctrinamento ideológico ao qual estão submetidos os soldados norte-coreanos. Em uma das entradas, o jovem escreveu: “Mesmo que eu perca a vida, cumprirei as ordens do Comandante Supremo sem hesitar”.
Esse tipo de expressão, segundo especialistas citados pelo The Wall Street Journal, é comum na tradição militar norte-coreana, que celebra o sacrifício e a lealdade ao regime.
O conteúdo do diário também inclui referências a discursos de Kim Jong-un, que os soldados devem memorizar palavra por palavra, e menciona princípios ideológicos do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte. Jong descreve sua missão como uma forma de expiar pecados do passado e proteger o líder supremo.
Essas anotações refletem o “lavagem cerebral” a que são submetidos os soldados, conforme declarou Bang Jong-kwan, ex-general de divisão do exército sul-coreano.
O adoctrinamento ideológico também influencia a atitude dos soldados norte-coreanos diante da captura. Segundo o coronel Oleksandr Kindratenko, porta-voz das Forças de Operações Especiais da Ucrânia, muitos preferem se suicidar antes de serem capturados, ou são executados por seus próprios companheiros quando ficam feridos.
Essa mentalidade, que rejeita a rendição como uma opção, contrasta com as práticas de outros exércitos no conflito.
Em um recente confronto em Kursk, as forças ucranianas capturaram dois soldados norte-coreanos feridos, que estão sendo tratados e interrogados pelos serviços de segurança da Ucrânia. Esse tipo de captura é incomum, dada a resistência dos norte-coreanos em serem feitos prisioneiros.
Desdobramento das tropas norte-coreanas na Rússia
O envio de tropas norte-coreanas para a Rússia ocorreu após a assinatura de um pacto de defesa mútua entre os dois países em Pyongyang. Embora nem a Rússia nem a Coreia do Norte tenham confirmado oficialmente o desdobramento, a presença de soldados norte-coreanos em Kursk foi documentada pelas forças ucranianas, que encontraram diários, cartas e documentos de identidade falsificados entre os corpos dos soldados mortos.
De acordo com a agência de espionagem da Coreia do Sul, é possível que os soldados norte-coreanos tenham recebido documentos de identidade russos falsificados, uniformes russos e treinamento básico no idioma. No entanto, muitos deles são jovens, de baixa estatura e constituição magra, o que sugere que podem ter sido recrutados às pressas.
O analista Doo Jin-ho, do Instituto Coreano de Análise de Defesa, estima que cerca de 30% das tropas norte-coreanas já tenham sido enviadas para combate, enquanto o restante está em treinamento ou esperando ser rotacionado.
Zelensky alertou que dezenas de milhares de soldados norte-coreanos podem ser enviados à Rússia nos próximos meses, aumentando sua participação no conflito.
Um legado de sacrifício e lealdade
O diário de Jong Kyong Hong, junto com outros documentos encontrados no campo de batalha, reflete a realidade complexa dos soldados norte-coreanos na guerra da Ucrânia. Desde táticas de combate arriscadas até um profundo adoctrinamento ideológico, esses soldados enfrentam condições extremas em um conflito que não é o deles.
A história de Jong, que morreu junto com dois companheiros em um tiroteio próximo à aldeia de Pogrebki, é um lembrete do custo humano da guerra e das dinâmicas geopolíticas que levam jovens soldados a lutar e morrer longe de casa.
Segundo o The Wall Street Journal, os testes de DNA realizados pela Ucrânia confirmaram que os três soldados eram de origem asiática, o que reforça a autenticidade dos documentos encontrados.
