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O ex-cardeal Theodore McCarrick, o clérigo de mais alta patente na Igreja Católica dos EUA que caiu em desgraça após ser acusado de abusar sexualmente de menores, morreu aos 94 anos, anunciou na sexta-feira o arcebispo de Washington, Robert McElroy.
McCarrick foi destituído de seu status clerical em 2019, depois que uma investigação do Vaticano determinou que ele havia abusado sexualmente de crianças e adultos — muitos seminaristas — por décadas.
“Hoje soube do falecimento de Theodore McCarrick, ex-arcebispo de Washington. Neste momento, sinto especial preocupação por aqueles a quem ele prejudicou durante seu ministério sacerdotal. Apesar de sua dor constante, oremos com firmeza por eles e por todas as vítimas de abuso sexual”, declarou McElroy em um comunicado.
Segundo alguns meios locais, o falecimento ocorreu na quinta-feira no Missouri, onde residia o ex-cardeal, nascido em Nova York em 1930.
Em 2023, um juiz de Massachusetts rejeitou as acusações de abuso contra McCarrick naquele estado, alegando que ele não poderia ser julgado por sofrer de demência.
McCarrick, que foi arcebispo em Newark (Nova Jersey) e Washington D.C. e em 2001 foi elevado ao posto de cardeal pelo Papa João Paulo II, era um dos clérigos mais proeminentes da Igreja Católica e estava encarregado de arrecadar fundos para o Vaticano, cativando famosos, doadores e presidentes dos Estados Unidos.
Em 2018, renunciou ao seu ministério quando foi acusado de abusar de uma série de sacerdotes e jovens seminaristas durante décadas.
O Vaticano anunciou em 2019 que o Papa Francisco havia expulsado o arcebispo do sacerdócio depois que o julgamento canônico o considerou culpado de abusar sexualmente de menores.
Cartas Revelaram Como Cardeal “Preparava” Suas Vítimas de Abuso Sexual
À primeira vista, os cartões postais e cartas escritas à mão parecem inocentes, até calorosos. São assinados como “Tio T” ou “Seu tio, Padre Ted”.
Mas a correspondência que o Cardeal Theodore McCarrick escreveu a jovens que o acusam de abuso sexual ou assédio oferece um olhar sobre as formas como um predador prepara sua presa, segundo dois especialistas em prevenção de abusos que analisaram as cartas para a Associated Press em 2019. Cheias de elogios, familiaridade e ostentação de seu poder, as cartas revelam como um bispo viajante fazia com que jovens vulneráveis se sentissem especiais, para depois se aproveitar deles.
A agência AP publicou as cartas que McCarrick escreveu a três jovens na véspera da divulgação do relatório do Vaticano sobre quem sabia o quê e quando soube em relação aos esforços do prelado para se deitar com futuros sacerdotes. O acesso a um arcebispo por jovens que querem ser padres “é um elemento chave no processo”, disse a especialista Monica Applewhite.
O Papa Francisco expulsou do sacerdócio McCarrick, de 89 anos, em fevereiro de 2019, depois que uma investigação da igreja determinou que ele havia abusado sexualmente de seminaristas, tanto adultos quanto menores de idade.
O caso afetou a credibilidade da hierarquia católica, dado que as ações de McCarrick foram denunciadas a pilares da igreja nos Estados Unidos e no Vaticano, não obstante McCarrick continuou sendo um influente cardeal até sua queda em desgraça.
O testemunho de James Grein, de 61 anos e o primeiro bebê que McCarrick batizou, foi um elemento chave da investigação do Vaticano. Filho de amigos da família, Grein disse que McCarrick começou a abusar sexualmente dele quando tinha 11 anos, inclusive durante a confissão e em casamentos e outras celebrações.
Em uma entrevista à AP, Grein disse que o carinho que sua família tinha por McCarrick o obrigava em certa medida a passar tempo com McCarrick nos fins de semana, quando não estava no internato onde estudava, e que durante essas visitas o religioso abusava dele.
“Se eu não fosse ver Theodore, meus irmãos, minhas irmãs ou meu pai sempre me perguntavam: ‘por que você não foi vê-lo?’”, disse Grein.
Essa dinâmica familiar se reflete nos cartões postais que McCarrick enviava a Grein. Cartas sem selo postal que eram incluídas nas cartas que McCarrick enviava a seu pai.
“Está chegando a hora da sua visita ao leste”, escreveu McCarrick a Grein quando ele estava no internato Woodside Priory School, na Califórnia, no final da década de 1970. “Ligarei para sua casa um desses dias para ver o que combinaram.” Assinava: “Amo muito vocês, seu tio, Padre Ted”.
Ex-seminaristas relataram como McCarrick convidava grupos de jovens para excursões de pesca de fim de semana ou para sua casa na praia, sempre convidando um a mais, o que obrigava um a dormir em sua cama.
McCarrick negou ter tido relações sexuais com ninguém, mas admitiu que “uma infeliz falta de critério” o levou a compartilhar sua cama com outros homens, segundo um e-mail enviado em 2008 ao Vaticano.
