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Em seu primeiro encontro com a imprensa internacional no Vaticano, o Papa Leão XIV pediu nesta segunda-feira (13) a libertação de jornalistas presos em todo o mundo. “Permitam-me reiterar a solidariedade da Igreja com os jornalistas presos por terem buscado e contado a verdade, e pedir sua libertação”, declarou o segundo pontífice das Américas após Francisco.
Leão XIV realizou sua primeira audiência com a imprensa credenciada no Vaticano, um encontro programado na Sala Paulo VI. Foi o primeiro contato formal do novo pontífice com os meios de comunicação desde sua eleição em 8 de maio. Ele aproveitou a ocasião para pedir aos meios de comunicação que escolham “com consciência e coragem o caminho de uma comunicação de paz”, e considerou: “Desarmemos as palavras e ajudaremos a desarmar a Terra”.
O papa americano também afirmou que “vivemos tempos difíceis de navegar e contar, que representam um desafio para todos nós e do qual não devemos escapar”. E pediu que “nunca nos rendamos à mediocridade”. Leão recebeu uma ovação de pé ao entrar no auditório do Vaticano para seu primeiro encontro com representantes do público. O pontífice afirmou, em tom de brincadeira, que os aplausos iniciais “não significam muito”, mas que agradeceria que estivessem “ainda acordados” para aplaudir no final.
Em seu discurso posterior, Leão XIV instou os jornalistas a contribuírem para pôr fim à polarizadora “guerra de palavras”, composta de ataques partidários e ideológicos, e a não darem espaço ao fanatismo e ao ódio. Ele acrescentou que a inteligência artificial deve ser usada com “responsabilidade e discernimento”.
O missionário agostiniano de 69 anos, eleito em um conclave de 24 horas na semana passada, pediu aos jornalistas que usassem palavras pela paz, rejeitassem a guerra e dessem voz a quem não a tem. Expressou sua solidariedade com os jornalistas de todo o mundo que foram presos por tentar buscar e divulgar a verdade. Entre aplausos da multidão, pediu sua libertação. “A Igreja reconhece nesses testemunhos — penso em quem informa sobre a guerra, mesmo à custa de suas vidas — a coragem de quem defende a dignidade, a justiça e o direito das pessoas de serem informadas, porque só as pessoas informadas podem tomar decisões livres”, afirmou. “O sofrimento desses jornalistas presos interpela a consciência das nações e da comunidade internacional, e nos insta a todos a salvaguardar o precioso dom da liberdade de expressão e de imprensa.”
O ato ocorreu um dia depois que o novo papa, nascido Robert Francis Prevost, lançou sua primeira grande mensagem internacional da varanda da Praça de São Pedro. Diante de uma multidão de fiéis, Leão XIV exclamou: “Nunca mais a guerra!”, aludindo aos atuais confrontos na Ucrânia e em Gaza. No âmbito do 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, advertiu sobre o risco de um novo conflito global e pediu para evitar o que chamou de “cenário dramático” para a humanidade.
Prevost, de 69 anos, é o primeiro papa com raízes americanas e peruanas, e o segundo pontífice originário do continente americano, após Francisco. Agostiniano de formação, desenvolveu boa parte de sua vida pastoral como missionário em zonas rurais do Peru, experiência que definiu seu perfil e sua sensibilidade social.
“Estou aqui para agradecer ao papa por tudo o que fez pelo Peru, pelos povos esquecidos, pelos povos originários do Peru”, declarou à AFP Alejandrina Espinosa, uma mulher quéchua que participou da oração dominical levando uma bandeira Wiphala.
No sábado, em sua primeira reunião com o Colégio Cardinalício, Leão XIV explicou o motivo por trás de seu nome papal: uma homenagem a Leão XIII (1878–1903), autor da encíclica Rerum Novarum, e figura chave no desenvolvimento da doutrina social da Igreja. “Hoje a Igreja oferece a todos seu patrimônio de doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial”, disse o novo pontífice. A seu ver, esses avanços “comportam novos desafios na defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”.
A eleição de Leão XIV ocorre em um momento de fragmentação dentro da Igreja Católica, com temas urgentes como a crise de vocações, os casos de abusos sexuais e a discussão sobre o papel das mulheres nas estruturas de decisão. “Acredito que será um bom papa e que tem muitas coisas pela frente para analisar, como a inteligência artificial e a guerra na Ucrânia”, opinou a advogada costarriquenha Paola Colombo, de 42 anos.
A agenda do novo pontífice continua esta semana com a recepção ao corpo diplomático credenciado junto à Santa Sé, programada para sexta-feira. Além disso, no próximo dia 18 de maio, ocorrerá a missa de inauguração oficial do pontificado, onde Leão XIV receberá os símbolos do poder papal, incluindo o pálio e o anel do pescador, que no passado era usado para selar documentos oficiais do Vaticano.
Ao contrário de seu antecessor, cujo estilo direto gerou desconforto em certos círculos políticos, Leão XIV é visto como um líder mais sereno e diplomático. Analistas vaticanos apontam que ele pode ter maior margem para avançar em temas sensíveis sem gerar resistências imediatas. Sua dupla identidade cultural e pastoral, combinada com a experiência na América Latina e no governo de Francisco, o posiciona como uma ponte potencial entre tradição e reforma no seio da Igreja.
À medida que se aproxima sua missa solene de 18 de maio, os fiéis e observadores internacionais prestam atenção aos primeiros passos de Leão XIV, que parece decidido a assumir com serenidade os desafios do século XXI e a projetar uma Igreja comprometida com a justiça, a paz e a dignidade humana em tempos de incerteza global.
