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Turki al-Jasser, jornalista da Arábia Saudita, foi executado na última quarta-feira (18) acusado de “alta traição” por publicar, há 11 anos, mensagens contra o governo em sua conta no Twitter — atualmente conhecida como X. Ele é o primeiro comunicador de alto perfil executado desde o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018.
Em um post feito em 2014, al-Jasser escreveu uma frase que soou como uma premonição: “O escritor árabe pode ser assassinado facilmente pelo seu governo sob o pretexto de ‘segurança nacional’”.
Segundo o Ministério do Interior saudita, a execução ocorreu após sete anos de prisão. Dissidentes que conversaram com o jornal britânico The Guardian relataram que ele sofreu tortura durante o cárcere.
Al-Jasser, que tinha cerca de 40 anos, foi condenado por “alta traição ao se comunicar e conspirar contra a segurança do Reino com indivíduos externos”. Na Arábia Saudita, esse tipo de sentença costuma ser cumprido por decapitação com espada.
Ele foi identificado em 2018 como o responsável por uma conhecida conta anônima no Twitter, onde denunciava casos de corrupção e abusos de direitos humanos cometidos pela família real saudita. Além disso, fundou o blog Al-Mashhad Al-Saudi (“A Cena Saudita”), que abordava temas como os direitos das mulheres, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras.
Sua atuação nas redes sociais resultou na sua prisão em meio a uma ofensiva do governo contra a dissidência.
Abdullah Alaoudh, diretor sênior de combate ao autoritarismo do Centro para a Democracia no Oriente Médio, comentou: “Turki tinha duas contas no Twitter. Enquanto usava seu nome real em uma, na outra era ainda mais satírico e crítico, o que o colocou na mira do governo saudita”.
O governo saudita conseguiu acesso a identidades e endereços IP de milhares de contas anônimas após uma infiltração no Twitter entre 2014 e 2015. O Departamento de Justiça dos EUA acusou dois ex-funcionários da rede social e um cidadão saudita por vazamento dessas informações ao Reino. Ahmad Abouammo, um dos envolvidos, foi condenado por fraude, conspiração e por atuar como agente estrangeiro em favor da família real.
Casos similares de repressão incluem o de Abdulrahman al-Sadhan, condenado a 20 anos de prisão e vítima de tortura. Sua irmã, Areej al-Sadhan, contou à CBS News: “Quebraram a mão dele, destruíram os dedos dizendo: ‘Essa é a mão com a qual você tuíta’”.
De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, Turki al-Jasser é o primeiro jornalista executado sob o governo do príncipe Mohammed bin Salman e o segundo no mundo desde a execução do diretor do Amadnews, Ruhollah Zam, no Irã, em 2020.
Em 2023, Mohammed bin Salman defendeu as sentenças de morte por publicações nas redes sociais em entrevista à Fox News: “Temos leis ruins? Sim. Estamos mudando? Sim”.
Especialistas apontam que o príncipe herdeiro e o rei têm o poder de aprovar ou interromper qualquer execução.
Para Sarah Leah Whitson, diretora do grupo pró-democracia Dawn, fundado por Khashoggi, “com a execução de Jasser, Mohammed bin Salman mostrou mais uma vez que continua sendo um tirano vingativo. Ele instrumentalizou o sistema judicial para punir um crítico exclusivamente por seus comentários nas redes sociais, usando a lei antiterrorista saudita”.
