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O cardeal Baltazar Porras não conseguiu se deslocar até Isnotú, no estado de Trujillo, oeste da Venezuela, cidade natal de José Gregório Hernández — o primeiro santo venezuelano —, onde iria presidir uma missa em homenagem ao “médico dos pobres”, em celebração ao seu aniversário e uma semana após a canonização.
Em comunicado, a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) manifestou solidariedade ao cardeal e lamentou “profundamente” os incidentes que impediram sua viagem. A CEV destacou o papel fundamental de Porras nos processos que levaram à canonização de São José Gregório Hernández e da madre Carmen Rendiles, ressaltando que seu compromisso foi essencial para o reconhecimento da santidade desses venezuelanos pela Igreja universal.
A entidade fez ainda um “urgente e reiterado chamado” para que símbolos da fé, devoção popular e figuras de santos não sejam utilizados com fins proselitistas ou partidários, afirmando que tal prática “empana a profunda alegria e a autêntica fé” do povo venezuelano.
No sábado, o cardeal relatou que diversas situações impediram sua chegada a Isnotú. Inicialmente, ele recebeu um aviso falso de que seu voo para Trujillo, com a companhia estatal Conviasa, havia sido cancelado. Mesmo assim, seguiu viagem de forma privada, mas, já em voo, os pilotos foram informados de que o aeroporto estava fechado devido a “ventos muito fortes”, obrigando o pouso no estado vizinho de Lara.
Lá, Porras e sua comitiva ficaram “rodeados por militares armados” e não puderam seguir por via terrestre até Isnotú. O cardeal ainda afirmou ter recebido informações de que o aeroporto de Trujillo não estava, de fato, fechado, já que outros voos continuavam chegando.
Em vídeo, Porras declarou que “essa não é a forma de celebrar o exemplo de José Gregório” e classificou a situação como “um atropelo”.
O episódio também gerou críticas de opositores da ditadura, como a líder antichavista e prêmio Nobel da Paz, María Corina Machado, que denunciou nas redes sociais a escalada da repressão contra o cardeal.
Na segunda-feira, o ditador Nicolás Maduro atacou Porras em um ato transmitido de Caracas, acusando-o sem apresentar provas de ter conspirado para impedir a canonização de Hernández. O líder chavista afirmou que a santificação foi alcançada “apesar de Porras e de sua cofraria”, e destacou que teria apresentado pessoalmente a causa do santo ao papa Francisco, atribuindo-se o papel decisivo no processo.
As declarações de Maduro ocorreram pouco depois de Porras criticar a situação nacional em discurso na Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, classificando-a como “moralmente inaceitável” devido à restrição de liberdades civis, ao aumento da pobreza e à crescente militarização do regime. O cardeal também pediu a libertação de presos políticos e a restauração da autonomia dos poderes públicos, reforçando a histórica divisão entre o chavismo e a Igreja na Venezuela.