A Ucrânia lutará para recuperar todo o seu território ocupado pelas forças russas, disse o presidente Volodymyr Zelensky nesta terça-feira, enquanto suas tropas lutam para manter seu terreno em sangrentos combates de rua a rua no cidade de Sievierodonetsk.
“Já perdemos muitas pessoas para simplesmente ceder nosso território”, disse Zelensky por videoconferência em um evento organizado pelo jornal britânico Financial Times. “Temos que conseguir uma desocupação total de todo o nosso território.”
Os comentários de Zelensky responderam vigorosamente às sugestões de que a Ucrânia deve ceder território à Rússia para acabar com a guerra, agora em seu quarto mês.
O presidente francês, Emmanuel Macron, disse em uma entrevista recente que é importante não “humilhar” Moscou, comentários interpretados na Ucrânia como implicando que ela deve aceitar algumas exigências russas.
Questionado sobre os comentários de Macron, Zelensky disse: “Não vamos humilhar ninguém, vamos responder na mesma moeda”.
Enquanto ele falava, as tropas ucranianas nas ruínas de Sievierodonetsk tentavam se agarrar às conquistas que Kyiv disse que suas forças haviam feito em uma contra-ofensiva surpresa que mudou o ímpeto lá na semana passada.
O governador da região de Luhansk, Serhiy Gaidai, disse que os defensores estão achando difícil repelir os ataques russos no centro de Sievierodonetsk, uma pequena cidade industrial no leste.
“Os russos estão tentando com todas as suas forças capturar Sievierodonetsk e cortar a estrada de Lysychansk a Bakhmut”, disse ele em um post online. “No centro regional é difícil evitar os ataques, mas os ocupantes não controlam a cidade.”
Moscou disse que suas tropas estão avançando. A Reuters não pôde verificar independentemente a situação no terreno.
SOB BOMBARDAMENTO
A luta por Sievierodonetsk emergiu como uma batalha crucial, com a Rússia concentrando seu poder ofensivo na esperança de alcançar um de seus objetivos declarados – capturar totalmente a província vizinha de Luhansk em nome de representantes separatistas.
Autoridades ucranianas disseram que suas forças realizaram um contra-ataque surpresa na semana passada, expulsando os russos de uma faixa do centro da cidade.
Antes disso, a Rússia parecia prestes a cercar a guarnição da Ucrânia em Luhansk, tentando cortar a estrada principal para Sievierodonetsk e sua cidade gêmea Lysychansk, através do rio Siverskiy Donets.
Gaidai disse em seu post que Lysychansk estava sob constante bombardeio.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro dizendo que pretendia “desarmar” e “desnazificar” o país. A Ucrânia e seus apoiadores ocidentais dizem que a Rússia lançou uma guerra não provocada para conquistar território.
As tropas da Rússia foram derrotadas nos arredores da capital Kyiv em março e desde então se reagrupou e intensificou um ataque ao leste, exigindo que Kyiv reconheça sua reivindicação territorial à península da Crimeia que Moscou anexou em 2014, e as reivindicações de seus representantes separatistas em Luhansk e Donetsk, as províncias do sudeste conhecidas como Donbass.
A Rússia vem pressionando de três direções principais – leste, norte e sul – para tentar cercar os ucranianos no Donbass.
Em Druzhkivka, no bolsão ucraniano da província de Donetsk, moradores vasculhavam os destroços de casas destruídas pelo último bombardeio.
Nadezhda pegou um álbum de fotos infantil cor-de-rosa e um caderno de exercícios do jardim de infância das ruínas de sua casa e os colocou em uma prateleira de alguma forma ainda de pé nos escombros.
“Não sei nem por onde começar. Estou aqui olhando, mas não tenho ideia do que fazer. Começo a chorar, me acalmo, depois choro de novo.”
‘HORA DE PARTIR’
O governador regional de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, disse à televisão ucraniana que havia bombardeios constantes ao longo da linha de frente, com a Rússia tentando avançar em direção a Sloviansk e Kramatorsk, as duas maiores cidades ucranianas em Donetsk.
Esforços estavam em andamento para evacuar os moradores restantes, disse ele: “As pessoas agora estão entendendo, embora seja tarde, que é hora de sair”.
A segunda cidade da Ucrânia, Kharkiv, também foi atingida por bombardeios na terça-feira, e o prefeito local disse que uma pessoa foi morta. A cidade do nordeste sofreu intenso bombardeio nos primeiros dois meses da guerra, mas ficou mais silenciosa nas últimas semanas depois que as forças russas recuaram na região.
Viacheslav Shulga, funcionário de uma pizzaria no norte de Kharkiv que foi atingida, disse que havia esperanças de que o restaurante pudesse reabrir logo após fechar no início da guerra.
“Está tudo destruído. Estamos retirando os equipamentos, não haverá negócios aqui por enquanto”, disse. “É triste que tanto esforço tenha sido investido nisso. Mas outra pessoa decidiu nosso destino.”
ARMAZÉNS DESTRUÍDOS
A Ucrânia é um dos maiores exportadores de grãos do mundo, e os países ocidentais acusam a Rússia de criar o risco de fome global ao fechar os portos ucranianos do Mar Negro.
O governador da região que inclui o porto de Mykolaiv disse que o bombardeio do fim de semana destruiu armazéns em um dos maiores terminais de commodities agrícolas do país.
Moscou nega a responsabilidade pela crise alimentar internacional, culpando as sanções ocidentais.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, disse que os portos ucranianos de Berdyansk e Mariupol, ocupados pela Rússia, estão prontos para retomar as exportações de grãos. A Ucrânia diz que qualquer carregamento desse tipo do território apreendido por Moscou equivaleria a saques ilegais.
Zelensky disse que Kyiv está recebendo gradualmente “sistemas anti-navio específicos”, a melhor maneira de romper o bloqueio russo aos portos ucranianos.
O Kremlin disse que para que as exportações sejam retomadas dos portos ucranianos, Kyiv deve primeiro limpá-los de minas. A Rússia poderia então inspecionar e escoltar navios para águas internacionais, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
*Com informações de Reuters
