Nesta segunda-feira (20), a Rússia formalizou um protesto por conta do bloqueio parcial da Lituânia ao trânsito de mercadorias para o enclave russo de Kaliningrado e exigiu à representante diplomática de Vilnius em Moscou o levantamento imediato da medida.
“Exigimos um levantamento imediato destas restrições”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros numa declaração citada pela agência espanhola EFE.
Desde sábado, autoridades lituanas restringiram o trânsito ferroviário através do seu território para Kaliningrado no âmbito das sanções impostas pela União Europeia (UE) à Rússia por ter invadido a Ucrânia.
Kaliningrado é um enclave junto ao Mar Báltico separado do resto da Rússia e faz fronteira com a Lituânia e a Polónia, dois países da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
A encarregada de negócios da Lituânia em Moscou, Virginia Umbrasene, foi chamada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo para lhe ser formalizado o protesto e comunicada a exigência do fim imediato da medida.
A Rússia lamentou que a Lituânia tivesse decidido proibir o “trânsito ferroviário de uma vasta gama de mercadorias para a região de Kaliningrado sem aviso prévio”. O Governo russo disse à diplomata lituana que considera a decisão com uma “medida provocatória” e “abertamente hostil”, de acordo com comunicado divulgado.
O país recordou também a Umbrasene que o bloqueio viola as obrigações internacionais da Lituânia, em particular a Declaração Conjunta UE-Rússia de 2002 sobre o trânsito entre o território russo e Kaliningrado.
“Se o trânsito de mercadorias entre Kaliningrado e o resto do território da Federação Russa através da Lituânia não for totalmente restabelecido em breve, então a Rússia reserva-se o direito de tomar medidas em defesa dos seus interesses nacionais”, disse o ministério russo.
Anteriormente, o porta-voz do Kremlin (Presidência), Dmitri Peskov, disse que a decisão da Lituânia era ilegal e avisou que Moscovo estava a considerar uma resposta. “Trata-se de uma decisão sem precedentes, uma violação total. Compreendemos que isto está ligado à correspondente decisão da União Europeia de alargar as sanções ao trânsito [de mercadorias). Consideramos isto ilegal”, disse Peskov.
O governador de Kaliningrado, Anton Alikhanov, disse que a medida afeta 40% a 50% do total das importações do território. Alikhanov admitiu que as autoridades lituanas informaram o Serviço Ferroviário de Kaliningrado da sua decisão, que entrou oficialmente em vigor à meia-noite de sábado.
Por sua vez, a Lituânia reafirmou hoje que as limitações ao trânsito de mercadorias para o enclave russo de Kaliningrado decorrem das sanções da União Europeia (UE), numa reação às acusações de Moscovo de ações hostis.
“Esta não é uma decisão da Lituânia. Trata-se de sanções europeias que entraram em vigor a 17 de junho, e os caminhos-de-ferro estão agora a aplicar as sanções”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros lituano, Gabrielius Landsbergis, no Luxemburgo.
Segundo Landsbergis, os serviços ferroviários lituanos informaram os clientes que os bens de aço e metais ferrosos sancionados pela UE “deixarão de ser autorizados a transitar pela Lituânia”, no âmbito das sanções contra a Rússia por ter invadido a Ucrânia, em 24 de fevereiro.
“Isto está a ser feito em consulta com a Comissão Europeia e em conformidade com as diretrizes da Comissão Europeia”, insistiu Landsbergis, que participa numa reunião dos chefes da diplomacia da UE no Luxemburgo, citado pela agência francesa AFP.
A UE e vários países, como os Estados Unidos, o Reino Unido ou o Japão têm decretado sucessivos pacotes de sanções contra a Rússia por ter invadido a Ucrânia.
Os aliados ocidentais também têm fornecido armamento às forças ucranianas para combaterem as forças russas.
Portugal mantém 146 fuzileiros na Lituânia integrados numa força da NATO para garantir segurança às populações face a uma potencial agressão.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, insurgiu-se contra a reação de Moscovo, afirmando que “a Rússia não tem o direito de ameaçar a Lituânia”.
“Saudamos a posição de princípio da Lituânia e apoiamos fortemente os nossos amigos lituanos”, acrescentou Kuleba na rede social Twitter, segundo a AFP.
Russia has no right to threaten Lithuania. Moscow has only itself to blame for the consequences of its unprovoked and unjustified invasion of Ukraine. We commend Lithuania’s principled stance and stand firmly by our Lithuanian friends. @GLandsbergis
— Dmytro Kuleba (@DmytroKuleba) June 20, 2022