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Um grupo de cientistas do Reino Unido está pedindo o banimento do bacon e presunto industrializados após estudos relacionarem os conservantes utilizados nesses produtos a mais de 50 mil casos de câncer de intestino no país.
A coalizão alerta que a recusa em proibir os nitritos — aditivos usados para manter as carnes processadas rosadas e com maior durabilidade — tem gerado um impacto humano e financeiro devastador. Estima-se que o Sistema Nacional de Saúde (NHS) tenha desembolsado cerca de £3 bilhões na última década para tratar cânceres que poderiam ser prevenidos.
Segundo a análise dos pesquisadores, baseada em dados do Cancer Research UK e do British Journal of Cancer, cerca de 5.400 casos de câncer de intestino por ano no Reino Unido estão associados ao consumo de carnes processadas. O custo médio de tratamento por paciente é de £59 mil.
A preocupação surge exatamente dez anos após a Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), classificar as carnes processadas como carcinógeno do Grupo 1, colocando-as na mesma categoria de risco que tabaco e amianto.
Apesar do alerta, ministros britânicos “quase não fizeram nada” para reduzir a exposição da população, segundo o professor Chris Elliott, fundador do Institute for Global Food Security e ex-conselheiro do governo.
“Uma década após o relatório da OMS, o governo do Reino Unido praticamente não tomou medidas para reduzir a exposição aos nitritos — agentes que tornam esses produtos rosados e duradouros, mas que também formam nitrosaminas, compostos conhecidos por causar câncer. Cada ano de atraso significa mais casos preveníveis, mais famílias afetadas e maior pressão sobre o NHS”, afirmou Elliott.
Riscos e evidências científicas
O relatório original da OMS, publicado em 2015, analisou dados de mais de 800 estudos e concluiu que para cada 50g de carne processada consumida diariamente, o risco de câncer colorretal aumenta em 18%.
O problema está na combinação de nitratos e métodos de processamento de carnes como bacon, presunto e salsicha, que gera compostos carcinogênicos ao serem consumidos. Estima-se que até 90% do bacon vendido no Reino Unido contenha nitritos, que também foram associados a câncer de mama e próstata.
O professor Robert Turesky, da Universidade de Minnesota, que contribuiu para o relatório da OMS, reforçou:
“Quando o relatório foi publicado, a evidência que ligava carnes processadas ao câncer já era forte. Uma década depois, é ainda mais robusta, e muitos casos preveníveis provavelmente ocorreram. A evidência agora exige ação em saúde pública.”
Pedidos de ação imediata
Em carta ao secretário de Saúde britânico Wes Streeting, a coalizão pede a proibição de nitritos em carnes processadas e a implementação de avisos claros na embalagem destacando o risco de câncer.
O grupo também defende um plano de longo prazo para eliminar o uso de nitritos em todos os produtos processados, com regulamentações que garantam cumprimento e apoio financeiro a pequenos produtores para a transição para alternativas seguras.
Embora já existam versões de bacon e presunto livres de nitritos — muitas vendidas como “naked bacon” —, elas representam apenas 5% a 10% do mercado, enquanto a maior parte das carnes industrializadas vendidas em supermercados contém nitratos.
A coalizão também enviou carta à Comissão Europeia de Saúde e Segurança Alimentar, pedindo medidas semelhantes, reconhecendo que a União Europeia já iniciou a redução dos níveis permitidos de nitrito.
Orientações de consumo e prevenção
Atualmente, o NHS recomenda limitar o consumo de carnes processadas a 70g por dia, o equivalente a duas fatias de bacon. Já o World Cancer Research Fund e o American Institute for Cancer Research sugerem ingerir quantidades mínimas ou nenhuma.
O câncer de intestino é o quarto mais comum no Reino Unido, com cerca de 44 mil novos casos ao ano, e 142 mil nos Estados Unidos. Entre os sintomas estão alterações no hábito intestinal, sangue nas fezes, dor abdominal, inchaço, perda de peso inesperada e fadiga.
A ativista Dame Deborah James, conhecida como Bowelbabe, arrecadou mais de £11,3 milhões para o Cancer Research UK e foi reconhecida por aumentar a conscientização sobre a doença antes de falecer em 2022, aos 40 anos.
Uma análise global recente, envolvendo 42 países, revelou que o câncer de cólon — que matou Dame Deborah — é o único câncer que vem aumentando exclusivamente entre pessoas com menos de 50 anos. Na Inglaterra, os diagnósticos entre 25 e 49 anos subiram mais de 50% desde os anos 1990.
Segundo o Cancer Research UK, mais da metade (54%) dos casos de câncer de intestino no Reino Unido são preveníveis.