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De acordo com informações divulgadas pelo Jornal Nacional, pesquisadores da USP e da Unicamp identificaram a presença de nitazeno em drogas sintéticas, conhecidas como drogas K, vendidas em São Paulo. A substância tem um efeito devastador nos usuários.
O mesmo grupo já havia detectado o fentanil, um potente anestésico. Maurício Yonamine, professor de toxicologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, afirmou que o fentanil é 50 vezes mais forte que a heroína.
“Esses nitazenos são cerca de 10 a 20 vezes mais potentes do que o fentanil, então, o que a gente tem é uma droga com potencial de causar dependência muito grande e potencial de causar fatalidades também muito grande”, explicou Yonamine.
Até 2020, a quantidade de drogas K apreendidas pela polícia civil do estado não ultrapassava alguns gramas. Em 2021, esse número saltou para cerca de 5 quilos, em 2022 foram 51 quilos, e em 2023, 157 quilos.
Nos Estados Unidos e na Europa, a droga mais forte que o fentanil e com alto risco de overdose é motivo de crescente preocupação.
Thiago Marques Fidalgo, professor de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explicou que esse tipo de entorpecente pode levar a transtornos mentais em pessoas predispostas.
“Podem ser o gatilho para o início de um quadro de esquizofrenia, de transtorno bipolar. Ela tem dentre os seus impactos, esse efeito de causar aumento da adrenalina no corpo, que vai gerar reações de luta ou fuga. Então a gente vai ficar preparado para lutar ou fugir. E isso inclui, por exemplo, uma tensão muscular, essa coisa de ficar mais travado, pilhado, pronto para ter uma reação mais agressiva, se necessário”, disse Fidalgo.
### Origem do Nitazeno
O nitazeno foi desenvolvido na década de 1950 em pesquisas farmacêuticas, mas nunca foi aprovado para uso médico devido à sua alta potência. Pouco se sabe sobre seus efeitos.
“O nitazeno foi sintetizado para ser medicamento, mas nunca foi utilizado para tal. De tal forma que a gente não sabe, pois nunca foi utilizado para humanos em uma quantidade grande. A gente não tem essa informação”, explicou Yonamine.
O que se sabe sobre a substância vem de depoimentos de usuários. “Tira minha vontade de me movimentar, minha vontade de comer. Nem me olhar no espelho eu consigo mais. Não tem nada, nem amor próprio mais. O vício me tirou tudo: a vontade de viver, a vontade de sonhar. Novamente, tirou tudo”, relatou um usuário em entrevista ao Jornal Nacional.
O Departamento de Narcóticos do estado de São Paulo afirmou que as drogas K são manipuladas principalmente em países asiáticos e europeus e que, muito provavelmente, o nitazeno já vem adicionado nesses entorpecentes.
A Secretaria Estadual da Saúde informou que possui um centro especializado em tratar pessoas com problemas relacionados ao uso de crack e outras drogas. Segundo a pasta, a unidade funciona 24 horas por dia e os dependentes químicos passam por triagem e avaliação médica, podendo ser internados ou encaminhados para outros serviços de saúde, se necessário.
### Efeitos da Droga no Organismo
De acordo com a Deutsche Welle, o nitazeno interage com vários receptores de opioides no cérebro e no sistema nervoso.
Em um alerta do governo britânico, um desses receptores foi descrito como um “mediador principal” no cérebro que influencia funções positivas e terapêuticas, como o alívio da dor e o sistema de recompensa, causando uma sensação de euforia.
Uma análise de 2022 sobre o funcionamento de um dos receptores no cérebro concluiu que “tanto os efeitos terapêuticos quanto os indesejados dos opioides são exercidos por meio de sua conexão” com esses receptores. Os efeitos indesejados incluem dependência, vício, tolerância e sintomas de abstinência.
É difícil afirmar concretamente o grau de dependência das substâncias ilícitas, incluindo o nitazeno, pois são raros os casos em que se pode determinar esse teor de maneira isolada.
Há uma variedade de fatores biológicos, psicológicos e sociais que influenciam as desordens causadas pelo uso da substância, incluindo a dependência, e como um indivíduo é afetado por ela.
