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Faz mais de duas décadas que o menino magrinho, de traços mestiços e inusitados olhos claros, deixou a comunidade rural de Umbuzeiro: ele passara os treze primeiros anos de sua vida ajudando o pai na roça, percorrendo muitos quilômetros de estrada de chão para chegar à escola e tendo, à noite, apenas a luz de candeeiros a iluminar-lhe os sonhos.
Do pequeno time da cidade, logo chegaria aos profissionais do Esporte Clube Bahia, onde ficaria pouco tempo: alguém apareceu trazendo uma proposta para que se mudasse para Sevilla.
Ele não sabia onde ficava Sevilla, mas sabia que o nome daquela cidade também era o nome de um time que toda hora enfrentava o Barcelona e o Real Madrid.
E ele foi.
Comeu o pão que o diabo amassou, ele conta.
As enormes diferenças físicas entre o menino criado no sertão do Nordeste brasileiro e os profissionais da equipe europeia pesaram muito. O idioma que ele não conhecia, a saudade de casa e da família também.
Ele quase desistiu.
Mas acabou ficando e ajudando o time a subir de patamar nos anos seguintes. Tanto que despertou o interesse do gigante catalão – e foi assim que, entre o final da década passada e a primeira metade desta, integrou uma das mais espetaculares máquinas de jogar futebol de toda a história.
Pelo Barcelona, ganhou tudo.
O menino da roça ficou milionário e planetariamente famoso. Expansivo, debochado, tornou-se um happening ambulante, com suas roupas extravagantes e suas entrevistas bem- humoradas. Não tinha mais saudade de casa porque o mundo tornou-se sua casa. Esqueceu-se que um dia pensou em desistir. Tratorou as adversidades. Porque é um sertanejo e, em sendo um sertanejo, é antes de tudo um forte – e isso todo mundo sabe. Tanto é que, no dia em que, na tentativa estúpida de ofendê-lo, alguém atirou uma banana em sua direção, ele literalmente comeu a ofensa.
Daniel Alves é o maior campeão da história do futebol e agora voltará a jogar nos campos brasileiros. Retorna a um país que tenta se reconstruir, em meio a um clima belicoso, em que os espíritos estão permanentemente armados, cheios de mágoas e animosidades.
E poderá nos fazer um bem imenso.
Porque é a antítese do mimimi. Porque é a prova de que a soma do talento com a perseverança resultam em êxito. Porque nem precisaria mais jogar futebol, mas o fará porque gosta de seu ofício. Porque já ganhou muito, mas quer ganhar mais.
Porque é vencedor – e nós precisamos de nossos vencedores por perto, para que meninos e meninas neles se espelhem.
Que Daniel Alves seja bem vindo de volta.
Esta página é escrita por um corintiano que parabeniza o rival pela ousadia, pela coragem, pelo upgrade que promove em seu elenco – ao mesmo tempo em que agradece pelo acréscimo de alegria que colocará em nossos dias.