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A Polícia Federal (PF) apura até que ponto o Governo Federal participou ativamente da organização e do financiamento das manifestações previstas para ocorrer no dia 7 de setembro. A informação é da CNN Brasil.
Em dois depoimentos obtidos pelo jornal e que foram prestados à PF na sexta-feira passada, por alvos da operação deflagrada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, os delegados da PF questionam os motivos dos encontros dos envolvidos com integrantes do alto escalão do governo.
Em um deles, Marcos Antonio Pereira Gomes, caminhoneiro conhecido como ‘Zé Trovão’, é questionado sobre encontros que teve com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e com o ministro do Turismo, Gilson Machado, além de reuniões no Palácio do Planalto. Ele nega relação com os atos.
“Que ao ser perguntado sobre viagem para Brasília, no dia 9 de agosto, de Marcos Antônio Pereira. Gomes, juntamente com Turíbio Torres, Sergio Bavini (nome artístico Sergio Reis). Eduardo Araújo e Juliano da Silva Martin com que ficaram hospedados no hotel Golden Tulip, na qual houveram (sic) encontros com o assessor especial da Presidência da República Mozart Vianna, com o ministro do Turismo Gilson Machado, com os deputados federais Nelson Barbudo e Hélio Lopes e com o ministro Augusto Heleno, respondeu que o propósito dessa viagem era organizar o que iria acontecer em Brasília no dia 07/09/2021, e que tais encontros foram casuais: Que o declarante esteve no Palácio do Planalto em reunião para tratar de assunto afeto à classe dos caminhoneiros; Que não foi discutido o impeachment dos ministros do Supremo Tribunal Federal com essas autoridades; Que não se encontraram, casualmente, com outras autoridades, além daquelas citadas acima; Que não sabe quem financiou os gastos de deslocamento, hospedagem e alimentação desse grupo de pessoas em Brasília”
Os delegados também perguntam se ele sabe quem financia o movimento, e expõe que a conta PIX na qual os organizadores pedem que sejam feitas doações é da Coalizão Pró-Civilização Cristã.
“Que não tem conhecimento do valor arrecadado pelo movimento ‘7 de setembro’ até a presente data; Que não sabe a destinação dada aos valores arrecadados pelo movimento, com exceção de passagem aérea comprada em nome do declarante, que tinha origem em Curitiba e destino em Rondônia; Que não houve aporte de dinheiro público para os fins do movimento em questão; Que não sabe o motivo para a coleta de dinheiro de particulares para financiar o movimento ser transferido para uma chave PIX ligada à Coalizão Pró-Civilização Cristã; Que não sabe os nomes dos responsáveis pelo financiamento (confecção de cartazes, faixas, camisetas, transporte de populares, comunicação, gasolina, aluguel de cozinha comunitária c banheiros químicos etc.) do movimento que pretende destituir os ministros do Supremo Tribunal Federal;”
A PF expõe já ter mais detalhes sobre a organização dos atos e faz questionamentos nesse sentido aos depoentes. Tendo por base vídeos de Youtube, questiona sobre declarações de organizadores ligados a uma empresa de eventos localizada em um bairro na periferia de Brasília, chamado Recanto das Emas. E que haveria uma cozinha comunitária para os manifestantes no Rotary Clube de Brasília.
“Que ao ser perguntado sobre outro vídeo publicado no Youtube, no dia 17 de agosto, no qual Bruno Henrique Semczeszm diz que a concentração inicial dos apoiadores do seu movimento irá acontecer na sede do Parque Leão, uma empresa de eventos localizada no Recanto das Emas/DF, que tem como sócios Maria Marques Costa Leão e Stefânia Marques Leão Fernandes, o declarante respondeu que não conhece essas pessoas; Que não sabe quem foi o responsável por localizar e alugar esse espaço: Que não sabe qual foi o valor pago pelo aluguel, Que não sabe a conta que o valor ele foi ou seria depositado: Que a organização do evento em questão fez comunicação ao Governo do Distrito Federal a respeito da realização do evento, nos termos exigidos pela legislação local: Que ao ser perguntado sobre vídeo em que Bruno Henrique Semczeszm também diz que à cozinha comunitária do movimento seria instalada no Rotary Club de Brasília Internacional, presidido por Maria do Carmo Zinato, bem como sobre outro vídeo publicado no YouTube, no dia J2 de agosto que mostra o declarante nesse local, juntamente com Turibio Torres e Juliano Da Silva Martins, respondeu que os custos com deslocamento dos três até Brasília, foram arcados por doações, cujos doadores não sabe identificar; Que os custos, decorrentes da hospedagem desse grupo na capital federal também foram arcados com atores angariados por doação”
O delegado também questiona especificamente sobre a participação da deputada federal Carla Zambelli nos atos.
“Que ao ser perguntado sobre menção de que a deputada Carla Zambelli lidera um movimento ‘próprio’, mas que também está apoiando o movimento “7 de setembro”, respondeu que o tipo de apoio dado pela referida parlamentar é ideológico, já que a Deputada acredita que o movimento é democrático e respeita a Constituição; Que perguntado se a referida Deputada é favorável a destituição dos ministros do Supremo Tribunal Federal, respondeu que não, mas é favorável ao impeachment deles”
Tanto no depoimento de Zé Trovão, quanto em outro, dado também no sábado por Turíbio Torres, empresário que também foi alvo da operação de sexta-feira, a Aprosoja é citada como possível financiadora dos atos.
“Que perguntado se o declarante participou, no dia 12 de agosto de 2021, de uma reunião juntamente Marcos Antônio Pereira Gomes – ZE TROVÃO, Sergio Bavini (nome artístico Sergio Reis), Eduardo oliveria Araújo e o presidente da APROSOJA, Antônio Galvan, na sede dessa associação, em Brasília, respondeu o declarante que não participou da reunião, mas almoçou na sede da associação APROSOJA; Que perguntado sobre os assuntos tratados nessa reunião, o declarante informa que foi o apoio da APROSOJA apoiando o movimento “7 de setembro” com alimentos”, diz o documento referente ao depoimento de Turíbio Torres.
Procurado, o advogado Levi de Andrade, que representa os dois depoentes, disse que seus clientes participaram de reuniões em Brasília mas que os encontros com autoridades foram casuais.
No Planalto, ele esteve para tratar de assuntos relacionados a atividade profissional dos caminhoneiros, viu passar Heleno e tirou uma foto. Em outra ocasião, foram a um restaurante e encontraram um segurança do presidente Jair Bolsonaro e também conversaram. Disse ainda que nunca trataram com autoridades sobre o 7 de setembro. Ele diz ainda que nos depoimentos, quando instados a falar sobre o movimento, deixou clara de que se trata de algo “legítimo, popular e dentro das regras da Constituição Federal e que na manifestação não haverá qualquer tipo de violência mesmo porque a tradição na direita é fazer manifestações pacíficas” e que “a organização da manifestação segue firme com a pauta do pedido de impeachment de ministros do STF”.
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, disse: “Já estive com alguns caminhoneiros em encontros fortuitos. Jamais conversei sobre paralisações ou manifestações. Foram sempre conversas apolíticas e apartidárias mostrando a importância da categoria e o esforço de vários setores do governo em apoiá-los e atender suas demandas”.
O ministro do Turismo, Gilson Machado, informou que se encontrou com alguns dos organizadores de maneira casual enquanto almoçava em um restaurante em Brasília e atendeu aos pedidos deles para tirar fotos com eles.
A deputada federal Carla Zambelli informou que é divulgadora, e não organizadora das manifestações de 7 de setembro. E que participará das manifestações em São Paulo apenas. Afirmou ainda não ser segredo para ninguém que tem visão crítica de parte do Supremo Tribunal Federal.
Em resposta, o Rotary Clube de Brasília afirmou: “A área em questão pertence à Fundação de Rotarianos de Brasília, e não ao Rotary Club de Brasília Internacional. O clube chegou a ser procurado para alugar o espaço para ser a cozinha do movimento, e repassou a mensagem à fundação. No entanto, o pedido foi prontamente negado, pois o Rotary é uma instituição apolítica e nossos associados, independentemente de seus posicionamentos pessoais, não têm autorização para ceder áreas da instituição ou ligar o nome do Rotary de qualquer forma a movimentos políticos de qualquer espectro.Como o pedido de aluguel foi negado por nossas lideranças, não sabemos por qual razão a informação foi passada no vídeo como sendo um fato, pois considerávamos este um assunto encerrado e dessa forma, não mantemos qualquer vínculo ou apoio ao referido movimento.”
Procurada, a Aprosoja não se manifestou.