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No corredor dedicado aos brinquedos masculinos, surge o pedido, quase como uma súplica, enquanto o garoto puxa a barra da blusa de sua mãe: “Mãe, por favor, eu quero esse!”. Ele aponta para o fuzil de brinquedo, que vem acompanhado de um conjunto de dardos e uma faixa vermelha para conferir um visual à la Rambo. Daquelas armas que os garotos adoram segurar quando mergulham no mundo da imaginação, assumindo os papéis de mocinho ou vilão, enfrentando inimigos e seus canhões em histórias fantasiosas com heróis, princesas a serem resgatadas, dragões ou monstros espaciais.
O anseio pelos fuzis de assalto de brinquedo era quase unânime entre os meninos há duas décadas. No entanto, a atual geração de Enzos, criada por pais politicamente corretos nascidos entre 80 e 90, talvez não tenha acesso a brincadeiras tradicionalmente masculinas. Isso não se deve à falta de interesse desses meninos, uma vez que a propensão para esse tipo de atividade é natural ao universo masculino. No entanto, a tendência atual, influenciada pela agenda globalista, é reprimir características naturais em prol da sutil desconstrução de gênero. Os autoproclamados progressistas argumentam que isso contribuirá para a construção de um “mundo melhor”, no qual qualquer sinal de masculinidade é considerado tóxico e as mulheres são compelidas, desde a infância, a abandonar sua feminilidade para adotar uma postura de força e rebeldia masculina.
“Brinquedos bélicos têm uma existência muito significativa em todos os estudos realizados em pesquisas etnográficas sobre jogos tradicionais na infância, em diversos continentes e culturas”.
Carlos Neto, professor da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, em entrevista à Gazeta do Povo.
A mídia tradicional, principal aliada da agenda de desconstrução de gênero, foi a primeira a proclamar, há anos, a mentira de que armas estão sempre associadas à violência e, portanto, crianças jamais deveriam ser encorajadas a brincar com esse tipo de brinquedo. Meninos que brincam de polícia e ladrão? Deveriam ser proibidos! Com a insistência sistemática nessa narrativa falsa, surgiram os “especialistas” para validar o argumento de que garotos que brincam com violência podem se tornar homens violentos. Será?
Jogos envolvendo armas têm uma longa história. Estudos antropológicos evidenciam que, tanto em sociedades tribais quanto em nações desenvolvidas, e em diversas culturas, meninos sempre se envolveram em duelos imaginários entre o bem e o mal, enfrentando e derrotando adversários.
O Padre Paulo Ricardo, conhecido por defender valores conservadores, observou o problema e comentou em um de seus vídeos: “Hoje em dia estamos em um pacifismo terrível. Os meninos não podem ter mais um brinquedo que seja arma. Antigamente a gente brincava com espada, com metralhadora, pistola, fuzil. Brincadeira de menino era brincadeira de guerra! “Ah, não pode, porque o menino irá ficar violento!” Não! O que você tem que ensinar para o seu filho é que ele é um guerreiro do bem, ele deve estar lutando do lado do bem. Se você tira isso dos meninos, você está criando mocinhas covardes, e essa é a realidade dos meninos hoje em dia! Eles não são guerreiros, eles não estão aí para proteger a família deles.
O menino que luta com a espada ou a arma pensa em matar os ladrões e em fazer justiça. Você tem que olhar para o seu filho e olhar se ele está lutando do lado do bem ou do mal, do lado da justiça ou da injustiça, porque isso é simplesmente fantasia. Ele não irá crescer na violência se a fantasia de guerra que ele fazia era dentro da moralidade”.
A respeito desse assunto, conversei com Anaíde Lamendola, professora da rede estadual de Minas Gerais, de 37 anos. Anaíde possui experiência tanto no ensino infantil quanto fundamental, e atualmente leciona para adolescentes. Além disso, é mãe de dois filhos, incluindo um menino.
“Observei que essas brincadeiras [com armas de brinquedo] começaram a ajudar o meu filho a estruturar a ideia de defesa dos mais fracos e o combate ao mal“.
Fernanda Salles: Brincadeiras de luta ou de armas de brinquedo são importantes para o desenvolvimento dos meninos na infância?
Anaíde Lamendola: Sou uma observadora apaixonada pelo desenvolvimento infantil. Com um menino e uma menina em casa, tenho o privilégio de presenciar vários aspectos que tive contato em livros e palestras sobre educação e crianças. Cabe já destacar como o desenvolvimento de meninos e meninas são diferentes nesses primeiros anos da infância e como o papel dos pais/família é fundamental para o crescimento saudável dos pequeninos.
Pautando a discussão sob minha ótica particular, vejo que o interesse em armas e lutas surgiu quase que naturalmente em meu filho, tendo a convivência com os coleguinhas aguçado esse interesse. Explico: em casa, meus filhos não assistem à televisão desenfreadamente. São permitidos apenas 5 desenhos, que estão em DVD (ou seja, eles não têm acesso à internet ou Youtube) e nenhum desses desenhos retrata lutas ou armas (a saber: a quadrilogia da Era do Gelo, Estrela de Belém e Os croods). Esse último faz menção de lutas, mas mostra que o objetivo é a sobrevivência.
Ao entrar na escola, o meu filho teve contato com outras crianças com outras realidades e se interessou no mundo dos heróis (Homem Aranha, Capitão América, etc.) Ao chegar em casa fazendo o gesto de arma, sentei-me com ele, conversei e ele me explicou que estava usando a arma contra “os bichos maus”. A partir daí, as brincadeiras de luta e as armas de brinquedo “invadiram” nossa rotina.
O que eu observei foi que essas brincadeiras começaram a ajudar o meu filho a estruturar a ideia de defesa dos mais fracos e o combate ao mal. Nas brincadeiras com o pai, ele sempre defende a irmã do “lobo mau” ou do “Venom”. Numa conversa sobre como o foi o dia na escola, ele disse que não ia deixar ninguém bater na irmã, que ele ia defendê-la (e nesse ponto da narrativa ele faz gestos de luta). Logicamente, o direcionamento e as conversas em família ajudam a construir essa percepção. O meu filho tem armas de brinquedo, tem acessórios dos Heróis (como o martelo do Thor) e com os blocos de montar constrói suas armas. Tudo com o objetivo de derrotar os “homens maus”.
Em contrapartida, nos meus anos de sala de aula, eu percebi todo esse movimento acima descrito, porém existia um componente faltante: a presença e a orientação da família.
Muitas das crianças que brincavam com armas de brinquedo ou de luta, o faziam de forma agressiva, maldosa, sempre com o objetivo de prejudicar o colega, matar o colega, se vingar. Ou seja, com o ímpeto agressivo contra qualquer um, sem distinção.
E, fazendo a comparação das duas realidades, tenho absoluta certeza de que a presença da família é o elemento essencial para a conscientização e formação das crianças acerca das armas e lutas. Objetos, por si só, não podem fazer mal algum, a não ser que sofram a ação de um agente externo. Logo, quem quer matar, mata com qualquer coisa, não apenas com armas. O que deveria ser discutido não é a proibição de um objeto, mas como essas crianças estão sendo conduzidas, em que ambientes elas estão sendo criadas. Enfim, olhar para o elemento humano.
“É interessante empobrecer o imaginário das crianças para que elas se tornem adultos sem noção de valores e, assim, incutir as ideias que desmontam a sociedade”.
Particularmente, se é para proibir algum objeto por seu alto potencial mortífero, deveríamos proibir os celulares nas mãos de crianças e adolescentes. Por uma telinha, eles estão expostos a conteúdos que os pais nem imaginam, mas que fazem grandes estragos no imaginário. A questão é que o celular “ajuda” a criança a ficar quieta, dando sossego aos pais, as armas de brinquedos e as brincadeiras de lutas não.
É mais fácil deixar a criança hipnotizada diante de conteúdos duvidosos do que gastar tempo e energia para educá-las. Educação é custoso, é chato, mas é o melhor investimento que um pai e uma mãe podem fazer. Dá frutos. O problema é que, hoje, ninguém quer ter trabalho. Ninguém quer ter chateação. Ninguém quer conduzir as crianças num caminho bom. Então, cria-se essas discussões vazias e sem sentido.
Poderíamos levantar a questão: ah, mas pode ensinar valores sem dar armas ou brincar de lutas. Será mesmo? Anos e anos de discussão antibullying e o que vemos são massacres nas escolas. Culpa das armas? Ou da ausência parental, que entrega o filho ao celular-babá?
Fernanda Salles: Por que a esquerda tenta afastar os meninos desse tipo de atividade desde cedo?
Anaíde Lamendola: Para ser curta e grossa: para que valores éticos e morais não sejam enraizados nas crianças. Porque elas têm sede de aprendizado e o terreno é fértil. É interessante empobrecer o imaginário das crianças para que elas se tornem adultos sem noção de valores e, assim, incutir as ideias que desmontam a sociedade.