Ciência e Tecnologia

Cientistas Desvendam a Comunicação entre Órgãos que Pode Combater o Envelhecimento

Foto: Divulgação

Os rabos dos ratos deram a pista. Em alguns tipos de ratos idosos, seus rabos ficam rígidos e curvados. Porém, os ratos geneticamente modificados no laboratório do biólogo molecular Shin-Ichiro Imai, na Universidade de Washington em St. Louis, exibiam rabos flexíveis e quase retos. Esses ratos alterados pareciam desafiar o envelhecimento de outras formas também. Eram mais robustos, passavam mais tempo em suas rodas de exercícios e viviam cerca de 7% mais do que seus pares normais, ganhando 58 dias extras de vida, conforme relatado pela equipe de Imai no início deste ano na revista Cell Metabolism. A modificação genética realizada pelos pesquisadores aumentou um sinal de comunicação chave do cérebro para o corpo dos animais. Graças a essa alteração, um grupo específico de neurônios no hipotálamo, um centro de controle fisiológico no cérebro, permaneceu ativo à medida que os animais envelheciam.

A equipe de Imai descobriu que esses neurônios enviam sinais para as reservas de gordura dos ratos via sistema nervoso simpático. Em resposta, a gordura queima lipídios e secreta um sinal de longa distância conhecido como NAMPT, que previne danos relacionados ao envelhecimento em outras partes do corpo, incluindo o próprio hipotálamo. Normalmente, esses neurônios falham com a idade, como descobriu . “A conclusão”, é que as reservas de gordura “não recebem a estimulação adequada”, acumulam gordura, tornam-se sedentárias e produzem menos NAMPT. Em outras palavras, a ruptura na comunicação promove o declínio físico. Contrariar isso pareceu manter os ratos ágeis. Ele e sua equipe estão entre os crescentes números de cientistas que investigam como a comunicação entre órgãos e tecidos, incluindo o cérebro, o fígado e até tecidos aparentemente menos comunicativos, como músculos e ossos, pode evitar os estragos do envelhecimento.

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“Precisamos entender a comunicação interórgãos se quisermos entender o processo de envelhecimento”, diz o geneticista Norbert Perrimon, da Harvard Medical School. Nos últimos anos, pesquisadores descobriram que a sinalização de longa distância vai além de algumas glândulas e órgãos que liberam hormônios conhecidos como insulina e testosterona. A maioria dos órgãos e tecidos agora parece bombardear uns aos outros com uma grande variedade de mensagens moleculares. A gordura despacha mais de 100 moléculas diferentes que podem ser sinais, por exemplo, e os músculos enviam mais de 600. Até mesmo os ossos, antes considerados silenciosos, comunicam-se com os músculos, cérebro e outros órgãos. A comunicação entre órgãos pode ter poderosos efeitos na saúde. Quando os pacientes desenvolvem pancreatite, por exemplo, há uma chance de 50% de que a inflamação viaje para os pulmões, muitas vezes sendo fatal.

Pesquisadores estão apenas começando a catalogar essa cacofonia de mensagens corporais. Técnicas modernas permitem identificar proteínas sinalizadoras em organismos inteiros, oferecendo insights sobre como esses sinais mudam durante o envelhecimento. Experimentos em animais de laboratório revelaram vários casos em que a comunicação alterada entre órgãos promove o declínio físico ou acelera o envelhecimento. O hipotálamo, por exemplo, perde atividade neural com a idade, o que resulta em menor produção de NAMPT (Sinal de Longa Distância), potencialmente criando um ciclo vicioso de disfunção. Outras descobertas incluem a perda de conexões nervosas no coração de ratos velhos e a liberação de citocinas inflamatórias que afetam o ritmo cardíaco em moscas da fruta.

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Se os canais de comunicação interórgãos mapeados em animais forem igualmente poderosos em humanos, eles podem inspirar novas formas de tratar doenças específicas e talvez até combater o próprio envelhecimento. As pesquiass, por exemplo, sugerem que infusões de vesículas extracelulares (EVs) carregadas de NAMPT de ratos jovens permitiram que ratos mais velhos vivessem 10% mais. Isso sugere que intervenções semelhantes poderiam beneficiar a saúde humana no futuro, potencialmente retardando o envelhecimento. Por enquanto, Imai e outros cientistas continuam tentando decifrar o que os órgãos estão dizendo uns aos outros, buscando pistas para a juventude e a mortalidade escondidas nessas mensagens.

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