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Telescópio terrestre, capturara um evento vulcânico na lua Io, de Júpiter, com uma resolução inédita para observações feitas da Terra. Utilizando o Large Binocular Telescope (LBT) no Monte Graham, Arizona, as imagens são as mais detalhadas já conseguidas com um instrumento terrestre, graças ao novo instrumento de imagem óptica de alto contraste, SHARK-VIS, e ao sistema de óptica adaptativa do telescópio, que compensa a distorção atmosférica. As imagens, a serem publicadas na revista Geophysical Research Letters, revelam detalhes de superfície de até 50 milhas de diâmetro, uma resolução antes só alcançada por espaçonaves enviadas a Júpiter.
Segundo a equipe de pesquisa, é como fotografar um objeto do tamanho de uma moeda de dez centavos a 100 milhas de distância. SHARK-VIS permitiu identificar um grande evento de resurfacing ao redor de Pele, um dos vulcões mais proeminentes de Io. Al Conrad, autor principal do estudo, destacou que as erupções em Io são muito maiores que as da Terra. “Io oferece uma oportunidade única para entender as grandes erupções que moldaram a Terra e a lua no passado,” afirmou Conrad, cientista do Large Binocular Telescope Observatory. O LBT é parte do Mount Graham International Observatory, uma divisão do University of Arizona Steward Observatory.
Esses estudos podem ajudar a compreender por que alguns mundos no sistema solar são vulcânicos e outros não, além de oferecer insights sobre mundos vulcânicos em sistemas de exoplanetas. Io, a lua mais interna de Júpiter, é constantemente espremida por forças gravitacionais, gerando calor por fricção em seu interior e resultando em intensa atividade vulcânica. A imagem do SHARK-VIS, tirada em 10 de janeiro de 2024, combina bandas espectrais infravermelha, vermelha e amarela, destacando o anel avermelhado ao redor do vulcão Pele e o anel branco ao redor de Pillan Patera. Monitorando as erupções em Io, cientistas esperam entender melhor o movimento de material sob a superfície, sua estrutura interna e o mecanismo de aquecimento por maré responsável pelo vulcanismo de Io.
A atividade vulcânica de Io foi descoberta em 1979 por Linda Morabito, engenheira da missão Voyager da NASA, ao observar uma pluma de erupção em imagens da espaçonave. Desde então, muitas observações documentaram a natureza inquieta de Io. Ashley Davies, coautora do estudo e cientista do Jet Propulsion Laboratory da NASA, afirmou que a nova imagem do SHARK-VIS é tão detalhada que permitiu identificar um grande evento de resurfacing em que depósitos de erupção de Pillan Patera cobrem parcialmente o depósito de pluma de Pele. Um evento semelhante foi observado pela espaçonave Galileo da NASA entre 1995 e 2003.
“Interpretamos as mudanças como depósitos de lava escura e depósitos de dióxido de enxofre branco de uma erupção em Pillan Patera, que cobrem parcialmente o depósito de pluma vermelho, rico em enxofre, de Pele,” explicou Davies. “Antes do SHARK-VIS, tais eventos eram impossíveis de observar da Terra.” Imke de Pater, professora emérita da University of California – Berkeley e coautora do estudo, destacou que as imagens em comprimentos de onda visíveis fornecidas pelo SHARK-VIS e LBT são essenciais para identificar locais de erupções e mudanças de superfície não detectáveis no infravermelho. SHARK-VIS foi construído pelo Instituto Nacional de Astrofísica da Itália e gerido por uma equipe liderada por Fernando Pedichini, assistido por Roberto Piazzesi.
Em 2023, foi instalado no LBT junto com o instrumento complementar SHARK-NIR. Gianluca Li Causi, gerente de processamento de dados do SHARK-VIS, explicou que o instrumento utiliza uma câmera de ultra-baixo ruído e um software chamado Kraken para remover efeitos atmosféricos e revelar Io com nitidez sem precedentes. Simone Antoniucci, cientista do SHARK-VIS, antecipou que o instrumento será usado para observar muitos corpos do sistema solar, incluindo asteroides. “Já observamos alguns desses, com dados atualmente sendo analisados, e estamos planejando observar mais,” concluiu.