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A domesticação dos cavalos pode ter surgido a partir da necessidade de velocidade há cerca de 4.200 anos, revela uma análise genética recente. A pesquisa, publicada na revista Nature, sugere que os caçadores-coletores Botai, na Ásia Central, podem ter sido os primeiros a domesticar esses animais para leite e carne há aproximadamente 5.000 anos. No entanto, essa tentativa não se manteve. Por outro lado, povos que viviam ao norte das Montanhas do Cáucaso domesticaram os cavalos para transporte cerca de 4.200 anos atrás, e essa domesticação perdurou. Esses cavalos se espalharam rapidamente, substituindo seus parentes selvagens e tornando-se os cavalos domésticos modernos. As descobertas questionam antigas ideias sobre quando, por que e quem domesticou os cavalos, diz Ludovic Orlando, arqueólogo molecular e diretor do Centro de Antropobiologia e Genômica de Toulouse, na França.
Por exemplo, acredita-se que os antigos Yamnaya, do sudoeste da Ásia, foram os primeiros cavaleiros. Os Yamnaya eram pioneiros que, há cerca de 5.000 anos, utilizaram carros de boi para deixar as pradarias secas e se estabelecer na Europa e na Ásia, contribuindo para a formação de culturas da Idade do Bronze e espalhando línguas indo-europeias, além de deixar um legado genético que inclui riscos aumentados de esclerose múltipla e Alzheimer. No entanto, Orlando e seus colegas argumentam que isso não aconteceu a cavalo, pois a cronologia não coincide. A equipe analisou DNA de 475 cavalos antigos, com até 50.000 anos, e 77 cavalos modernos. Combinando essa análise genética com datação por carbono e dados arqueológicos, eles estabeleceram um cronograma para a domesticação dos cavalos.
Os dados genéticos sugerem que os cavalos foram domesticados mais tarde do que se pensava. Antes de 4.200 anos atrás, havia diversas linhagens de cavalos. Mas, a partir dessa data, uma linhagem específica, ao norte da cordilheira do Cáucaso, tornou-se dominante globalmente. Isso sugere que os cavalos foram domesticados visando a mobilidade. Se os Yamnaya e os cavalos migrassem juntos, seus genes se espalhariam simultaneamente. Contudo, os genes dos cavalos só começaram a se espalhar cerca de 800 anos após a migração dos Yamnaya. William Taylor, arqueozoologista da Universidade do Colorado Boulder, reconhece que essa nova pesquisa desafia a ideia de que os Yamnaya eram cavaleiros e pastores. Volker Heyd, arqueólogo da Universidade de Helsinque, argumenta que eles precisariam de cavalos para se espalharem rapidamente.
Já Ursula Brosseder, arqueóloga do Leibniz Zentrum für Archäologie em Mainz, Alemanha, discorda, afirmando que a migração pode ocorrer a pé. Evidências genéticas mostram que, quando os cavalos começaram a se espalhar, seu tempo de geração caiu de pouco mais de sete anos para cerca de quatro anos, sugerindo controle humano na reprodução para aumentar a população e selecionar certas características. Isso é um claro sinal de domesticação. Os pesquisadores também observaram a redução do tempo de geração em restos de cavalos de 5.000 anos associados à cultura Botai, que pode ter tentado domesticar cavalos para aumentar a oferta de carne. No entanto, William Taylor acredita que os Botai não domesticaram os cavalos, mas mantiveram uma relação de caça. Essas descobertas oferecem uma nova perspectiva sobre as tentativas iniciais de domesticação de cavalos e a evolução da relação entre humanos e esses animais.