Economia

Ata do Copom: BC mostra preocupação com dólar e inflação e diz que não hesitará em subir juros

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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O Banco Central (BC) demonstrou nesta terça-feira (06) uma crescente preocupação com a alta do dólar e seu impacto na inflação futura, afirmando que não hesitará em elevar a taxa de juros para garantir que a inflação convirja para a meta, se considerar apropriado.

Essa declaração consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros foi mantida em 10,50% ao ano. Esta foi a segunda reunião consecutiva com manutenção da Selic.

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Segundo o Banco Central, os recentes movimentos em variáveis que afetam a inflação, como expectativas de inflação e a taxa de câmbio, foram amplamente discutidos na reunião. A valorização do dólar nas últimas semanas foi um ponto central do debate. O Comitê observou que, se esses movimentos persistirem, os impactos inflacionários podem ser significativos e serão considerados nas futuras decisões. Diante disso, o Comitê concluiu que o momento exige uma vigilância mais rigorosa sobre as condições inflacionárias em um cenário desafiador.

A taxa de câmbio pode influenciar os preços internos por diversos canais, incluindo a importação de produtos e insumos, bem como a equiparação dos preços no Brasil com o mercado internacional. O aumento da taxa de juros tende a moderar a alta do dólar.

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O Copom também avaliou que há uma percepção mais recente entre os agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Essa percepção tem impactado os preços dos ativos, como o dólar e os juros futuros, e as expectativas de inflação, que estão elevadas. Assim, as projeções de inflação para os próximos anos aumentaram e o cenário atual é visto como desafiador. O Banco Central sublinha que a evolução deste cenário será crucial para definir os próximos passos em relação à taxa de juros.

O Comitê indicou que irá considerar se manter a taxa de juros por um período prolongado é suficiente para levar a inflação à meta ou se é necessário aumentar a taxa de juros para garantir que a inflação atinja a meta, caso julgue apropriado.

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Para definir a taxa básica de juros e conter a alta dos preços no sistema de metas de inflação, o Banco Central foca no futuro, e não na inflação corrente. As mudanças na Selic demoram de seis a 18 meses para impactar plenamente a economia. A instituição já está projetando para a meta deste ano e também para o segundo semestre de 2025.

A meta de inflação para este ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%. A partir de 2025, o governo alterou o regime de metas, estabelecendo uma meta contínua de 3%, com uma faixa de variação entre 1,5% e 4,5%.

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Na semana passada, economistas do mercado financeiro estimaram que a inflação de 2024 será de 4,12% e a de 2025 será de 3,98%, ambos acima da meta central. Essas previsões aumentaram em relação a três meses atrás. Em março, a projeção para a inflação de 2024 era de 3,74% e para 2025 era de 3,50%. O Banco Central, por sua vez, estimava em março uma inflação de 3,5% para 2024 e de 3,2% para 2025, mas recentemente revisou suas estimativas para 4,2% em 2024 e 3,6% em 2025. As projeções estão se afastando das metas centrais e se aproximando do limite superior da banda de metas.

O Banco Central informou que está analisando o cenário para os próximos seis trimestres, com base no sistema de meta contínua de inflação de 3%. Para esse período, a inflação estimada é de 3,4% com uma redução da Selic e 3,2% com a Selic estável.

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O Comitê avalia que a política monetária é crucial para ancorar as expectativas de inflação e continuará tomando decisões para manter a credibilidade e reduzir o custo da desinflação. O Banco Central reafirmou seu compromisso com a meta de inflação e reconheceu o papel fundamental das expectativas na dinâmica inflacionária.

Na ata da reunião, o Banco Central descreveu um cenário externo adverso. Os fluxos de capital globais refletem uma aversão ao risco que pressiona a taxa de câmbio de forma variável. Nos Estados Unidos, a atividade econômica é resiliente, mas há sinais de desaceleração no emprego e condições financeiras apertadas. O cenário aponta para uma redução gradual da inflação e da atividade, com um início cauteloso de cortes nos juros.

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Nos países emergentes, há desafios econômicos, mas alguns estão reduzindo juros cautelosamente enquanto outros interromperam o ciclo de queda. A depreciação das taxas de câmbio desses países reflete um cenário mais desafiador. O Banco Central reforçou que não há uma relação direta entre os juros nos EUA e a alta do dólar no Brasil, mas sim que os impactos dependem dos mecanismos de transmissão para a inflação doméstica. Em um cenário de maior incerteza global e movimentos cambiais abruptos, é necessário cautela na política de juros no Brasil.

Os dados de atividade econômica e do mercado de trabalho estão mostrando mais dinamismo do que o esperado, o que pode pressionar a inflação por meio dos preços dos serviços. O Banco Central observou surpresas recorrentes no nível de ocupação, taxa de desocupação e renda, indicando um mercado de trabalho apertado. Além disso, o esmorecimento nas reformas estruturais e na disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a dívida pública podem elevar a taxa de juros neutra da economia, aumentando o custo para reduzir a inflação sem afetar a atividade econômica.

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