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Quinze anos após sua estreia, a ácida e exagerada comédia “Trovão Tropical” caiu na malha fina dos canceladores profissionais. O longa, dirigido e estrelado por Ben Stiller, que fez sucesso nos anos 2000 satirizando filmes americanos sobre a Guerra do Vietnã, foi se tornando cada vez mais polêmico à medida que a ditadura do politicamente correto avançava.
O principal alvo das críticas é o personagem Kirk Lazarus, interpretado por Robert Downey Jr. (“Homem de Ferro”). Larazus é negro, Downey Jr. é branco. Entenderam o tamanho da encrenca? Stiller foi acusado de dirigir e atuar em um filme com conteúdo racista porque ao interpretar um negro, Downey Jr. estaria fazendo “blackface” — prática teatral em que atores pintavam o rosto com carvão de cortiça para representar personagens negros.
Não satisfeita com as produções cinematográficas atuais saturadas de pautas globalistas, a patrulha revolucionária decidiu revirar séries e filmes antigos em busca de qualquer conteúdo hipoteticamente ofensivo. Para a trupe militante, é simplesmente inconcebível que filmes como “Trovão Tropical” tenham alcançado tal sucesso usando tantas referências politicamente incorretas. Propuseram-se a caçar os culpados e fazê-los pedir desculpas pelos “erros” do passado. Somente uma humilhação pública poderia reparar os danos à sociedade causados pelo exercício da liberdade de expressão, não é mesmo?
Contudo, Ben Stiller não se incomodou com o burburinho envolvendo seu nome. Ao responder um seguidor, que pediu para o ator “parar de se desculpar” pelo filme, ele afirmou: “Não peço desculpas por Trovão Tropical. Não sei quem te disse isso. Sempre foi um filme controverso desde quando estreamos. Orgulhoso disso e do trabalho que todos fizeram nele”.
A reação despreocupada de Stiller destoa de vários de seus colegas do meio cinematográfico que sofreram perseguição semelhante e não bancaram suas produções. Veja alguns casos de filmes, séries e atores acusados de “preconceito” por trabalhos no cinema e na TV.
Friends
Pressionada, uma das criadoras de ‘Friends’ (1994 – 2004) pediu desculpas públicas pela suposta “falta de diversidade da série”. A produtora Marta Kauffman não apenas assumiu a “culpa” como anunciou a doação de US$ 4 milhões para o Departamento de Estudos Afro-Americanos da Brandeis University.
Durante uma entrevista ao programa de rádio da BBC, The Conversation, Kauffman também afagou a militância LGBT e afirmou que cometeu um erro ao referir-se ao travesti Charles Bing, pai do personagem Chandler Bing, como um homem.
Parte da militância progressista uniu-se contra a série da década de 90 nas redes sociais sob alegação de que a produção fazia apologia ao “racismo”, “transfobia”, “gordofobia” e “outros tipos de preconceito”.
Apesar da tentativa de cancelamento, Friends é uma das séries mais assistidas de todos os tempos, e continua batendo recordes após 29 anos de sua estreia. Em dezembro do ano passado, a produção ficou entre as dez maiores audiências nos Estados Unidos. A sitcom contou com mais de 737 milhões de minutos assistidos em um único mês.
The Office
Em matéria publicada em 2020, a Rolling Stone Brasil trata a ficção de The Office como realidade. Com o título “As 5 piores coisas ditas por Michael Scott para os seus funcionários”, a revista acusa a sitcom de promover “xenofobia”, “racismo”, “machismo” e “ódio”.
A atriz Kat Ahn também criticou a forma como The Office representou mulheres americanas descendentes de asiáticos. Apesar de ter topado participar da série e, claro, recebido para isso, a artista afirmou que o seriado trouxe um retrato “racista dessa minoria”.
Ela compartilhou sua insatisfação em um vídeo publicado no TikTok, no qual relembra sua participação no episódio ‘A Benihana Christmas’. No capítulo, que foi ao ar pela primeira vez em 2006, Michael Scott (Steve Carell) convida duas garçonetes asiáticas para uma festa natalina, e marca o braço de uma delas com uma caneta para conseguir diferenciá-las. No final, ele acaba aparecendo no evento com outras duas mulheres.
Felizmente, mais uma vez os ‘canceladores’ falharam na tentativa de prejudicar uma produção consagrada.
Segundo a Nilsen, empresa americana de pesquisas, The Office foi a série mais assistida de todos os streamings no ano de 2020. Nos EUA, onde a análise foi realizada, a produção teve nada mais, nada menos que 57,1 bilhões de minutos transmitidos a espectadores.
Chaves
Até mesmo o inocente — e quase unanime — Chaves foi alvo da estupidez esquerdista. A blogueira feminista Sylvia Colombo, da Folha de São Paulo, acusou a obra de Roberto Gómez Bolaños de promover “piadas, preconceituosas e machistas”. Em seu texto — que flerta com o doentio —, recheado de distorções e repleto de choramingos infantis, a autora consegue enxergar um dos personagens mais queridos, o Seu Madruga, como um sujeito “folgadão”, “desbocado”, “autoritário” e pasmem, “homofóbico”.
Embora esteja fora da TV mundial desde 2020, o programa infantil é fenômeno inquestionável de audiência no Brasil e na América Latina, e consagrou-se como uma das produções mexicanas de maior sucesso da história.
A Baleia
Em tempos de romantização da obesidade mórbida, ‘A Baleia’ traz um choque de realidade sobre os prejuízos do excesso de peso no corpo humano. Estrelado por Brendan Fraser (‘A Múmia’), o longa conta a história de um homem de 270 quilos chamado Charlie, que tenta se reaproximar da filha adolescente (Sadie Sink) depois de abandoná-la para ficar com um amante.
Após a morte dele, Charlie se entrega a um transtorno alimentar compulsivo em resposta ao luto, o que acaba transformando-o em obeso mórbido.
A minoria barulhenta rapidamente atacou o filme alegando que o conteúdo estimulava a “gordofobia”.
Em artigo do jornal ‘O Estado de Minas’, a autora afirma que “parte do público composta por pessoas gordas e obesas se sentiu violentada e desrespeitada com a representação do personagem principal”.
Em entrevista para o LA Times, Fraser defendeu a obra e rebateu os comentários negativos.
“Eu respeito aqueles que não concordam com os objetivos deste filme. Não concordo com eles porque sei que não há más intenções. A única coisa que quero saber é se eu fiz algum mal. Mas a resposta que recebi da Obesity Action Coalition (OAC) foi: ‘Continue fazendo o que está fazendo’. Fizemos o filme que queríamos fazer e o fizemos corretamente. E eu mantenho essa opinião.”
O drama, que se baseia em um livro de mesmo nome, rendeu a Fraser a indicação ao Oscar de Melhor Ator na edição deste ano da premiação.