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Em delação premiada, o advogado criminalista Nythalmar Dias Ferreira Filho acusou o juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos da Lava Jato no Rio de Janeiro, de negociar penas, orientar advogados, investigar, combinar estratégias com o Ministério Público (MP), direcionar acordos, pressionar investigados, manobrar processos e de ter tentado até influenciar eleições.
Na delação, obtida pela revista Veja nesta sexta-feira (4), o ex-advogado de réus da Lava Jato diz ter a gravação de uma conversa entre ele, o juiz e um procurador da República encarregado da Lava Jato em 2017 que provaria as acusações.
No áudio, os três falavam sobre possíveis estratégias para convencer o empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta Construtora, a confessar seus crimes. Na época, Nythalmar representava Cavendish.
“Você pode falar que conversei com ele, com o Leo, que fizemos uma videoconferência lá, e o procurador me garantiu que aqui mantém o interesse, aqui não vai embarreirar”, diz Bretas, segundo o jornal. Leo é o procurador Leonardo Cardoso de Freitas, que coordenava a Lava Jato no Rio de Janeiro na época.
“E aí, deixa comigo também que eu vou aliviar. Não vou botar 43 anos no cara. O cara está assustado com os 43 anos”, afirma o juiz, de acordo com a revista. Bretas se referia ao medo que se espalhou entre os investigados em relação à operação quando ele condenou o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, a 43 anos de prisão.
A estratégia funcionou e Cavendish assinou um acordo de delação premiada, na qual confessou o pagamento de cerca de R$ 370 milhões em propina a vários políticos em troca de responder em liberdade ao processo.
“O diálogo demonstra claramente que o juiz não só tinha ciência das colaborações antes de serem fechadas, bem como participava, negociava e intermediava com a ciência, participação e cooperação do MPF nas investigações, fato este gravíssimo”, diz Nythalmar.
O delator também acusa Bretas de intermediar um acordo informal com o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, no qual garantia não investigar por corrupção a esposa do político, Adriana Ancelmo.
Nythalmar ainda afirma que Bretas e os procuradores da Lava Jato se uniram na tentativa de retirar Gilmar Mendes de seu cargo como relator dos casos da operação que envolviam o Rio de Janeiro.
A estratégia era apontar um elo entre o investigado Paulo Preto, ex-presidente da empresa Dersa e acusado de ser operador financeiro do PSDB, e Mendes, que tem ligações históricas com o partido.
Assim, o grupo tentou transferir a investigação do Rio de Janeiro para São Paulo, o que seria usado como argumento para a escolha de um novo relator do caso. A intenção da estratégia era abrir “caminho, na visão deles, para a Lava Jato de São Paulo ocorrer no Rio de Janeiro com mais tranquilidade, sem ser tolhida ou vigiada pelo ministro Gilmar Mendes”.
Nythalmar garante que pode mostrar mensagens entre ele e Bretas que provam ponto a ponto a manobra.