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Os pecuaristas da Argentina interromperam nesta quinta-feira (20) por nove dias a comercialização de gado, em protesto pela suspensão das exportações de carne anunciada pelo presidente de esquerda Alberto Fernández, com a intenção de moderar os preços no mercado interno.
Durante a madrugada, o Mercado de Liniers, onde o gado é vendido aos frigoríficos da cidade de Buenos Aires e seus arredores, estava desolado, com os currais vazios e apenas alguns funcionários administrativos.
A paralisação, no entanto, não deve implicar um desabastecimento imediato, já que os frigoríficos e açougues têm estoques acumulados.
Além disso, as partes tentam superar o impasse e poderiam chegar a um acordo antes do período de 30 dias, durante o qual o governo proibiu as exportações.
Não é a primeira vez que os pecuaristas e produtores rurais paralisam as atividades para pressionar o governo. Em março de 2020, o estopim foi a elevação do imposto para as exportações de soja.
Ator internacional
Com 819 bilhões de toneladas, a Argentina foi em 2020 o quarto maior exportador de carne no mundo, tendo a China, a Alemanha e Israel como seus principais clientes.
Com essas vendas, o país recebeu US$ 3,36 bilhões, uma entrada significativa de divisas à qual seria difícil de renunciar, especialmente agora que os preços internacionais estão em alta.
Javier Velázquez, diretor executivo do frigorífico La Peña, espera que se encontre numa solução de consenso.
“Estamos no momento exato para sentarmos em volta de uma mesa, todos os setores que envolvem a exportação, consumo inclusive, e delinearmos algo para o futuro, porque estamos em um momento muito difícil”, disse.
O governo tomou a decisão de interromper as exportações devido ao forte impacto do aumento dos preços dos alimentos no índice de inflação, um dos mais altos do mundo, com 17,6% no quadrimestre, de acordo com o instituto de estatísticas Indec.
Carne como sintoma da crise
O custo de vida nos últimos 12 meses subiu 46,3%, segundo o Indec, mas o preço dos diferentes cortes de carne de boi aumentou 65,3% em abril em comparação ao mesmo mês do ano anterior, de acordo com o Instituto Argentino de Promoção da Carne Bovina.
Martín Sturla, diretor da Sociedade Rural de San Antonio de Areco, na província de Buenos Aires, alega que “o problema não é a carne, a carne é mais um sintoma. Temos a maior taxa de inflação do mundo, depois da Venezuela, e tentam tapar o sol com a peneira”.
A Argentina enfrenta seu terceiro ano de recessão, agravada pela pandemia de Covid-19, e com uma taxa de pobreza de 42%.