A Coreia do Norte e a Rússia acordaram um novo pacto de defesa que prevê assistência militar mútua em caso de agressão, segundo revela o texto do acordo histórico entre as duas nações autoritárias.
O presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong Un, assinaram o pacto durante uma visita de Estado de Putin a Pyongyang na quarta-feira (19), marcando um marco nas relações bilaterais. Putin descreveu o acordo como um “novo nível” na cooperação estratégica entre os dois países, cuja relação histórica remonta à era da Guerra Fria de 1961.
O acordo, que ocorre em meio às tensões provocadas pela guerra da Rússia na Ucrânia, é considerado o mais significativo entre Rússia e Coreia do Norte em décadas. Além de fortalecer os laços políticos e econômicos, consolida a posição da Coreia do Norte como aliada de uma potência mundial com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU.
A mídia estatal norte-coreana KCNA divulgou o texto completo do pacto nesta quinta-feira (20), destacando a cooperação abrangente que inclui aspectos políticos, comerciais, de investimento e de segurança. O artigo 4º do acordo estipula que em caso de uma das partes ser atacada por agressão armada, a outra deverá fornecer assistência militar imediata.
A divulgação do texto levanta questões sobre a possível extensão da dissuasão nuclear da Rússia à Coreia do Norte e a perspectiva de exercícios militares conjuntos entre os dois países.
Putin comentou sobre a cláusula de defesa após o encontro com Kim, enfatizando que o acordo prevê “a prestação de assistência mútua em caso de agressão contra uma das partes”. Kim, por sua vez, chamou a nova aliança de um “momento divisor de águas no desenvolvimento das relações bilaterais”.
Analistas avaliam o pacto como mais próximo de um tratado formal de defesa do que de um simples acordo de parceria, destacando que a cláusula de intervenção automática implica a mobilização de todos os meios militares disponíveis, incluindo exército, marinha e força aérea.
No entanto, detalhes específicos sobre a implementação dessa cláusula são escassos, gerando a necessidade de monitoramento próximo das disposições relativas à intervenção militar por parte de Coreia do Norte e Rússia.
O acordo reflete um alinhamento mais profundo entre os dois países, que enfrentam crescente isolamento internacional devido à guerra russa na Ucrânia e ao programa nuclear e de mísseis balísticos norte-coreano. Enquanto os Estados Unidos e a Coreia do Sul acusam a Coreia do Norte de apoiar militarmente a Rússia, observadores levantam preocupações sobre possíveis violações de sanções internacionais por parte de Moscou em relação ao programa militar de satélites de Pyongyang.
Putin criticou o que chamou de “política imperialista dos Estados Unidos e seus aliados” após o encontro com Kim, indicando que a Rússia não descarta futuras cooperações técnico-militares com a RPDC, sigla oficial da Coreia do Norte.
Analistas advertem que um aumento na cooperação tecnológica poderia fortalecer significativamente o poder militar da Coreia do Norte, incluindo avanços em armas nucleares e na capacidade de entrega dessas armas.
Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha em Seul, interpreta o pacto como um sinal de Moscou priorizando Pyongyang em detrimento das obrigações internacionais de não-proliferação e das responsabilidades da Rússia como membro do Conselho de Segurança da ONU.