Política

Para o Centrão, justo é tirar dinheiro dos pobres; ou: quando a falta de vergonha na cara desconhece limites

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Quando a Operação Lava Jato demonstrou que a maior parte do lamaçal de corrupção em que estava mergulhada a política brasileira provinha de doações feitas a candidatos e partidos por grandes empresas – sobretudo empreiteiras – que eram, depois, recompensadas com contratos fraudulentos, nossos políticos viram uma excelente oportunidade para praticar a mais espúria demagogia, ao mesmo tempo em que metiam as mãos em nossos bolsos:

proibiram a doação por parte de empresas e instituíram o financiamento público de campanha. Na prática, deixaram de se beneficiar de dinheiro sujo, que lhes chegava aos bolsos por vias indiretas, para pega-lo limpinho, sem precisar roubar, nem lavar em paraísos fiscais e direto da mesma fonte: os impostos pagos por todos, pessoas físicas e jurídicas, ricos e pobres.

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Assim é que todo brasileiro, além de pagar os salários dos políticos e das multidões de aspones que os assessoram, ainda paga as despesas das campanhas deles, mesmo aqueles que não suporta e com cujas ideias e posturas não concorda:

se você usa flâmulas verde-amarelas e uma foto do Bolsonaro no seu perfil e lê todo dia as postagens do Olavão no Face, está financiando o PT, o PSOL e o PCdoB; se você é petista, daqueles que fazem romaria à porta da PF em Curitiba e participa de vaquinhas para pagar as multas do Zé Dirceu, está financiando os delegados, majores e pastores evangélicos do PSL.

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Não tem como escapar.

A legislação, contudo, não proibiu, nem impôs grandes limitações às doações de pessoas físicas: se você acredita em um candidato e quer, pessoalmente, com seu dinheiro, ajudá-lo a se eleger, você pode.

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Mas, como é óbvio, apenas partidos e candidatos com posturas bem definidas e ideologicamente identificados com seus eleitores têm se beneficiado de doações particulares; o caso mais notório é o Novo, que recebeu, em 2018, 17 milhões em doações diretas de pessoas físicas:

sozinho, o partido de João Amoêdo recebeu 4,5 milhões a mais do que DEM, PRB, Solidariedade, PP e PL somados.

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Líderes dessas legendas, para quem ninguém dá um centavo e que vivem quase que exclusivamente de dinheiro público, estão revoltados: sentem-se muito injustiçados por terem que se sustentar com os bilhões do fundo partidário e do fundo eleitoral, enquanto o outro recebe direta e espontaneamente de seus eleitores – e articulam junto à Presidência da Câmara, um projeto para limitar as doações de pessoas físicas já para as eleições municipais do ano que vem.

Também incomoda muito a nossos excelentíssimos parlamentares que grupos da sociedade civil mantidos por doações de empresários, concedam bolsas de estudos a jovens lideranças que pretendam se preparar para disputas eleitorais.

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Não é justo ter candidato que ganha bolsa durante um ano para disputar eleição e outro que está limitado ao dinheiro do fundo eleitoral no período da disputa —  diz Wellington Roberto (PL – PB).

O líder do Solidariedade, Paulinho da Força – um desses políticos que há décadas vive de barganhar o apoio de sua legenda a governos e que só aparece para o eleitor a cada quatro anos para pedir voto -, trocou farpas com Marcel Van Hatten, líder do Novo, que acusa de ser “o partido dos ricos”:

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É fácil fazer demagogia quando tem empresário doando milhões – disse Paulinho, para quem só se deve usar milhões arrancados dos bolsos dos pobres.

Não há limites para a desfaçatez dessas pessoas e imaginar que o meio político brasileiro pode um dia realmente se renovar, é quase impossível.

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