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Num duro revés para o empresário João Amoêdo, fundador do Novo e ex-candidato à Presidência pelo partido em 2018, o Diretório Nacional (DN) da legenda vetou a sua volta para o comando partidário.
Em votação realizada na noite desta segunda-feira (27), da qual participaram os seis integrantes do DN, Amoêdo obteve apenas três votos favoráveis ao seu retorno.
Outros três membros do órgão votaram contra a sua volta. Pelo estatuto do Novo, a decisão teria de ser apoiada por pelo menos 2/3 dos integrantes do DN, ou seja, por 4, para que ele pudesse regressar e reassumir a presidência.
De acordo com fontes ouvidas pelo Estadão, votaram contra o pleito de Amoêdo, que renunciou à presidência do Novo em março de 2020, o atual comandante do partido, Eduardo Ribeiro, além de Guilherme Enck, secretário Administrativo, e André Strauss Vasques, secretário-adjunto.
Em seu favor, votaram Ricardo Taboaço, vice-presidente do Novo, Moisés Jardim, secretário de Finanças, e Patrícia Vianna, secretária de Assuntos Institucionais e Legais.
“Recebemos com muito respeito sua disposição em retornar à gestão partidária como membro do Diretório Nacional”, diz a mensagem enviada pelo presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, a Amoêdo, aos integrantes do órgão máximo da legenda e aos diretórios estaduais logo depois da reunião.
“Em sua consideração optamos por trazer à pauta a possibilidade de seu retorno o mais breve possível, na reunião do Diretório Nacional nesta segunda-feira, 27. Encerrada a reunião, venho por meio deste e-mail, novamente em sua consideração, comunicar que não houve a maioria necessária dos votos para efetivar o seu retorno”.
A possível volta de Amoêdo à presidência do Novo foi proposta por ele mesmo, em carta enviada aos seis integrantes do DN, com cópia para os diretórios estaduais, no sábado (25), praticamente obrigando o órgão a se posicionar sobre o assunto.
“Infelizmente, a polarização, as narrativas que não condizem com a verdade e a perda de identidade, que contaminam e enfraquecem inúmeras instituições, estão hoje também presentes no Novo”, disse Amoêdo em sua carta. “Precisamos de uma instituição que represente a esperança de mudança, na qual a energia seja direcionada para o crescimento da marca e estejamos todos reunidos e trabalhando com um único objetivo: melhorar a vida do brasileiro. É com este propósito que me coloco à disposição para retornar, de imediato, ao Diretório Nacional para cumprir o mandato para o qual fomos eleitos de forma unânime pela Convenção Nacional e assim trabalhar, junto com vocês e com todos os integrantes do Novo, na consolidação partidária e no pleito de 2022”.
A proposta de Amoêdo, que está sem cargo na direção do partido desde a renúncia, surpreendeu a dirigentes e filiados e gerou muita discussão nos bastidores e nas redes sociais sobre os rumos da agremiação, já profundamente abalada por causa das divergências em torno do impeachment do presidente Jair Bolsonaro e da adoção de uma postura de oposição ao governo – duas posições que ele abraçou.
Embora seja apoiado por uma parte dos dirigentes e filiados, Amoêdo está longe de representar hoje uma unanimidade.
Acusado por seus desafetos de querer agir como “dono” do partido e de não ouvir seus mandatários e até hostilizá-los nas redes, principalmente integrantes da bancada federal e o governador de Minas, Romeu Zema, ele perdeu muito do apoio que conquistou na eleição de 2018.
Dos 19 diretórios estaduais do partido em atividade pelo País, pelo menos 12 manifestaram-se por escrito contra a volta de Amoêdo à presidência: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Distrito Federal, Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí e Maranhão.
O diretório do Rio Grande do Sul também se manifestou sobre a questão, sugerindo também ser contra o seu retorno, mas há dúvidas em relação à efetiva posição do órgão.
“O João Amoêdo renunciou, não pediu licença do cargo. É um absurdo ele querer voltar agora”, afirmou um representante do Novo ao Estadão que preferiu se manter na sombra.
“Já imaginou se isso tivesse acontecido com o (ex-presidente) Jânio Quadros, se ele tivesse pedido ao Congresso para voltar depois de ter renunciado e a instituição tivesse aceitado?Seria um escândalo”.