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Na manhã desta quarta-feira (05), a Polícia Civil de São Paulo (PC-SP) cumpre uma série de mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB).
Ele está sendo investigado por um suposto esquema criminoso de desvio de recursos da área da saúde.
O irmão do ex-governador, Cláudio França, é outro alvo da operação, que está sendo desencadeada em ao menos 30 locais da capital, litoral e interior em endereços da família França e, também, de ex-funcionários de organizações sociais, empresários e médicos.
A investigação apura peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. A operação é acompanhada pelo Ministério Público (MP) e representantes da OAB.
De acordo com os policiais, no suposto esquema as organizações sociais (as chamadas OSs) seriam usadas para desvios de recursos mediante contratos superfaturados para gestão de unidades de saúde destinadas ao atendimento da população pobre.
Policiais ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo alegam que existem gravações de conversas de Cláudio e de um suposto testa de ferro utilizado para captação de recursos. Nos diálogos, eles discutiriam a porcentagem destinada a cada um dos integrantes do grupo.
As investigações que colocam Márcio França sob suspeita de participação em uma organização criminosa são um desdobramento da operação Raio-X, desencadeada em setembro de 2020, quando foram expedidos pela Justiça 64 mandados de prisão temporária e 237 mandados de busca e apreensão.
Há a suspeita de que o grupo desviou mais de R$ 500 milhões dos cofres públicos. Até agora, 48 pessoas foram denunciadas pelo MP e, dessas, 19 foram condenadas pela Justiça.
O esquema estende-se a cidades paulistas e de outros estados como Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pará. Neste estado, o próprio governador Helder Barbalho (MDB) estava entre os investigados e foi um dos alvos de operação desencadeada pela Polícia Federal naquele ano.
Na ocasião, foram apreendidos 20 veículos, três aeronaves e R$ 1,2 milhão em dinheiro. O mais importante para investigação foram os computadores confiscados, com os quais os policiais conseguiram apurar as movimentações financeiras e, também, a suposta ligação da família França.
Entre alvos dos mandados de busca em 2020 estava um funcionário do gabinete do vereador Eliseu Gabriel, do PSB, mesmo partido de França. As buscas foram realizadas em salas da Câmara Municipal de São Paulo. O parlamentar não era investigado.
Apontado como chefe do esquema inicial, o médico Cleudson Garcia Montali, de Birigui, foi condenado a 104 anos de prisão por uma série de irregularidades nos contratos com equipamentos de saúde de 27 cidades, incluindo Santas Casas. Ele também foi condenado a ressarcir os cofres públicos em R$ 947 mil.
Para a polícia, a família França e Montali estão ligados no suposto esquema. Em dezembro de 2018, às vésperas de deixar o Palácio dos Bandeirantes, o então governador Márcio França ‘aliviou’ uma punição administrativa de Montali.
O pessebista foi derrotado naquele ano em disputa em segundo turno com João Doria.
O médico, então diretor regional de saúde, havia sido punido com demissão “a bem do serviço público” por irregularidades consideradas graves pelo próprio governo, investigação aberta a reboque do Ministério Público.
Em 2020, quando era candidato a prefeito de SP, França negou irregularidades e alegou ter seguido pareceres internos que consideravam ser a decisão mais justa a tomar. Dias antes dessa decisão, conforme ele mesmo confirma, França havia viajado de avião para o interior de São Paulo junto com Montali.
Em maio de 2017, França, como vice-governador e secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, viajou para Birigui onde, segundo a prefeitura, ele visitou a Santa Casa local e, também, participou de um jantar promovido pelo médico Montali.
No período em que França foi vice-governador, entidade ligada a Cláudio França, o Instituto Sócrates Guanaes, uma entidade sem fins lucrativos, foi contratada pelo estado para administrar os hospitais regionais de Itanhaém e de Registro.
O contrato do hospital de Itanhaém, de R$ 290,7 milhões, foi assinado em junho de 2017 por um período de cinco anos. Em 2018, Cláudio foi nomeado assessor técnico do hospital.
O contrato do hospital de Registro, de R$ 539,4 milhões, é de 4 abril de 2018 e também válido por cinco anos. Ambas as contratações foram realizadas sem licitação.
As organizações interessadas em fazer a gestão dos hospitais foram convidadas por meio de um processo chamado “convocação pública”.