Saúde

USP avança em estudo para vacina contra febre maculosa

© Diogo Moreira/MáquinaCW

A Universidade de São Paulo (USP) realizou um estudo publicado na revista Parasites & Vectors, que identificou um potencial alvo para a criação de uma vacina contra a febre maculosa. No estado de São Paulo, quatro pessoas faleceram em decorrência da infecção recentemente, após participarem do mesmo evento na região de Campinas, no interior paulista, no dia 8 de junho. A doença é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato-estrela e comum na região do Cerrado e em áreas degradadas da Mata Atlântica. De acordo com o Ministério da Saúde, em média, são registrados 160 casos anuais nos últimos três anos, com taxa de letalidade em torno de 28%.

A doença tem como principais sintomas febre alta e súbita, dor de cabeça, abdominal e muscular. Pode haver erupções no local da picada do carrapato. O tratamento imediato com antibióticos é recomendado para evitar o agravamento do quadro.

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Estudos anteriores do mesmo grupo da USP, sediado no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), já haviam mostrado que, ao infectar o carrapato-estrela, a Rickettsia rickettsii é capaz de inibir no hospedeiro um processo chamado apoptose (que é a morte programada das células do aracnídeo), favorecendo seu crescimento. Essa “sobrevida” dá à bactéria tempo para se proliferar e infectar novas células.

No trabalho mais recente, apoiado pela FAPESP por meio de três projetos a ideia foi silenciar a expressão gênica da principal proteína inibidora da apoptose, a IAP (do inglês, inhibitor of apoptosis protein), com o objetivo de reduzir o crescimento da bactéria e tornar o carrapato-estrela mais resistente à infecção. Para isso, a alimentação dos aracnídeos foi reproduzida em laboratório, com sangue de coelhos infectados e não infectados por R. rickettsii.

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“Observamos que, independentemente da infecção, os carrapatos morriam ao se alimentar, destacando a importância da IAP para sua sobrevivência”, explica Andréa Cristina Fogaça, professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e coordenadora do estudo. “Essa informação sugere algo ainda mais interessante do que apenas bloquear a infecção: é possível conter e diminuir a densidade populacional do hospedeiro.”

As taxas de mortalidade dos carrapatos-estrela durante o experimento ficaram acima de 92%. Esses resultados sugerem que a alimentação do carrapato, independentemente de estar infectado, gera radicais livres que ativam a apoptose. Com a IAP silenciada, os carrapatos não conseguem sobreviver.

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Foco no hospedeiro

A importância de centrar esforços científicos no carrapato-estrela para criar uma possível vacina contra a febre maculosa é simples: “Além de transmissor, o carrapato funciona como um reservatório de Rickettsia rickettsii no ambiente”, explica Fogaça. “Uma vez infectada, a fêmea pode fazer a transmissão para a prole, mantendo a bactéria ativa por gerações consecutivas nas populações de carrapatos.”

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Os próximos passos da pesquisa são confirmar que a alimentação sanguínea é realmente o fator que promove a apoptose pela produção de espécies reativas de oxigênio e, possivelmente, expandir os experimentos para outras espécies de carrapato.

Além da importância médica, com a diminuição da transmissão da bactéria para seres humanos, a pesquisadora destaca o impacto econômico que uma vacina capaz de diminuir a densidade populacional do carrapato-estrela teria na pecuária.

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Por se tratar de uma espécie sem preferência de alimentação determinada, o aracnídeo afeta também outros animais que estejam à disposição, como o gado, causando anemia e marcando seu couro. Apesar de ainda não haver estimativa de valores de prejuízos para a atividade, já há relatos de aumento da infestação.

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