O ciclo de vida celular normal é simples: as células nascem, se multiplicam quando o corpo precisa e morrem quando se danificam ou não são mais necessárias. O câncer surge quando o material genético de uma célula muda, fazendo com que ela se divida descontroladamente e não morra quando deveria.
Algumas células cancerosas, no entanto, são espertas: elas se escondem do sistema imunológico, tornando-se tumores avançados. Cientistas do MIT e do Dana-Farber Cancer Institute descobriram o segredo dessa invisibilidade: a ativação do gene SOX17.
SOX17: o “escudo” que protege o câncer
O estudo, publicado na revista Nature, revela que o SOX17 cria um ambiente imunossupressor, impedindo que as células cancerígenas sejam detectadas e destruídas pelo sistema imunológico. Isso ocorre através de diversos mecanismos:
- Desativação da resposta ao interferón gamma: o SOX17 impede que as células cancerígenas detectem o interferón gamma, uma molécula que alerta o sistema imunológico sobre a presença de células cancerosas.
- Redução da produção de proteínas MHC: as proteínas MHC são responsáveis por apresentar antígenos cancerosos ao sistema imunológico. O SOX17 diminui a produção dessas proteínas, dificultando o reconhecimento das células cancerígenas.
- Inibição da produção de quimiocinas: as quimiocinas atraem células T, que são responsáveis por destruir as células cancerígenas. O SOX17 inibe a produção de quimiocinas, impedindo que as células T cheguem ao tumor.
SOX17: um alvo promissor para o tratamento precoce do câncer de cólon
O estudo do MIT abre caminho para novas formas de tratamento do câncer de cólon, especialmente em seus estágios iniciais. Ao bloquear a função do gene SOX17, os cientistas acreditam que podem:
- Prevenir o desenvolvimento de pólipos: os pólipos são precursores do câncer de cólon. Ao bloquear o SOX17, os pólipos podem ser impedidos de se transformar em tumores cancerígenos.
- Melhorar a resposta à imunoterapia: a imunoterapia é um tipo de tratamento que estimula o sistema imunológico a combater o câncer. Ao bloquear o SOX17, as células cancerígenas se tornam mais visíveis para o sistema imunológico, tornando a imunoterapia mais eficaz.
Além disso, sem sinalização do interferon gama, minimiza-se a produção das proteínas MHC, responsáveis por mostrar antígenos cancerígenos ao sistema imunológico. Também afeta a produção das quimiocinas (moléculas imunes), responsáveis por recrutar células T, que contribuiriam para a destruição das células cancerígenas.
“Uma das funções principais do SOX17 é desativar a via de sinalização do interferon gama em células de câncer colorretal e em células de adenoma pré-cancerosas. Ao desativar a sinalização do receptor de interferon gama nas células tumorais, as células tumorais ficam ocultas das células T e podem crescer na presença de um sistema imunológico”, disse Yilmaz no comunicado.
Os pesquisadores se depararam com uma situação completamente diferente ao criar organoides de tumores de cólon que não apresentavam ativação do gene SOX17. Neste caso, observou-se como o sistema imunológico era capaz de destruir os tumores de forma mais eficaz. Isso sugere que a desativação do gene SOX17 poderia ser uma nova maneira de tratar o câncer nas primeiras etapas de seu desenvolvimento.
Não só foi estudado o desenvolvimento inicial do câncer de cólon, mas também a expressão do SOX17 em um estágio mais metastático. Isso demonstrava como a expressão do gene SOX17 diminuía à medida que o câncer se tornava mais agressivo. Isso sugere que quanto mais invasivo o câncer, menos importância tem o gene em questão, pois os tumores apresentam outros tipos de mecanismos à medida que se desenvolvem, para sua proteção contra o sistema imunológico.
“Acreditamos que isso faz muito sentido porque, à medida que os cânceres colorretais se tornam mais invasivos e metastáticos, existem outros mecanismos que criam um ambiente imunossupressor”, afirmou Yilmaz. E acrescentou: “À medida que o câncer de cólon se torna mais agressivo e ativa esses outros mecanismos, o SOX17 tem menos importância”.
O fator de transcrição SOX17 apresenta uma estrutura desorganizada. Isso dificulta o ataque de medicamentos a ele. É por isso que os pesquisadores buscam uma maneira alternativa de atacá-lo, identificando outras proteínas com as quais o SOX17 interage, para poder bloquear algumas dessas interações. Além disso, investigar o que desencadeia a ativação do SOX17 nas células pré-cancerosas.