Entre nos nossos canais do Telegram e WhatsApp para notícias em primeira mão.
Um novo medicamento para HIV, semelhante a uma “vacina”, que atualmente custa mais de US$ 40.000 por pessoa ao ano, poderia ser fabricado por apenas US$ 40, estimaram pesquisadores nesta terça-feira.
O medicamento antirretroviral Lenacapavir, desenvolvido pela gigante farmacêutica americana Gilead, tem sido aclamado como um potencial divisor de águas no combate ao HIV.
Ensaios iniciais mostraram que o tratamento é 100% eficaz na prevenção da infecção pelo HIV. E ele só precisa ser administrado duas vezes por ano, tornando o medicamento muito mais fácil de administrar do que os regimes atuais que requerem pílulas diárias.
“É como ter uma vacina, basicamente,” disse Andrew Hill, pesquisador da Universidade de Liverpool, ao AFP.
Atualmente, o tratamento custa mais de US$ 40.000 por ano para os pacientes em uma série de países, incluindo Estados Unidos, França, Noruega e Austrália.
Uma nova pesquisa, apresentada por Hill na Conferência Internacional de AIDS em Munique nesta terça-feira, investigou quanto o custo de fabricação do medicamento poderia diminuir se a Gilead permitisse a produção de versões genéricas mais baratas.
De acordo com a pesquisa, que ainda não foi revisada por pares, o custo anual do medicamento poderia ser reduzido para apenas US$ 40 — 1.000 vezes menos do que o preço atual. Esse preço foi baseado em volumes de produção suficientes para tratar 10 milhões de pessoas.
Se o medicamento fosse administrado a pessoas em alto risco de contrair HIV — como homens gays ou bissexuais, trabalhadores do sexo, prisioneiros ou, notavelmente, mulheres jovens na África — poderia “basicamente interromper a transmissão do HIV,” destacou Hill.
“Poderíamos realmente controlar a epidemia.”
No ano passado, houve 1,3 milhão de novas infecções por HIV, enquanto 39 milhões de pessoas vivem com o vírus, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.
‘Oportunidade para salvar o mundo’
Para estimar o custo, os pesquisadores analisaram remessas de matérias-primas do medicamento e conversaram com grandes fabricantes de genéricos na China e na Índia que já produzem seus “blocos de construção,” disse Hill.
A equipe internacional de pesquisadores já havia se mostrado correta em estimativas semelhantes no passado, acrescentou.
Há uma década, a equipe afirmou que o custo de fabricação do medicamento para hepatite C da Gilead — então precificado em US$ 84.000 por paciente — poderia cair para US$ 100 se fossem permitidos genéricos.
“Agora custa pouco menos de US$ 40 para curar a Hepatite C,” disse Hill.
A nova pesquisa foi anunciada um dia após a chefe da UNAIDS, Winnie Byanyima, ter solicitado à Gilead que “fizesse história” ao abrir o Lenacapavir ao Pool de Patentes de Medicamentos apoiado pela ONU, o que permitiria que genéricos fossem vendidos sob licença em países de baixa e média renda.
“A Gilead tem uma oportunidade de salvar o mundo,” disse ela ao AFP.
Um porta-voz da Gilead afirmou ao AFP que a empresa ainda está aguardando os dados dos ensaios clínicos de fase 3 sobre o uso do Lenacapavir para prevenir o HIV, então “é cedo para afirmar” o que o medicamento poderia ter no futuro.
A empresa tem uma estratégia para “fornecer versões de Lenacapavir de alta qualidade e baixo custo” em países “onde a necessidade é maior,” disse o porta-voz.
A empresa também está “agindo com urgência” para negociar contratos para um programa de licenciamento voluntário para “acelerar o acesso a essas versões do Lenacapavir em países com alta incidência e recursos limitados,” acrescentou o porta-voz.