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Foliões suados se espremem em ruas imundas ao som de hits obscenos. O cheiro do álcool paira no ar e se mistura ao odor forte de maconha, cerveja e urina. As pessoas seguem o trio elétrico desviando de casais emaranhados, garrafas vazias, vômito e preservativos usados espalhados pelo chão.
Os furtos são tão comuns nessa época do ano, que os foliões costumam carregar celulares antigos no bolso. O aparelho fica reservado para o ladrão. É o velho ditado: dos males, o menor. O importante, claro, é que Ivete está tocando ao fundo e a pegação está rolando. Começou o Carnaval!
Cenas grotescas como essas se repetem anualmente e revelam a preocupante decadência moral e cultural que alimenta a indústria do Carnaval no Brasil.
O cenário piora quando lembramos que toda essa patuscada é patrocinada pelo povo — inclusive por aqueles que odeiam a festividade. Milhões de reais do dinheiro público são jogados para o alto como purpurina. Esse financiamento gigantesco serve de engrenagem para a folia acontecer.
Notem que sempre nos empurraram goela abaixo que um bom brasileiro precisa amar loucamente o Carnaval. Afinal, o que há de tão errado em se jogar por alguns dias na mais pura diversão e inconsequência?
Foliões se agridem durante o desfile da Banda de Ipanema Foto: MARCOS DE PAULA / Agência o Globo
A Rede Globo — sempre ela —, contribuiu para criar o estereótipo do povo malandro que batuca na mesa de bar e acompanha as notas das escolas de samba como se fosse um Fla x Flu na final da Libertadores. É essa a visão que a maioria dos estrangeiros tem do Brasil ao chegar por aqui. Quem ousa permanecer no país percebe rapidamente que essa imagem da vitrine global é uma farsa.
Até a roqueira baiana Pitty — progressista até a alma — sofreu para se esquivar da pressão carnavalesca no início de sua carreira. A cantora nasceu em Salvador, aprecia rock pesado e nunca demonstrou simpatia pela bagunça de fevereiro. Precisou sair da Bahia e se mudar para São Paulo para conseguir fazer sucesso.
Nos ensinaram que rejeitar o carnaval é intriga de uma minoria. Coisa de gente infeliz e mal-amada. Será?
Uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) e Instituto Sensus, divulgada em 2004, demonstrou que somente 41,2% dos brasileiros gostam de carnaval, enquanto a maioria, 57,4% não quer nem ouvir falar do assunto.
O professor de “cultura popular” da Unesp, Alberto Ikeda, falou ao Estadão que considera que a superexposição do tema nos meios de comunicação dá a (falsa) impressão de que o Brasil é o País do Carnaval. “Atribuo esse índice baixo à questão da moral. Como o carnaval expõe o nu, é combatido por grupos religiosos mais conservadores, que cresceram muito nos últimos 20 anos.”
O docente foi generoso ao atribuir a repulsa ao carnaval apenas ao nu que fica exposto na TV, nas avenidas e desfiles das escolas de samba. O abismo é muito maior.
Foto: Laís Oliveira/iG Bahia
Em 2015, a Mocidade Independente de Padre Miguel apresentou um enredo que parece sintetizar o “sabor escatológico” do declínio humano: “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia?” O pessoal de um camarote lá em Salvador não teve dúvidas em responder: sexo, no meio de todo mundo e a 15 metros de altura. Sim, inventaram uma cápsula “do sexo”, “da rapidinha privê” e “da paquera”, como ficou conhecida a estrutura montada pela fabricante de preservativos Durex, dentro da qual casais podiam permanecer 15 minutos, fazendo o que bem entendessem e observando a festa abaixo.
A cápsula suspensa pesava cerca de sete toneladas e tinha banheiro, ar-condicionado, televisão, cama e vista para a cidade. Dezenas de casais e pares momentaneamente apaixonados utilizaram o espaço durante o carnaval. Aquilo tudo parecia um experimento social; talvez um medidor de decadência moral. Em nota, a Durex informou que todos os casais que entraram na “cápsula do sexo” ganharam um preservativo, reforçando a ideia de que todas as depravações sexuais são válidas desde que se use camisinha.
Ambiente perfeito para desconstruir e afrontar
Nessa zona a céu aberto, a esquerda consegue empurrar suas pautas identitárias sem dificuldades. O carnaval virou sinônimo de “resistência das minorias” e quebra de tabus.
RJ – Monica Benicio, ex-companheira de Marielle Franco, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Foto: DELMIRO JUNIOR/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Em matéria da moribunda CNN Brasil, com o título “Carnaval: a festa da diversidade”, a blogueira Letícia Vidica afirma que a festa se transformou em “um dos espaços mais importantes de diversidade e inclusão”.
Esse também é o entendimento da produtora do bloco Agrada Gregos, o maior bloco LGBT do Brasil. Segundo ela, “na rua todo mundo é igual e você conhece as pessoas, não as categorias. Humanizar cada pessoa e não reduzi-la a sua sexualidade, cor, raça.”
Seguindo essa linha, os bloquinhos cada vez mais ousados tornaram-se espaços para quebrar padrões e afrontar valores cristãos. Ambiente perfeito para a semente da ideologia do caos germinar.
É no pós-carnaval que o discurso abortista ganha força. Todo ano, milhares de mulheres que aproveitaram os dias de folia para dar uma escapadinha sexual ficam grávidas de filhos sem pai. Muitas rejeitam o bebê indesejado e procuram meios de assassinar a criança no ventre. As feministas fazem a festa, literalmente. Começa a correria para bombardear os jornais com histórias dramáticas de mães que morreram durante o procedimento de aborto clandestino. A solução pregada pela militância é a legalização do ato criminoso para garantir a integridade física da mulher. Ninguém culpa a “coitada” que fez sexo com quatro ou cinco desconhecidos no bloquinho, apenas o bebê.
“Não é preciso perguntar se mudou o carnaval ou mudamos nós.”
Em artigo publicado em 2004 para O Globo, o filósofo Olavo de Carvalho relacionou o Carnaval à cristofobia.
“Uma foto de capa resumia o enredo da Escola de Samba Beija-Flor, no qual Cristo e Satanás, trocando tiros nas ruas, eram nivelados como igualmente responsáveis pela violência carioca. Tempos atrás, a apoteose anual do caos ainda se apresentava como tolice inócua, palhaçada assumida. Encampada pela propaganda ideológica, tornou-se pretensiosa, arrogante, autoritária: quer ser levada a sério como alta mensagem moral, portadora da “boa nova” trazida por Lênin, Mao e Fidel. O enredo da Beija-Flor é exteriorização popularesca da “teologia da libertação”.
Em suma, o melhor caminho para melhorar o Carnaval é não participar dele. Admiro os inteligentes que se afastam da algazarra e escolhem destinos mais discretos para o feriado. Lembrem-se: filme, pipoca e tranquilidade não transmitem DST’s.
Bom Carnaval!
