Putin diz que sanções contra a Rússia serão introduzidas em qualquer caso, mas que “sempre há uma solução”

O líder usso Vladimir Putin, disse durante coletiva de imprensa nesta sexta-feira (18), ao lado do presidente bielorrusso Alexander Lukashenko, que as sanções ocidentais contra a Rússia, bem como contra a Bielorrússia, serão introduzidas em qualquer caso, a razão para isso será encontrada. A declaração foi divulgada pela Agência de Notícias Russa TASS.

“As sanções serão impostas em qualquer caso. Há alguma razão hoje, por exemplo, relacionada aos eventos na Ucrânia, ou não existe tal razão – será encontrada, porque o objetivo é diferente, o objetivo é desacelerar o desenvolvimento, neste caso, Rússia e Bielorrússia Na busca desse objetivo, sempre haverá uma razão para introduzir certas restrições ilegítimas, e isso não passa de concorrência desleal”, disse o líder russo.

Segundo ele, a pressão das sanções “é absolutamente ilegítima”. “Esta é uma violação grosseira do direito internacional, que aqueles que agora estão falando sobre isso [sobre possíveis novas sanções] se preocupam apenas quando é benéfico para eles. E quando não é benéfico, eles ficam felizes em esquecer todas as normas do direito internacional público”, enfatizou Putin.

Ele observou com pesar que Moscou e Minsk vivem “em tal paradigma há muitos e muitos anos, porque os que estão no poder, [que] se consideram os mestres da vida de hoje, sempre interpretam tudo apenas em seu próprio favor e negligenciam os interesses de outros [países]” . “Há apenas uma maneira de superar esse estado de coisas – nos fortalecer a partir de dentro e, acima de tudo, é claro, na esfera econômica”, afirmou o chefe de Estado.

Respondendo à pergunta sobre quem pode ajudar a Rússia e a Bielorrússia a combater as sanções, o presidente da Federação Russa observou que Moscou e Minsk “devem se ajudar nesse sentido”. “E é exatamente para isso que nosso encontro de hoje [com Lukashenka] visa, foi antes de tudo no centro de nossas atenções”, disse Putin, explicando que se tratava de questões de cooperação econômica. Ele não falou sobre os detalhes que dizem respeito ao combate às sanções, ressaltando que “sempre há uma solução”. O líder russo também concordou com a afirmação de seu homólogo bielorrusso de que o mundo é grande e tudo não pode ser trancado: “Eu me junto a esta avaliação”.

Como Putin observou, “muito foi feito na Rússia nos últimos oito anos” no campo da substituição de importações. “Não fizemos tudo o que planejamos, mas em geral pode-se dizer que mais de 90 por cento das tarefas que estabelecemos e formulamos para nós mesmos foram resolvidas”, disse o líder russo, observando, no entanto, que “muito permanece fazer” nesta área, o que é necessário para aumentar o nível de soberania económica.

Insatisfação com as sanções no mundo

Segundo ele, muitos países do mundo estão enfrentando as consequências das restrições de sanções, “até mesmo aliados dos Estados Unidos”.

“Eles apenas calam a boca, ficam em silêncio, toleram. Mas <…> ninguém gosta disso: eles não gostam de sanções secundárias e não gostam de pressão direta de sanções”, disse Putin.

“Mais cedo ou mais tarde, esse abscesso, é claro, vai estourar. Mas hoje é importante para nós elevarmos o nível de nossa soberania econômica e sermos mais capazes, modernos, e dar um novo impulso ao desenvolvimento de áreas modernas da economia. ”, enfatizou o líder russo. Ele esclareceu que estamos falando de digitalização, inteligência artificial, genética e assim por diante. “Este é um trabalho complexo e grande, essa questão não pode ser resolvida de hoje para amanhã, mas precisamos caminhar nessa direção, e os processos de integração em que estamos engajados são dedicados justamente a isso – a tarefa de aumentar nossa competitividade, e com base nisso vamos nos esforçar para elevar o nível de bem-estar de nossos cidadãos”, concluiu Putin.

Objetivo das sanções

As sanções de vários estados contra a Rússia e a Bielorrússia visam complicar a situação em ambos os países, disse o presidente russo.

“No setor de crédito e financeiro, estão sendo tomadas medidas conjuntas para nivelar e minimizar as consequências de sanções ilegítimas de alguns países com o objetivo de complicar a situação socioeconômica em ambos os nossos países”, disse.

Falando sobre a cooperação entre Moscou e Minsk, Putin observou que também foram lançados trabalhos em áreas tão importantes como a integração dos sistemas de pagamento, a criação de um espaço de pagamento comum, a harmonização da legislação tributária, aduaneira e trabalhista dos dois países e a unificação dos mercados de gás, petróleo, derivados de petróleo e eletricidade.

“Gostaria de enfatizar que todos os nossos esforços conjuntos para implementar a agenda econômica do Estado da União visam, em última análise, garantir o crescimento econômico e melhorar os padrões de vida de nossos cidadãos”, disse o presidente da Federação Russa.

Segundo ele, tarefas semelhantes estão sendo enfrentadas por outros projetos de integração em grande escala, incluindo a União Econômica da Eurásia (EAEU), dentro da qual está sendo formado um “mercado verdadeiramente único da Eurásia para bens, serviços, capital e trabalho”. “É importante que todos os estados membros da EAEU sintam retornos práticos reais desses processos”, acrescentou o chefe do estado russo.

Veja um trecho da declaração do líder russo divulado pelo Kremlin:

18 de fevereiro de 2022

Presidente da Rússia, Vladimir Putin: Senhor Presidente, colegas, senhoras e senhores,

Em primeiro lugar, gostaria de expressar a minha gratidão ao Presidente da República da Bielorrússia por aceitar o meu convite e vir hoje a Moscovo.

Entendemos que o presidente tem uma agenda muito ocupada agora, em conexão com os preparativos necessários para um importante evento doméstico: o próximo referendo nacional da nova versão da Constituição da Bielorrússia em 27 de fevereiro. Claro, desejamos sucesso aos nossos amigos bielorrussos em segurá-lo.

Como ambos os lados salientaram muitas vezes, a Rússia e a Bielorrússia são bons vizinhos, aliados próximos e parceiros estratégicos. Estamos profundamente ligados por uma história comum, valores morais e laços familiares. A cooperação bilateral diversificada é sempre construída sobre os princípios de respeito mútuo, apoio e consideração dos interesses de cada um.

É claro que sempre prestamos e prestaremos atenção especial à expansão dos laços comerciais e econômicos. Apesar das dificuldades relacionadas ao coronavírus, o comércio está crescendo: aumentou mais de um terço em 2021, ou 34,4%, e totalizou uma quantia significativa de US$ 38,5 bilhões.

Quase metade de todos os produtos fabricados na Bielorrússia são exportados para a Rússia, e a Rússia é um dos principais investidores no setor real da economia bielorrussa. O investimento russo representa cerca de 30 por cento do investimento estrangeiro total na Bielorrússia. E certamente tentaremos criar condições ainda mais confortáveis ​​para as comunidades empresariais dos dois países e incentivar iniciativas empreendedoras.

Naturalmente, as questões relacionadas com a construção do Estado da União e a promoção da integração no mesmo estiveram entre os temas centrais das nossas conversações com o Presidente da Bielorrússia.

Estudamos cuidadosamente o andamento da implementação das decisões estratégicas aprovadas na reunião de 4 de novembro de 2021 do Conselho Supremo de Estado do Estado da União. Discutimos também os esforços para implementar os 28 programas setoriais da União e, em geral, as disposições do Tratado que institui o Estado da União. Durante as conversações, notamos que os 28 programas sobre os quais estamos falando se baseiam em nossos esforços de cooperação e integração de longa data nos campos relevantes.

Ambos os lados observaram que as agências relevantes da Rússia e da Bielorrússia estão trabalhando juntas efetivamente na promoção da integração em todos os níveis. O grupo de alto nível para coordenar nossa cooperação de integração vem ganhando força. Realizou uma reunião ordinária em meados de dezembro.

Nossos respectivos governos também mantiveram contato próximo. Deixe-me lembrá-lo de que nossos primeiros-ministros realizaram oito reuniões no ano passado. Na verdade, eles mantêm contato constantemente, quase semanalmente, se necessário.

É claro que o senhor Lukashenko e eu mantemos a implementação do processo relacionado à integração sob nosso controle pessoal. Podemos delinear várias áreas onde alcançamos progressos tangíveis recentemente.

Em particular, no setor de transporte e logística, houve um aumento significativo nos trânsitos de exportações bielorrussas em muitas categorias através do território russo para países terceiros. Continuaremos nossos esforços consistentes para construir um mercado comum de frete e passageiros no Estado da União.

No setor de crédito e financeiro, temos cooperado para superar e minimizar as consequências de sanções ilegítimas impostas por alguns países com o objetivo de piorar a situação socioeconômica em nossos países.

Além disso, estamos trabalhando na integração de nossos sistemas de pagamento e na criação de uma nova estrutura de pagamento, além de harmonizar as leis tributária, aduaneira e trabalhista dos dois países e unificar nossos mercados de gás, petróleo, petroquímica e energia elétrica setores.

Gostaria de observar que nossos esforços conjuntos para implementar a agenda econômica do Estado da União visam, em última análise, garantir o crescimento econômico e melhorar os padrões de vida de nosso povo.

Nossos outros grandes projetos de integração têm os mesmos objetivos. Refiro-me à União Económica da Eurásia, no quadro da qual estamos a criar um mercado euro-asiático verdadeiramente comum para bens, serviços, capital e mão-de-obra. É importante que todos os estados membros da EAEU sintam os efeitos práticos desses processos.

Durante as nossas conversações de hoje, tivemos uma discussão aprofundada sobre o reforço do espaço de defesa comum da Rússia e da Bielorrússia. Concordamos em continuar a tomar as medidas coletivas necessárias para garantir a segurança de nossos dois estados à luz da crescente atividade militar dos estados da OTAN na fronteira externa do Estado da União.

Neste contexto, enaltecemos os exercícios militares Allied Resolve 2022, cuja fase ativa decorrerá até 20 de fevereiro na Bielorrússia. Gostaria de salientar que estes exercícios são puramente defensivos e não ameaçam ninguém. Como sabem, os ministérios da defesa dos nossos dois estados anunciaram atempadamente a essência e os objectivos destas manobras planeadas – gostaria de frisar isto – planeadas. Como disse hoje o Presidente da Bielorrússia, que os assistiu, muitos representantes estrangeiros e adidos militares estão a assistir aos exercícios e podem ver tudo com os seus próprios olhos.

Atendendo a um pedido do presidente Lukashenko, falei sobre minhas recentes reuniões com líderes estrangeiros sobre a provisão dos EUA e da OTAN de garantias de segurança de longo prazo e juridicamente vinculativas para a Rússia. Acreditamos que é lógico e compreensível que esta questão também diga respeito aos nossos aliados bielorrussos.

Discutimos a situação com os pedidos da Rússia para o Ocidente, dos quais os mais importantes dizem respeito à não expansão da OTAN, à não implantação de sistemas de armas de ataque nas proximidades da fronteira russa e ao retorno do potencial militar e infraestrutura do bloco na Europa ao estado de 1997, quando foi assinado o Ato Fundador Rússia-OTAN.