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O regime de Nicolás Maduro mantém o mesmo roteiro em todas as eleições que a Venezuela vive desde sua chegada ao poder em Miraflores. O ditador sempre se esforçou em montar uma ampla maquinaria de perseguição e repressão contra a oposição, ao mesmo tempo que nunca permitiu que observadores internacionais “não alinhados” ao chavismo participassem do processo eleitoral. E este domingo não será exceção.
Durante a última semana, o chanceler chavista, Yván Gil, recebeu dezenas de delegações que participarão como observadores nas eleições de amanhã. Todas elas, no entanto, atendem às exigências do regime: serem aliados do ditador e não se atreverem a esboçar uma simples crítica ao processo eleitoral. Casos como os de Alberto Fernández (Argentina) e Lula (Brasil) demonstram isso. Ambos deram suas opiniões e, como não agradaram em Caracas, não foram recebidos.
Por outro lado, as eleições de amanhã contarão com a presença de observadores da Rússia, China, Turquia e de países da União Africana. Todas essas nações se caracterizam, paradoxalmente, por não garantirem eleições transparentes e livres em seus respectivos territórios.
O chanceler chavista informou que, entre o grupo de observadores russos participantes, estão Tatiana Mashkova, do Comitê Nacional para a Cooperação Econômica com os Países Latino-Americanos; Tatyana Desyatova e Sergei Timokhov, membros da Brigada Internacional do Partido Comunista Russo; e Leonid Savin, pesquisador da Academia de Ciências da nação eurasiana.
“Esses observadores desempenham um papel crucial no fortalecimento da transparência e legitimidade do processo eleitoral, garantindo que os princípios democráticos e os direitos civis de todos os cidadãos sejam protegidos”, indica o comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores da Venezuela.
A Rússia também realizou eleições este ano, nas quais Vladimir Putin se proclamou vencedor com 87% dos votos, em meio a denúncias de fraude e irregularidades tanto pela oposição russa quanto por grande parte da comunidade internacional.
No entanto, a presença dos observadores russos não surpreende, já que o chefe do Kremlin é um dos principais apoiadores do ditador Maduro, juntamente com China, Cuba e Irã.
Na sexta-feira, Gil recebeu os observadores turcos enviados pelo regime de Tayyip Erdogan.
Também chegaram a Caracas os ex-presidentes Leonel Fernández (República Dominicana), Ernesto Samper (Colômbia) e Manuel Zelaya (Honduras), próximos à ditadura venezuelana e que também estarão presentes nas eleições do próximo 28 de julho. Além disso, espera-se a presença do ex-chefe de Estado espanhol, Rodríguez Zapatero, que foi duramente criticado neste sábado por parlamentares espanhóis do Partido Popular (PP) que foram deportados da Venezuela na sexta-feira.
Na sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores chavista informou que realizou uma reunião com a participação de mais de 800 convidados, provenientes de 100 países, “que ao final do dia se distribuíram por todos os estados do país, onde no domingo atuarão como observadores do processo eleitoral”.
Dessa forma, o ditador Maduro instala em cada setor do país “olhos” amigos que, mais uma vez, poderão avalizar uma nova fraude eleitoral.
O Centro Carter, ONG fundada em 1982 pelo ex-presidente Jimmy Carter, foi uma das organizações estrangeiras convidadas diretamente pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), conforme estabelecido pelos acordos de Barbados. No entanto, a organização, assim como a missão da ONU, desempenhará funções de observação “técnica”, ou seja, limitadas.
Também foram convidadas pelas autoridades eleitorais chavistas a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), a Comunidade do Caribe (CARICOM), a União Africana e o Observatório do Pensamento Estratégico para a Integração Regional (OPEIR).
Os críticos, de fora
Diversas delegações de parlamentares espanhóis e latino-americanos, assim como uma de ex-presidentes convidada pela oposição venezuelana, não puderam entrar, após a negativa da ditadura de Maduro.
Entre esses grupos, o mais destacado foi o formado por ex-presidentes e uma ex-vice-presidente latino-americanos, que não puderam viajar na sexta-feira para a Venezuela depois que o avião da Copa Airlines em que estavam teve a decolagem impedida no Panamá. O grupo esclareceu que participaria das eleições venezuelanas como “convidados” da oposição, pois não poderiam se inscrever legalmente como observadores.
“Nós dissemos claramente que fomos, ou quisemos ir para a Venezuela como convidados de Edmundo (González Urrutia) e María Corina. Era um acompanhamento, (…) não como testemunhas, porque obviamente não teríamos possibilidade de nos inscrevermos no Conselho Nacional Eleitoral (da Venezuela)”, disse a ex-vice-presidente da Colômbia, Marta Lucía Ramírez, na capital panamenha.
A ex-vice-presidente colombiana fez suas declarações em uma coletiva de imprensa no Palácio Presidencial, juntamente com os ex-presidentes Mireya Moscoso, do Panamá, Miguel Ángel Rodríguez, da Costa Rica, Jorge Quiroga, da Bolívia, e Vicente Fox, do México, algumas horas depois de desembarcarem do avião da Copa Airlines.
Segundo o Governo do Panamá, o impedimento de voo se deu porque o Governo da Venezuela “bloqueou o espaço aéreo” do país e “reteve aviões” da Copa Airlines, entre eles o que transportava esses ex-presidentes, “por várias horas”, por “questões políticas externas” e após uma decisão “unânime” do Executivo venezuelano.
A Venezuela também impediu a entrada de uma delegação de parlamentares do Partido Popular (PP) espanhol, que havia sido convidada pela oposição para estar presente durante as eleições de domingo.
Deputados, eurodeputados e senadores do PP, liderados pelo eurodeputado Esteban González Pons e pelo porta-voz do PP no Congresso, Miguel Tellado, viajaram à Venezuela para acompanhar as eleições presidenciais deste domingo. Segundo fontes do PP, as autoridades chavistas comunicaram que a entrada deles no país estava proibida e que seriam deportados, obrigando-os a retornar à Espanha.
“Observamos uma ditadura que está apodrecendo e caindo, e tememos que amanhã seja capaz das maiores atrocidades para tentar impedir a vitória imparável da oposição democrática”, disse González Pons neste sábado, após chegar a Madri. E apontou diretamente para o ex-presidente Zapatero: “Algum dia ele terá que explicar, ou então o novo governo venezuelano investigar, quais são seus vínculos com essa ditadura tão criminosa. E aviso, se neste fim de semana o governo de Maduro fizer algo que ninguém deseja, Zapatero será diretamente corresponsável”.
Por sua vez, a senadora colombiana Angélica Lozano e a ex-prefeita de Bogotá, Claudia López, denunciaram na sexta-feira que também foram deportadas da Venezuela, país ao qual tinham chegado para se reunir com a líder opositora María Corina Machado, e que tiveram seus passaportes confiscados por uma hora e meia “sem argumentos nem informações”.
“Estamos sendo expulsas sem nenhuma razão (…) solidariedade com este país sofredor”, afirmou Lozano em um vídeo gravado enquanto era escoltada no Aeroporto Internacional de Maiquetía, em Caracas.
O governo chileno enviou uma nota de protesto ao governo da Venezuela por ter impedido a entrada no país dos senadores Felipe Kast (centro-direita) e José Manuel Rojo Edwards (ultra-direita), convidados pela oposição venezuelana.
“Acabamos de ser informados de que estamos sendo deportados porque não cumprimos com o perfil nem com as condições para entrar no país. É completamente arbitrário. Isso demonstra que todas as palavras de alguns que dizem que é uma democracia são simplesmente uma grande mentira”, denunciou Kast em um vídeo publicado na rede social X.
A Presidência do Senado chileno assegurou que os acontecimentos são “antidemocráticos” e “denotam a maior gravidade”, porque “os senadores chilenos cumprem com todas as condições usualmente exigidas pela República Bolivariana da Venezuela para entrar em seu território”.
“Diante das declarações falsas contra as urnas de votação eletrônicas brasileiras, que, ao contrário do que afirmam as autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos…”, afirmou o TSE em um comunicado.
Maduro assegurou na terça-feira que os sistemas eleitorais do Brasil, Estados Unidos e Colômbia não são verificáveis, uma afirmação que contrasta com o que o regime chavista afirmou sobre o sistema eleitoral venezuelano, ao qual qualificou como “o melhor do mundo”.
O ataque de Maduro ao sistema eleitoral brasileiro ocorreu um dia após Lula afirmar que estava assustado com as declarações do venezuelano sobre um “banho de sangue” caso seja derrotado nas eleições, e recomendou a Maduro “aprender a perder”.
“Não é anormal que na civilização atual haja candidatos de direita e esquerda em uma eleição”, mas “o que não se pode é desrespeitar os valores democráticos”, declarou Lula em uma entrevista com correspondentes estrangeiros.
Ele confessou que ficou “assustado” ao saber que Maduro havia ameaçado com um “banho de sangue” caso fosse derrotado nas urnas.