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Cientistas acreditam ter descoberto a verdadeira origem da pandemia de Covid — e rejeitaram a teoria popular de que o vírus teria vazado de um laboratório.
Um importante estudo internacional publicado nesta quinta-feira (19) afirma que o vírus começou sua trajetória em um “mercado úmido” em Wuhan, China, e não em um experimento científico.
Pesquisadores testaram amostras genéticas de animais vendidos nas barracas do mercado de Wuhan em 2019 e encontraram vestígios do vírus da Covid em algumas espécies.
Eles argumentam que esta é a primeira vez que cientistas identificam os animais que podem ter sido responsáveis pela transmissão para os humanos.
“Isso adiciona mais uma camada às evidências que apontam para o mesmo cenário: que animais infectados foram introduzidos no mercado em meados ou no final de novembro de 2019, o que desencadeou a pandemia”, disse Kristian Andersen, autor do estudo, do Scripps Research, conforme publicado pelo Daily Mail.
O cão-racoon, um animal semelhante a uma raposa comum no Leste Asiático, foi apontado como o principal portador do vírus.
Outros animais, como civetas-de-pálpebras-mascaradas, ratos-bambu e porcos-espinhos da Malásia, também foram encontrados com Covid-19 antes de a doença se espalhar para os humanos.
Esse não é um lista definitiva, já que muitas das principais espécies animais foram retiradas do mercado antes da chegada da equipe de saúde chinesa, afirmou Florence Débarre, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, que liderou o estudo.
Os cientistas observam que muitos dos primeiros casos em Wuhan, uma cidade de 12 milhões de habitantes, eram de trabalhadores do mercado.
O debate sobre a fonte da pandemia, que matou 7 milhões de pessoas globalmente e mais de 200 mil no Reino Unido, continua acalorado.
A teoria alternativa sugere que a pandemia foi causada por um vazamento de um dos laboratórios do Instituto de Virologia de Wuhan.
Essa teoria ganhou força após o diretor do FBI, Christopher Wray, afirmar que o bureau acredita que a Covid-19 “provavelmente” se originou em um “laboratório controlado pelo governo chinês”.
O presidente Biden não conseguiu desacreditar a teoria do vazamento, mesmo após ordenar uma investigação sobre o assunto.
Com a publicação deste último estudo, os cientistas agora insistem que a pandemia realmente se originou no mercado, conforme relatado inicialmente.
De acordo com o tabloide britânico, o estudo é baseado em uma nova análise de dados divulgados pelo Centro Chinês para Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Os dados foram coletados de mais de 800 amostras coletadas no e ao redor do mercado atacadista de frutos do mar Huanan, começando em 1º de janeiro de 2020, e de amostras genéticas relatadas de pacientes com Covid-19 no início da pandemia.
Em 1º de janeiro de 2020, após a remoção dos animais e apenas horas após o fechamento do mercado, investigadores do CDC chinês foram ao local coletar amostras.
Eles esfregaram os pisos, paredes e outras superfícies das barracas e retornaram dias depois para focar em superfícies de barracas que vendiam vida selvagem, como gaiolas e carrinhos usados para mover os animais.
Eles também coletaram amostras de drenos e esgotos.
“Essa é a coisa mais arriscada que podemos fazer — pegar animais selvagens, que estão repletos de vírus, e depois brincar com fogo ao trazê-los para o contato com humanos que vivem no coração de grandes cidades, cujas densidades populacionais facilitam a proliferação desses vírus”, disse Michael Worobey, da Universidade do Arizona, um dos autores do estudo.
Outros especialistas concordam. Comentando separadamente, o Professor James Wood, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade de Cambridge, que não participou do estudo, afirmou: “Embora esforços tenham sido feitos globalmente para melhorar a biossegurança em laboratórios e garantir que os vírus não possam escapar inadvertidamente, pouco ou nada foi feito para limitar o comércio de vida selvagem.”
A pandemia de Covid-19 teve um efeito devastador sobre a população do Reino Unido, com pelo menos 235.000 britânicos considerados mortos pelo vírus desde o início da pandemia em 2019.
Um relatório da investigação sobre a Covid-19, publicado em julho deste ano, afirmou que a falha do governo britânico em se preparar para uma pandemia “previsível” levou a mortes em massa, “sofrimentos indescritíveis” e “turmoil econômico”.
A presidente da investigação, Baroness Heather Hallett, em seu primeiro relatório contundente sobre o surto, afirmou que a “ausência prejudicial de foco” em medidas que seriam necessárias para lidar com uma doença de rápida disseminação foi a culpada pela “tragédia de cada morte individual”.
O documento de 240 páginas também pediu por uma “reforma radical” para proteger contra futuras pandemias e alertou: “Não se trata de saber ‘se’ uma ocorrerá, mas ‘quando’.”
Em seu tocante prefácio de 2.000 palavras, a Baroness Hallett concluiu que “nunca mais uma doença pode levar a tantas mortes e tanto sofrimento”.
Uma grande falha, de acordo com a investigação, foi a falta de “um sistema que pudesse ser ampliado para testar, rastrear e isolar” pessoas.
A investigação afirmou não ter “hesitação” em concluir que os “processos, planejamento e políticas das estruturas de contingência civil dentro do governo do Reino Unido e administrações descentralizadas falharam com seus cidadãos”.
O relatório acrescentou: “Apesar de uma infinidade de documentações, a orientação de planejamento era insuficientemente robusta e flexível, e a documentação política estava desatualizada, desnecessariamente burocrática e infectada por jargão.”
Ela reconheceu que se preparar para uma pandemia custa dinheiro, mas alertou: “O imenso custo financeiro, econômico e humano da pandemia de Covid-19 é prova de que, na área de preparação e resiliência, o dinheiro gasto em sistemas de proteção é vital e será amplamente superado pelo custo de não fazê-lo.
“Se o Reino Unido tivesse estado melhor preparado e mais resiliente para a pandemia, alguns desses custos financeiros e humanos poderiam ter sido evitados.”
Ela destacou que altos níveis pré-existentes de doenças cardíacas, diabetes, doenças respiratórias e obesidade, além de níveis gerais de saúde precária e desigualdades de saúde, tornaram o Reino Unido mais vulnerável.
Mas, abordando a preparação do Estado, ela acrescentou: “Deve haver uma reforma radical. Nunca mais uma doença pode levar a tantas mortes e tanto sofrimento.”
Ela afirmou que o planejamento e a orientação eram “insuficientemente robustos e flexíveis”, que a documentação política estava “desatualizada, desnecessariamente burocrática e infectada por jargão”, e que os conselhos eram “frequentemente minados pelo pensamento de grupo”.
Ela também reconheceu que a preparação e resiliência do governo estavam “evidentemente sob constante pressão” no momento em que a pandemia surgiu, dado a preocupação de vários departamentos de Whitehall em deixar a União Europeia.
O relatório de 240 páginas disse: “As evidências sugerem que havia, e ainda há, limites reais na capacidade do Estado para lidar com uma tendência crescente de múltiplas e complexas emergências civis ocorrendo ao mesmo tempo.”
A Baroness Hallett acrescentou: “Não tenho hesitação em concluir que os processos, planejamento e políticas das estruturas de contingência civil em todo o Reino Unido falharam com os cidadãos de todas as quatro nações.
“Houve erros graves por parte do Estado e falhas sérias em nossos sistemas de emergência civil. Isso não pode acontecer novamente.
“A menos que as lições sejam aprendidas e mudanças fundamentais sejam implementadas, o custo humano e financeiro e o sacrifício da pandemia de Covid-19 terão sido em vão.
“Os relatos angustiantes de perda e luto dados por testemunhas enlutadas e outros que sofreram durante a pandemia servem para nos lembrar por que deve haver reforma radical.”
Ela disse que a única estratégia do governo para pandemias, de 2011, “estava desatualizada e carecia de adaptabilidade… e estava repleta de falhas graves, que estavam à vista de todos”.
Essa estratégia focava apenas em um tipo de pandemia e, segundo ela, “não considerou adequadamente a prevenção ou a proporcionalidade da resposta, e não prestou atenção suficiente às consequências econômicas e sociais da resposta à pandemia”.
Consequentemente, disse, foi “praticamente abandonada em seu primeiro encontro com a pandemia” pelo então Secretário de Saúde, Matt Hancock.
Ela também observou que a responsabilidade pela estratégia antes da pandemia se estendeu durante os mandatos dos dois Secretários de Estado da Saúde anteriores: Andrew Lansley, de maio de 2010 a setembro de 2012, e Jeremy Hunt, de setembro de 2012 a julho de 2018.
O relatório identificou como os líderes falharam em levar em conta as lições do Exercício Cygnus, um treinamento de três dias envolvendo quase 1.000 funcionários do governo para testar a resposta do Reino Unido a uma grave pandemia de influenza.
O exercício destacou “a falta de capacidade e recursos para aumentar recursos em várias áreas-chave, incluindo o NHS, cuidados sociais e a gestão de mortes em excesso”.
No entanto, não houve referência de que os planos, políticas e capacidades de resposta do Reino Unido para pandemias não eram suficientes para lidar com as exigências extremas de uma grave pandemia durante uma reunião subsequente para discutir o Cygnus, envolvendo a então Primeira-Ministra Theresa May e membros do Conselho de Segurança Nacional.
A Baroness Hallett fez várias recomendações, incluindo a realização de um exercício semelhante a cada três anos, publicando os resultados.
Ela também sugeriu uma “simplificação radical” dos sistemas de preparação e resiliência para emergências civis.
Ela disse que o governo “poderia e deveria” ter investido no sistema de teste e rastreamento, que foi usado para tentar identificar como o vírus estava se espalhando.
O lockdown, um dos elementos mais divisivos da resposta à Covid-19, será examinado em mais detalhes em um relatório futuro.
Mas a Baroness Hallett reconheceu que ele “deve ser uma medida de último recurso”.
Em uma declaração, o presidente da investigação disse: “Meu relatório recomenda uma reforma fundamental da maneira como o governo do Reino Unido e as administrações descentralizadas se preparam para emergências civis de sistema inteiro.
“Se as reformas que recomendo forem implementadas, a nação será mais resiliente e melhor capaz de evitar as terríveis perdas e custos para a sociedade que a pandemia de Covid-19 trouxe.
“Espero que todas as minhas recomendações sejam atendidas, com um cronograma a ser acordado com as respectivas administrações. Eu, e minha equipe, monitoraremos isso de perto.”
