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O Brasil registrou 65.602 assassinatos em 2017. O dado foi divulgado nesta quarta-feira (5) por meio do Atlas da Violência, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Na comparação com 2016, quando foram registrados 62.517 assassinatos, os homicídios cresceram 4,2%. Na comparação com 2007, a comparação é ainda maior: 24%.
Esse é o maior nível histórico de letalidade violenta intencional no país, que atingiu a taxa de 31,6 mortes violentas para cada 100 mil habitantes. Em 2016, a taxa era de 30,3 ocorrências — e 25,5 casos dez anos antes.
Os dados de 2017 revelam um aumento da violência especialmente em estados do Norte e do Nordeste do país. Sete unidades da federação tiveram aumento acima de 10%.
Ceará, o Acre e o Rio Grande do Norte estão entre os estados com o maior crescimento da violência no ano estudado. Os dados da pesquisa apontam que o avanço se deve às facções criminosas nesta região. Só no Ceará, por exemplo, o número de homicídios cresceu 48,2%, enquanto no Acre o aumento foi de 39,9%.
Por outro lado, estados como São Paulo continuam a registrar uma paulatina queda.
“Estamos diante de algo estontiante e fora do padrão mundial. Isso implica em sofrimento, dor e num custo enorme para o país seja na economia, social, atração de turistas seja na realização de negócios”, disse o coordenador do Ipea, Daniel Cerqueira em entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira. “Estamos diante de uma tragédia humana e de uma tragédia econômica, que consome 6% do nosso PIB”, explicou ele.
Perfil das vítimas
O relatório destaca o que chamou de “juventude perdida”. Isso porque jovens entre 15 e 29 anos são a parcela mais atingida pela violência.
Em 2017, foram assassinados 35.783 jovens, uma taxa de 69,9 mortes a cada 100 mil – recorde dos últimos 10 anos, mais que o dobro da média geral do país.
“Temos que manter os meninos vivos com acesso à boa educação e oportunidade de trabalho. Isso impactaria na taxa de homicídios e na produtividade do Brasil” disse Cerqueira.
Um outro dado mostra o quão grave é a situação: os homicídios foram a causa de 51,8% de todas as mortes na faixa de 15 a 19 anos. Em 15 estados, a taxa de jovens mortos é superior à média nacional. Entre esses entes da federação estão Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco.
O estudo mostra ainda um aprofundamento da desigualdade racial nos indicadores de violência letal no Brasil. Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios foram indivíduos negros (a soma de pretos e pardos, segundo a classificação do IBGE, utilizada também pelo sistema do Ministério da Saúde).
“A taxa de homicídios por 100 mil negros foi de 43,1, ao passo que a taxa de não negros (brancos, amarelos e indígenas) foi de 16,0. Ou seja, proporcionalmente às respectivas populações, para cada indivíduo não negro que sofreu homicídio em 2017, aproximadamente, 2,7 negros foram mortos”, aponta o levantamento.
Ainda de acordo com o relatório, 92% das vítimas eram homens, ao passo que 8% eram mulheres. A maior parte possuía baixa escolaridade: 74,6% dos homens e 66,8% das mulheres vítimas tinham até sete anos de estudo.
A grande maioria também era solteira: 80,4% dos homens mortos e 70,9% das mulheres.
No caso dos assassinatos de vítimas do sexo masculino, 76,9% ocorreram por meio de arma de fogo. Quando se trata de homicídios de mulheres, o percentual é de 53,8%.
Violência contra a mulher
O relatório também mostra que hovue crescimento no número de assassinatos de mulheres. Em 2017, foram 4.936 mulheres vítimas, de acordo com os registros do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.
Se for levada em conta a última década, de 2007 a 2017, houve aumento de 30,7% no número de homicídios de mulheres. A taxa passou de 3,9 para 4,7 assassinadas a cada 100 mil. Dentro desse universo, destaca-se a desigualdade racial entre as vítimas de assassinatos.
Os dados revelam que, assim como os homens negros, as mulheres negras são as maiores vítimas. Enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras teve crescimento de 1,6% entre 2007 e 2017, a de mulheres negras cresceu 29,9%.
As negras representam 66% do total de mulheres mortas de forma violenta em 2017.
Violência contra a população LBTQI+
Pela primeira vez o Atlas fez também um capítulo para mostrar a violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexuais (LGBTI+).
Apesar de não haver dados do tamanho da população LGBTI+, já que o IBGE não faz nenhuma pergunta sobre orientação sexual, o Atlas usa dados do Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e dos registros administrativos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.
No último ano, diferentemente dos demais grupos, como idosos e crianças, houve crescimento de 127% de denúncias de homicídio contra a população LGBTI+.
O Sinan, que classifica a orientação sexual da vítima, registrou aumento de 10% a 15,7% de casos de violência contra homossexuais e de 30,9% a 35,3% contra bissexuais em 2015 e 2016.