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Em mais um capítulo do festival de estultices produzido pelas casas legislativas esparramadas pelo Brasil, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo aprovou – e o governador João Doria sancionou – quatro leis que, embora destinem-se ao completo esquecimento imediatamente após publicação, demonstram bem como nossos representantes gastam boa parte de seu tempo com irrelevâncias demagógicas.
Assim é que São Paulo agora tem em seu calendário oficial, o “Dia da Escola Bíblica“, o “Dia da Assembleia de Deus Ministério de Madureira” e o “Dia da Igreja Sara Nossa Terra“.
O mais vistoso dos textos sancionados, no entanto, é o que cria o “O Dia da Oração pelas Autoridades da Nação“:
de autoria de dois deputados filiados ao PV, a lei se inspira em trechos bíblicos que, segundo os autores, falam que “toda autoridade é levantada por Deus“. Já nas justificativas à proposição, os eminentes legisladores dizem:
“Pedimos que o povo passe a orar e não criticar as autoridades constituídas no estado de São Paulo e por toda a nação Brasileira“
— Opa! Pedido atendido, excelências! Nunca mais vou criticar, só orar!
E prosseguem:
“Temos observado que a prática da oração e a intercessão pelas pessoas trazem resultados extraordinários, surpreendentes e até milagrosos, para os que creem“
— Será mesmo, excelências? Então eu devo estar rezando errado.
Devo estar rezando errado porque, desde que comecei a entender um pouco a respeito do funcionamento das instituições de Estado e após ter, uma ou outra vez, por motivos fortuitos, visitado algumas casas legislativas, rezo para que uma força divina promova o enxugamento radical dessas mastodônticas estruturas, caríssimas, obsoletas, portas de entrada para o meio político de uma multidão de aspones e picaretas e verdadeiro almoxarifado de militantes partidários, entulhados em gabinetes e sustentados com os impostos arrancados das pessoas que trabalham.
Instalada em um imenso caixotão de mármore, erguido de frente para o Parque do Ibirapuera, a Alesp, que aloja 94 deputados estaduais, custa aos paulistas 1,3 bilhão ao ano e emprega incríveis 3.700 pessoas.
Tudo isso para que, entre outras coisas, alguns deputados gastem tempo promovendo pequenas e inócuas demagogias com a comunidade evangélica — e é evidente que o governador Doria não cometeria o descuido de se indispor com um segmento de gigantesca força eleitoral.
Resta contudo uma dúvida:
aplica-se a lei a todas as pessoas, indistintamente, ou aquela imensa parcela da população que já coloca seus políticos preferidos em pedestais e os vê como seres divinos, extra-humanos, santificados e mitológicos está dispensada?
Se alguém tiver a resposta a essa questão, por gentileza, a envie para esta coluna.
Ah, sim, anote em sua agenda para não correr o risco de não cumprir a lei:
o Dia de Oração pelas Autoridades da Nação será celebrado toda terceira segunda-feira do mês.
