Entre nos nossos canais do Telegram e WhatsApp para notícias em primeira mão.
Telegram: [link do Telegram]
WhatsApp: [link do WhatsApp]
A divulgação de que um relatório do Coaf apontou que o deputado federal David Miranda (aquele que herdou o mandato do “exilado”) movimentou cerca de 2,5 milhões em sua conta em um período de menos de um ano pode não significar nada:
ainda que tenham sido identificados inúmeros depósitos em espécie, alguns feitos no mesmo dia, quase sempre de valores entre 2,5 e 5 mil reais; ainda que haja indícios de que parte desses depósitos tenham sido feitos por um funcionário de seu gabinete, da época em que David era vereador no Rio de Janeiro; e ainda que, pelo menos na fachada, a coisa em tudo lembre um outro caso célebre, ainda sob investigação – envolvendo o ex-deputado estadual e hoje senador, Flávio Bolsonaro -, ninguém pode condenar o parlamentar antecipadamente;
David terá todo tempo do mundo e a assessoria dos melhores advogados para convencer a Justiça de que não se trata de mais um caso de “rachadinha”, expediente largamente utilizado por legisladores de Norte a Sul do país, que consiste em abarrotar gabinetes de assessores de mentira, com o único intuito de colocá-los na folha de pagamento da casa e se apropriar de parte dos salários deles.
O curioso – e irônico – na história foi ver a argumentação utilizada pelo jornalista Glenn Greenwald, auto intitulado marido de David, em sua defesa.
Depois de assegurar que David não é adepto de “rachadinha” (ok, ele deve saber o que diz), Glenn classificou a divulgação do caso como “vazamento corrupto e ilegal”, algo feito com o intuito de “destruir suas reputações” e que a divulgação pela imprensa foi uma demonstração de “subserviência”.
— Justo você dizendo isso, Glenn?
Qualquer brasileiro que não tenha passado os últimos meses em coma sabe que o referido jornalista norte-americano mobilizou as atenções do país inteiro ao divulgar trechos de supostas conversas particulares de integrantes do Ministério Público e do Judiciário, integrantes e ex-integrantes da Operação Lava Jato;
que esse material é comprovadamente resultado de hackeamento criminoso (a quadrilha está presa em Brasília há quase dois meses);
que ele jamais mostrou o material para ninguém, só ele mesmo parece conhecer a íntegra;
que ele escolheu (e segue escolhendo) cuidadosamente os trechos a serem divulgados (jamais se viu transcrições de conversas da malvada Lava Jato cometendo “abusos” contra Sérgio Cabral ou Eduardo Cunha, por exemplo);
que, ao optar por divulgar o material a conta-gotas, ele calculou (e acertou) que se tornaria roteirista de uma espécie de novela: divulga, aguarda a reação (dos envolvidos, das redes sociais, dos políticos e da imprensa) e, dependendo da avaliação que fizer, escolhe outro trecho – e assim tem sido, semana após semana;
que ele afirma e reafirma a todo momento que o faz no estrito cumprimento de seu dever como jornalista: se ele tem a informação, ele precisa divulgar, pois trata-se de assunto de interesse público.
— Então, Glenn, veja como são as coisas:
agora parece que chegou nossa vez de dizer, pedindo desculpas por apropriarmo-nos de suas palavras, que o que você fez (e segue fazendo) é comprovadamente fruto de vazamento ilegal – e muito possivelmente corrupto;
que o seu intuito é, obviamente, destruir reputações;
e que você não pode acusar a imprensa de ser “subserviente”, os jornalistas que divulgaram o caso envolvendo seu marido estavam apenas cumprindo o dever deles por considerarem que o assunto era de interesse público – e foi você que nos ensinou isso, não é mesmo?
— Você é que é subserviente, Glenn. Nós não podemos provar – provavelmente jamais poderemos -, mas todos aqui sabemos para quem você trabalha.
Agora vá tratar de arrumar advogados e ajudar na defesa do David; agradeça que as investigações envolvendo relatórios do Coaf estão momentaneamente paradas – porque o Flavio pediu e o Toffoli, novo amigão do presidente, atendeu:
não é irônico que vocês sejam também beneficiados por esse fato?
— Sem mágoas, Glenn: no fim das contas concluímos que você é um sujeito engraçado e tem feito nossos dias mais divertidos.