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José Mojica Marins, o Zé do Caixão, morreu nesta quarta-feira, 19, aos 83 anos. Artista teve complicação devido a uma broncopneumonia, informação foi confirmada pela filha Liz Marins. Detalhes sobre velório e enterro ainda não estão confirmadas
Marins nasceu em São Paulo, em 13 de março de 1936. Os pais, de origem espanhola, eram artistas de circo. Sempre adorou gibis e filmes. O pai chegou a ser gerente de cinema, o que permitiu ao garoto desenvolver o imaginário no escurinho do cinema. Aos 12 anos, ganhou um câmera. Nunca mais parou de filmar. Alguns de seus filmes artesanais chegaram a ser exibidos para plateias pagantes, o que cobria os gastos de ‘produção’. Aos 17 anos, fundou a Companhia Cinematográfica Atlas. Recrutando atores que testava com insetos e outros bichos, descobriu que sua vocação estava no terror escatológico.
Aventura, faroeste, drama. José Mojica Marins fez de tudo, ao longo de sua carreira como ator e diretor. Mas foi o terror que lhe deu fama. É um daqueles casos em que o personagem sobrepujou o autor. Zé do Caixão no Brasil, Coffin Joe nos EUA. Quem não conhece a sinistra figura de unhas longas e encurvadas? Mesmo quando seus filmes deixaram de fazer sucesso – o último, o mais bem produzido de sua carreira, ficou abaixo da expectativa -, a aura permaneceu intacta. As pessoas ainda o paravam na rua, queriam tirar fotos, pediam autógrafos.
Em 1958, lançou seu western caboclo, A Sina do Aventureiro. Seis anos mais tarde, surgiu Meu Destino em Tuas Mãos, que segue as aventuras de cinco crianças que caem, na estrada, fugindo dos pais. O líder do grupo canta, e o filme segue a vertente aberta pelo chamado rouxinol de ouro, o ator mirim espanhol Joselito, que cantava como ninguém. Em 1963, finalmente, foi a vez de À Meia-Noite Levarei Sua Alma. Repetidas vezes Marins contou a história da gênese de Zé do Caixão. O personagem foi criado por ele em 11 de outubro de 1963. Marins sonhara, terrível pesadelo, com um vulto que o arrastava para o vulto.
Procurando reproduzir sua aflição, ele criou Zé do Caixão e lhe deu esse nome baseado, segundo dizia, na lenda de um ser que viveu há milhões de anos na Terra e que se transformou em luz, voltando, como luz, muito tempo depois, ao planeta de origem. O detalhe curioso é que Marins não ficou satisfeito com a própria voz. Ele intuía que Zé do Caixão precisava de um timbre especial. Assim como tem data de nascimento, o personagem teve um dublador – Laércio Laurelli, que dublava um ator italiano então popular, Mario Carotenuto. A crítica caiu matando, e assim prosseguiu nos filmes seguintes. O público encampou Zé do Caixão. O reconhecimento começou no exterior, mesmo que Glauber Rocha, um ícone do cinema do País, tenha sido pioneiro ao reconhecer que alguma coisa havia naquele Zé do Caixão.
Josefel Zanatas é o verdadeiro nome do personagem. Amoral e niilista, ele exerce a função de agente funerário. É um descrente obsessivo que não crê em Deus nem no Diabo, mas se considera superior aos outros e busca a mulher perfeita para conceber o filho perfeito. Essa perfeição nunca é física – é um conceito mental. Para a visualização de Zanatas/Zé do Caixão, Marins inspirou-se em Max Schenk, protagonista de Nosferatu, de F. W. Murnau, de 1922. O personagem seguiu aparecendo em Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, O Estranho Mundo de Zé do Caixão, Trilogia do Terror e O Despertar da Besta. / Agência Estado