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Ciro Nogueira (PP), histórico aliado de Lula e ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, afirmou que “ser de direita não é ser antiesquerda”. Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, o senador do Centrão navegou por águas mansas ao citar a esquerda e adotou o clima de “oposição super light” logo após a aprovação da Reforma Tributária de Lula na Câmara dos Deputados. O parlamentar disse que apesar da eleição polarizada, “a transição de poder se fez de acordo com todos os ritos” e que “há razões para acreditar no Brasil”. O Partido Progressista de Ciro Nogueira, inclusive, foi o maior beneficiado pelas emendas congressistas liberadas pelo regime Lula pouco antes da votação da reforma e foi fundamental para a sua aprovação. A sigla — cuja única ideologia é parasitar o poder — receberá a singela bagatela de R$ 281 milhões.
Em um passado recente, logo ali em 2017, Ciro Nogueira afirmou categoricamente que considerava Jair Bolsonaro “preconceituoso” e “fascista” (veja vídeo). Alguns anos mais tarde, ele assumiria o ministério mais importante do governo Bolsonaro como se nada tivesse acontecido. Movimentações inusitadas que somente a política brasileira poderia nos proporcionar (e que para muita gente serve como um entretenimento melhor do que as séries da Netflix).
Em evidência na mídia, Ciro tem aparecido em entrevistas para dar rosto à dita “oposição responsável”, “moderada” e “totalmente aceitável” até mesmo aos olhos da esquerda radical. Algo muito distante do sentimento antissistema e anticomunista que tomou grande parte da população após as manifestações de junho de 2013. Enquanto a imprensa eleva figuras de centro-esquerda como “nova oposição”, conservadores que trabalharam pela eleição de Bolsonaro em 2018 — motivados pelas bandeiras que o então candidato à Presidência defendia — continuam a ser presos, processados e silenciados no ambiente virtual.
Porém, o flerte com o regime lulista e seus tentáculos não é exclusividade de Nogueira. Recentemente, o governador de São Paulo, o tecnocrata Tarcísio Freitas (Republicanos), sofreu as consequências de uma perigosa aproximação com a trupe do PT. O também ex-ministro de Bolsonaro desenvolveu uma relação quase íntima com o partido de Lula e o STF. Além de viajar ao lado do comunista Flavio Dino (PCdoB) para Lisboa a convite de Gilmar Mendes, Tarcísio, que foi peça importante para a aprovação da Reforma Tributária de Lula, rasgou elogios ao Supremo. À revelia dos presos políticos e da perseguição brutal promovida pela corte aos apoiadores de Bolsonaro, o governador defendeu que a democracia brasileira é “forte e vibrante” e que o país tem “um guardião da Constituição que tem funcionado muito bem”. Os chamegos entre Tarcísio e a esquerda foram tão longe, que seus próprios eleitores começaram a cobrá-lo nas redes sociais. Pouco antes de embarcar para Portugal com a equipe de Lula, o governador liberou verbas milionárias para o movimento LGBT e para o financiamento da Parada Gay, que acontece anualmente na avenida Paulista e é palco de cenas absurdas como a mostrada a seguir.
“O isentismo tecnocrático só é apolítico em cima da direita. É uma monstruosidade ideológica criada para dar todo o poder à esquerda“, Olavo de Carvalho.
É importante ressaltar que Tarcísio nunca fez questão de defender pautas de direita e mesmo assim, em razão do apoio que recebeu de Bolsonaro, foi eleito com votos de conservadores. Ainda que empregando termos equivocados, o ex-ministro da Infraestrutura já havia deixado subentendido que não seria oposição à esquerda. O governador deixou claro que tem gratidão por Bolsonaro, mas não será defensor das bandeiras que o elegeram. À CNN, ele afirmou: “Nunca fui bolsonarista raiz e não vou entrar em guerra ideológica”. O termo “bolsonarista raiz” é usado equivocadamente para se referir aos apoiadores de primeira hora de Bolsonaro, que o elegeram não por conveniência política ou por questões que se restringem à economia ou infraestrutura, mas pela defesa de pautas conservadoras que foram a tônica de toda a sua campanha à Presidência em 2018. Tarcísio é o típico tecnocrata que assume uma posição de isenção ideológica para negar apoio às pautas de direita, ao mesmo tempo que investe no avanço das pautas de esquerda sem dificuldades. Sobre essa falsa neutralidade, o filósofo Olavo de Carvalho comentou em 2019:
“O isentismo tecnocrático só é apolítico em cima da direita. É uma monstruosidade ideológica criada para dar todo o poder à esquerda. Os militares já fizeram isso no tempo em que governavam o Brasil — e não aprenderam nada com a experiência”.
O processo de usurpação da direita pela centro-esquerda acontece de forma sorrateira e pode passar despercebido por olhares menos atentos. Pessoas com posicionamento conservador foram jogadas gradualmente para o campo do “extremismo”. Em contrapartida, figuras da velha política que sempre prostituíram seus votos em troca de benesses e poder começaram a ditar regras de comportamento para a “nova direita”. O sonho de qualquer comunista: uma oposição de mentirinha que além de não atrapalhar, ajuda — e muito — no processo de destruição do país e das liberdades individuais.
É o velho teatro das tesouras em versão atualíssima. Novos atores, nova abertura, mas o mesmo roteiro de uma antiga novela que está passando no “Vale A Pena Ver De Novo”.
Permitiremos?