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Em entrevista ao Valor Econômico, o economista Armínio Fraga afirmou esperar que Lula (PT) seja mais claro quanto ao plano econômico. O ex-presidente do Banco Central (BC) de FHC declarou voto no petista no segundo turno.
O economista disse que algumas respostas já deveriam ter sido dadas por Lula sobre qual direção política irá tomar em caso de vitória.
Fraga quer que mais temas relacionados à economia sejam levantados: “Tem muito receio sobre qual vai ser o Lula que vai aparecer. Se vai ser o Lula do primeiro mandato, do segundo mandato, ou do terceiro mandato do PT, que foi o da Dilma”.
Ontem, Lula divulgou a “Carta para o Brasil de Amanhã”, na qual promete que, caso eleito, fará um governo que, de acordo com ele, “combinará responsabilidade fiscal, social e compromisso com o desenvolvimento sustentável”.
Na entrevista, o economista disse que não crê em reestatização de estatais em um eventual governo Lula: “Teve um momento em que 60% do crédito no Brasil estava nos balanços dos bancos públicos. Por mais que o Banco do Brasil e o BNDES, em particular, tenham muita gente competente, não é a melhor maneira de alocar capital em uma economia. Acaba sempre tendo problemas de gestão. Isso, inclusive, já ficou claro. Depois que o BNDES encolheu, o investimento vem subindo no Brasil muito em cima do mercado de capitais”.
Fraga considera “justo” o fato do petista, até o momento, não ter indicado um nome para o ministério da Economia antes do resultado final das eleições:
“O ambiente que se vê numa campanha coloca essa pessoa em uma posição incômoda. Eu vivi isso com o Aécio (Neves, candidato à Presidência da República pelo PSDB em 2014) e, na época, ele acabou divulgando meu nome como coordenador da área. Em uma disputa muito quente, propícia a populismos, o foco do adversário estará em cima das maldades (proposta de corte ou ajuste de gastos) que você está propondo. Então não é muito razoável ter um ministro indicado, de quem se espere detalhes”.
Há pontos que, de acordo com Fraga, precisariam estar sinalizados claramente a essa altura, como invasão de terras.
“Não vejo nenhuma razão para o candidato do PT não dizer com toda clareza que não dá para ter invasão de terras. Pode ter uma política de reforma agrária, dentro das regras. Mas imagine se a moda pega e o povo começa a invadir supermercado. Por que pode invadir terra e não pode invadir supermercado? No geral, estou achando o debate muito pobre”, afirmou o ex-presidente do BC de FHC.
“O governo Bolsonaro, em muitos aspectos, tem sido uma loucura. Desmatamento, armamento da população, fim da âncora do gasto, apesar de o governo ter feito uma política dura de congelamento dos salários, obscurantismo, e confrontos extremos entre os Poderes. Tomei a decisão de apoiar o ex-presidente Lula por acreditar que essas questões não só assustam do ponto de vista institucional ou cultural, mas acabam também tendo impacto sobre a economia. Elas vão minando a credibilidade, encurtam os horizontes de tempo”, disse o economista sobre motivações para ser contra Bolsonaro.