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O combate a covid-19 fez com que dezenas de empresas de pesquisa ao redor do mundo mergulhassem de cabeça em busca de tratamentos para diversos estágios da covid-19. Algumas, como a norte-americana Moderna Inc e a universidade britânica de Oxford, estão pesquisando vacinas para a prevenção do vírus, informa o R7.
No caso da empresa de pesquisas médicas Sorrento Therapeutics, que fica em San Diego, na Califórnia (EUA), a descoberta mais animadora é a de um anticorpo que os testes in vitro indicam que tem ação 100% eficaz contra a covid-19. Ele poderia, em teoria, ser usado nos estágios iniciais da doença e também para prevenção.
Nesta segunda-feira (18), a Record TV dos EUA, conversou com o vice-presidente de desenvolvimento da Sorrento, Alexis Nahama. Ele explicou como a empresa chegou até o anticorpo STI-1499 e disse que a intenção é produzir, antes mesmo do fim dos testes clínicos em pacientes, mais de um milhão de doses da substância.
“A Sorrento trabalha na área de anticorpos faz 11 anos, ela foi criada para buscar anticorpos contra o câncer. Então a gente tem uma biblioteca de bilhões de anticorpos que foram achados nos corpos de 600 pacientes no passado.
O que a gente fez foi pegar a sequência genética do vírus e fazer uma triagem na nossa biblioteca. A gente achou mais de 100 anticorpos que têm atividade contra o vírus, separamos 12 que teriam características muito boas para criar uma terapia.
Enviamos os 12 para um parceiro na Universidade do Texas que tem um modelo de infecção com o vírus atual, eles botam o anticorpo com o vírus na presença de células vivas e depois contam quantas células foram infectadas pelo vírus. Estamos trabalhando com um coquetel de 3 anticorpos para evitar que o vírus tenha uma mutação genética e um deles não funcione mais. E ficamos muito surpresos que um anticorpo entre os 12 que a gente escolheu neutralizou 100% do vírus e depois de 4 dias de incubação não ficou mais uma célula infectada.”
“O problema é que, se você tem 90% de atividade neutralizante para evitar que o vírus entre numa célula, é tão ruim quanto ter apenas 10%. Porque o vírus que entra na célula vai replicar e vai fazer mais vírus e aí os novos vírus vão poder infectar outras células. Esses 10% podem ser o que faz você ter a doença, você precisa ter 100%.
O que muitas empresas vão tentar fazer é criar um coquetel com mais de um tratamento pra poder chegar até esses 100%. Era o que a gente ia fazer, mas quando a gente achou esse único anticorpo que tem, sozinho, a atividade neutralizante, a gente decidiu desenvolver esse anticorpo como um terapêutico único porque pode ser muito mais rápido de botar no mercado, providenciar para proteção em pacientes, para médicos, enfermeiros, todas as pessoas que estão sempre sendo sujeitas à infecção.”
“Tem duas coisas para entender aí. O anticorpo é uma imunidade imediata. Quando uma criança nasce e a mãe amamenta a criança nos primeiros dias, o estômago da criança ainda deixa passar anticorpos e todas as proteínas para o sangue. Essa imunidade passiva é a mesma coisa que o bebê recebendo a imunidade da mãe, aí depois a criança desenvolve a própria imunidade.
Uma vacinação pode levar até 40 dias para manifestar, é uma maneira de treinar seu organismo pra fazer o anticorpo. Já o anticorpo vai ter uma duração de atividade muito mais curta que a vacinação, mas também é uma proteção totalmente imediata, que quando você injeta, já tem. Penso que vai ter lugar para os dois tratamentos.
Tem um tempo também, se você estiver muito avançado na doença, pode ser que o anticorpo não funcione bem, porque você já tem o dano que foi feito no pulmão, no coração e tudo isso. O anticorpo para a reprodução do vírus, mas você tem que dar tempo pro corpo regenerar.”
“O que nós vamos fazer nos nossos primeiros estudos clínicos vai ser em pacientes que tem a doença avançada, mas não crítica. Esse vai ser o primeiro grupo. Se funcionar bem para esses pacientes, aí a gente vai nos pacientes que tão no começo da infecção e depois nos que estão com risco de ter a infecção.
Também pacientes muito idosos, que não têm um bom sistema imunológico, talvez não vão desenvolver uma boa resposta para a vacinação, esses pacientes são ideais para a gente proteger. Pode ser, um tratamento muito eficaz por 4 a 6 semanas, que dá um tempo de preparação, se a gente puder proteger as pessoas por pelo menos um mês já ajuda muito.”
“A nossa empresa tá trabalhando para acelerar. O desenvolvimento de um anticorpo pode levar de 2 a 5 anos, mas a gente tá indo muito mais rápido. Esse prazo de 2 a 5 anos é para quando você faz tudo de maneira sequencial e você faz primeiro estudos em vitro, depois em animais. Como a gente já tem uma experiência, não precisa da fase dos animais, depois você faz pelo menos três estudos clínicos, depois trabalha com o governo para poder aprovar tudo.
O que estamos fazendo é trabalhar tudo em paralelo. A gente tem uma parte de produção que podemos chegar a 200 mil doses por mês. Vamos fazer a risco, 1 milhão de doses para depois dos estudos clínicos, se não funcionar a gente joga fora, mas a gente espera que dê certo, estamos otimistas.
A gente espera fazer as coisas bem rápido e trabalhar com os diferentes governos para ver como a gente acelera o estudo clínico, fazer e poder acessar os dados imediatamente, em vez de esperar meses para fazer a parte estatística, compilar. Estamos tentando cortar todos os lugares onde você perde tempo no processo.”
“Nas partes de segurança ainda precisa dar mais clareza para como fazer para ir rápido. Eles estão trabalhando diariamente também para acelerar. O trabalho da FDA (agência do governo norte-americano que regula novos medicamentos) é garantir que o que você tá fazendo não vai trazer ainda mais risco à pessoa do que um tratamento experimental, equilíbrio entre risco e benefício.
Nossa ideia é ter um milhão de doses até setembro, outubro. Vai depender dos resultados iniciais, por exemplo se começar a dar muito certo já vamos procurar parceiros para levar a nossa produção a vários milhões de doses. Não é tão difícil.
Estamos começando com os EUA, que tem problemas com a covid-19, mas a gente sabe que outros lugares onde tem questões de distanciamento, podemos fazer parcerias com empresas no Brasil e outros países em desenvolvimento. Na Europa parece que está mais tranquilo. Mas o bom de ter várias empresas trabalhando ao mesmo tempo é que podemos desenvolver uma primeira linha de defesa mais rápido.”
“A gente tá deixando para dormir em 2021, não tem mais dia, não tem mais noite, estamos todos trabalhando para tentar o resultado mais rápido possível. Você não pode fazer isso sem o apoio da família em casa. Se você fica cansado, você vê as notícias, olha os números de quantas pessoas ficaram doentes ou morreram naquele dia e dá para trabalhar mais 3 horas sem problema.
Ninguém entra nessa área médica ou de pesquisa sem estar pronto. É terrível o que tá acontecendo, mas também é a razão que a gente se prepara e entra nessa área, para dias como hoje, para poder botar toda a energia e o pensamento e as equipes juntas e trabalhar para resolver.”
*Com informações de R7