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O Pantanal enfrenta o período mais seco das últimas quatro décadas, e um estudo inédito lançado nesta quarta-feira (03) indica que 2024 poderá testemunhar a pior crise hídrica já registrada no bioma. Conhecido por ser uma das áreas úmidas mais biodiversas e preservadas do mundo, o Pantanal viu, nos primeiros quatro meses deste ano, uma média de área coberta por água inferior até mesmo aos períodos de seca do ano passado.
Encomendado pelo WWF-Brasil e conduzido pela empresa especializada ArcPlan, com financiamento do WWF-Japão, o estudo utilizou dados do satélite Planet, conhecido por sua alta sensibilidade, para mapear as áreas alagadas durante os períodos de cheia dos rios. Segundo Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil e uma das autoras do estudo, as análises revelaram que o pulso de cheias não ocorreu em 2024, mesmo nos meses esperados para esse fenômeno crucial à ecologia do Pantanal.
A medição do nível do Rio Paraguai, crucial para avaliar as condições hídricas, mostrou que nos cinco primeiros meses de 2024 o nível médio do rio não ultrapassou 1 metro, uma redução de 68% em relação à média histórica para o período. A preocupação agora é que o Pantanal continue a enfrentar secas severas até outubro, aumentando a urgência de medidas de prevenção e adaptação à seca, além do risco crescente de grandes incêndios.
A estação chuvosa na Bacia do Alto Rio Paraguai, onde está localizado o Pantanal, ocorre entre outubro e abril, seguida pela estação seca entre maio e setembro. O estudo indica que entre janeiro e abril de 2024, a média da área coberta por água foi de 400 mil hectares, abaixo dos 440 mil hectares registrados na estação seca de 2023.
Os resultados do estudo alertam para uma realidade preocupante: o Pantanal está enfrentando um período cada vez mais severo de seca, o que o torna mais vulnerável, aumentando as ameaças à sua biodiversidade, recursos naturais e à comunidade local. A sequência de anos com baixos índices de cheias e secas extremas pode alterar permanentemente o ecossistema do Pantanal, com consequências severas para sua rica fauna e flora, além de impactos significativos na economia regional, que depende da navegabilidade dos rios e da diversidade da fauna.
Além dos eventos climáticos que exacerbam a seca, a redução da disponibilidade de água no Pantanal está relacionada a atividades humanas, como a construção de barragens, estradas, desmatamento e queimadas, conforme explicado por Helga.
Especialistas alertam que o acumulo desses fatores degradação, agravados pelas mudanças climáticas, pode levar o Pantanal a um ponto de não retorno, onde sua capacidade de recuperação natural será severamente comprometida após um certo percentual de destruição.
Outra preocupação significativa é o impacto das secas extremas e das queimadas associadas na qualidade da água, devido à entrada de cinzas nos corpos hídricos, causando mortalidade de peixes e reduzindo o acesso à água para as comunidades. “É essencial agir imediatamente e identificar as populações tradicionais e pequenas comunidades que estão vulneráveis à seca e à degradação da qualidade da água”, ressalta Helga.
A nota técnica do estudo apresenta uma série de recomendações, incluindo o mapeamento das principais ameaças aos corpos hídricos do Pantanal, especialmente nas regiões de cabeceiras; fortalecimento e expansão das políticas públicas para conter o desmatamento; restauração de áreas de Proteção Permanente (APPs) nas cabeceiras para melhorar a infiltração da água e reduzir a erosão do solo e o assoreamento dos rios, aumentando assim a qualidade e a quantidade de água tanto nas áreas altas quanto nas planícies; e apoio à valorização das comunidades locais, proprietários e setores produtivos que adotam práticas sustentáveis.