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DW – Quase quatro anos após Trump anunciar saída do pacto climático, maior economia do mundo volta ao tratado, que agora tem todos os países do mundo como signatários. Clima é uma “crise existencial global”, diz Biden.
Os Estados Unidos retornaram oficialmente ao Acordo de Paris sobre mudanças climáticas nesta sexta-feira (19/02), com o presidente Joe Biden reiterando que pretende fazer do combate ao aquecimento global uma das prioridades de sua gestão.
Quase quatro anos após o ex-presidente Donald Trump ter anunciado a retirada do país do pacto internacional assinado em 2015, o retorno americano significa que todas as nações do mundo agora são signatárias do documento.
Em 2017, meses após a decisão controversa de Trump, a adesão tardia de Síria e Nicarágua haviam deixado os Estados Unidos – que são a maior economia do mundo e o segundo maior emissor de carbono do planeta – como o único país fora do Acordo de Paris.
Em discurso na Conferência de Segurança de Munique nesta sexta-feira, Biden pediu aos países europeus que dobrem seus compromissos de combate às mudanças climáticas.
“Não podemos mais atrasar ou fazer o mínimo para enfrentar as mudanças climáticas”, disse o americano, que participa da cúpula de segurança internacional por meio de videoconferência. “Esta é uma crise existencial global. Todos sofreremos as consequências se fracassarmos.”
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, também celebrou o retorno ao Acordo de Paris, afirmando que “as mudanças climáticas e a diplomacia científica nunca mais poderão ser ‘complementos’ em nossas discussões de política externa”.
“Responder às ameaças reais das mudanças climáticas e ouvir nossos cientistas estão no centro de nossas prioridades de política interna e externa. É parte vital de nossas discussões sobre segurança nacional, migração, esforços internacionais de saúde, e em nossas negociações comerciais, econômicas e diplomáticas”, disse o chefe da diplomacia americana em comunicado.
Elogiando o Acordo de Paris, negociado pelo ex-presidente Barack Obama, Blinken garantiu ainda que a diplomacia climática que se aproxima terá um papel crucial na estratégia dos EUA.
O ex-secretário de Estado John Kerry, hoje enviado dos Estados Unidos para questões climáticas, já havia pedido à comunidade internacional para que eleve suas ambições climáticas durante a cimeira da ONU em Glasgow, na Escócia, que ocorrerá em novembro.
Biden e a defesa do clima
Biden, que completará um mês à frente da Casa Branca neste sábado, tem se mostrado um defensor do clima, em contraste com seu antecessor. Ele prometeu zerar os níveis de poluição do setor de energia dos EUA até 2035 e fazer com que a economia americana atinja a neutralidade de carbono até 2050.
Em seu primeiro dia de mandato, o democrata assinou uma ordem executiva revertendo a decisão de Trump de deixar o acordo, em meio a outras políticas do republicano também revogadas. A medida foi notificada à ONU, permitindo agora o retorno do país ao tratado internacional.
“Um grito de sobrevivência vem do próprio planeta”, declarou o presidente em seu discurso de posse em 20 de janeiro. “Um grito que não pode ser mais desesperado ou mais claro agora.”
Durante sua gestão, Trump, um negacionista das mudanças climáticas e aliado da indústria de combustíveis fósseis, disse considerar o Acordo de Paris injusto para os Estados Unidos e anunciou sua saída do tratado em junho de 2017.
O processo formal para a retirada americana só foi iniciado em novembro de 2019, com a medida entrando em vigor apenas em 4 de novembro de 2020, devido às disposições do acordo. Portanto, oficialmente os EUA só ficaram de fora do pacto por 107 dias.
Pressão sobre os EUA
Embora o retorno ao tratado nesta sexta-feira seja um passo formal simbólico, líderes mundiais disseram esperar que os Estados Unidos provem agora sua seriedade na luta em defesa do clima, após quatro anos de governo Trump em que foram praticamente ausentes.
Assim, é esperado que Biden anuncie em breve novas metas para cortes de emissões americanas. O governo democrata prometeu divulgá-las antes de uma cúpula climática que o presidente planeja realizar em 22 de abril, para coincidir com o Dia da Terra.
“Esperamos que eles traduzam [essa ambição] em uma redução muito significativa das emissões e que sejam um exemplo a ser seguido por outros países”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, que saudou o retorno dos EUA ao acordo como um passo “muito importante por si só”.
Assinado em 2015 por quase todas as nações do mundo, o Acordo de Paris visa limitar o aumento das temperaturas globais a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, e continuar os esforços para limitar esse aumento a 1,5 graus.
As ambições do acordo são, na sua maioria, não vinculativas, com cada país autorizado a definir as suas próprias metas, um ponto sobre o qual Barack Obama e John Kerry insistiram ao assinar o documento há seis anos, preocupados com a oposição política nos Estados Unidos.