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DW – Após uma longa reunião com os governadores dos 16 estados alemães, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, anunciou a ampliação do lockdown e o reforço de algumas medidas de restrição para conter o acentuado aumento de casos de covid-19 no país nos últimos dias.
O impasse gerado por algumas das propostas fez com que a reunião por vídeo se estendesse por várias horas, até a madrugada desta terça-feira (23/03).
O encontro chegou a ser interrompido por mais de seis horas, e foi retomado em torno da 1h. Merkel deu início à conferência de imprensa pouco depois das 2h30 desta terça-feira, no horário de Berlim.
O lockdown, que estava planejado para durar até 28 de março, foi ampliado até o dia 18 de abril.
Entre os dias 1º e 5 de abril, além de manter o fechamento de centros de cultura, lazer e esportivos, o governo decidiu fechar quase todo o comércio. Apenas supermercados e lojas de alimentos poderão permanecer abertos no sábado, dia 3. Os serviços religiosos devem ser realizados somente através da internet.
Durante esses dias ao redor da Páscoa, reuniões públicas são proibidas, e somente serão permitidas reuniões sociais de no máximo 5 adultos de 2 residências diferentes. Merkel pediu que as pessoas permaneçam em suas casas no feriado. As medidas anunciadas para a Páscoa são consideradas o mais rígido lockdown implementado no país desde o início da pandemia.
“Enfrentamos uma situação muito grave”, disse Merkel aos jornalistas. O governo atribui o aumento recente nos números da doença na Alemanha a uma ampla disseminação no país da variante britânica do vírus, mais contagiosa do que a cepa original.
“Temos basicamente uma nova pandemia”, afirmou Merkel, apontando que a variante britânica agora é a que mais circula no país. “Essencialmente, temos um novo vírus, com características bem diferentes: claramente mais mortal, claramente mais infeccioso.”
A chefe de governo afirmou que o país está em uma corrida para vacinar toda a população. Ela justificou a ampliação do lockdown dizendo que, quanto menos infecções houver no país, mais rápido a vacinação terá o impacto desejado.
Autoridades devem acionar “freios de emergência”
A reunião encerrada na madrugada desta terça-feira ocorreu quase três semanas após a chanceler e os governadores decidirem relaxar algumas das restrições ao comércio e à circulação de pessoas.
Na ocasião, as autoridades chegaram a um acordo para tentar equilibrar a necessidade de conter a disseminação de variantes mais contagiosas do coronavírus e a impaciência crescente da população com as medidas de restrição em vigor há mais de três meses. Mas, desde então, as infecções aumentaram de modo constante, impulsionadas pela variante mais contagiosa do coronavírus, de origem britânica.
As formas de colocar o lockdown em prática são decididas pelos estados. Merkel ressaltou a necessidade de os governos estaduais utilizarem os chamados “freios de emergência”, mecanismos que condicionam o alívio do lockdown aos índices de novas infecções, de modo a permitir certas medidas, como a reabertura parcial do comércio não essencial.
Esses relaxamentos devem ser cancelados se as infecções em uma determinada região superarem o índice de 100 novos casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias durante três dias consecutivos.
Nesta segunda-feira, a média de infecções por 100 mil habitantes nos últimos sete dias em todo o país era de 107,3, enquanto na semana passada esse índice chegou a ser de pouco mais de 60.
Antes da reunião, os critérios de avaliação das condições da doença no exterior aditados pela Alemanha resultaram na remoção de alertas de viagens para partes da Espanha. Isso levou a um aumento acentuado na compra de passagens aéreas para a ilha de Maiorca, um destino turístico muito popular entre os alemães, o que gerou uma enxurrada de críticas ao governo.
Por esse motivo, o governo decidiu exigir a imposição de testes de covid-19 para os passageiros e tripulantes das aeronaves com destino à Alemanha antes de iniciarem o retorno ao país.
Merkel afirmou que a Alemanha, que teve um número relativamente baixo de mortes por covid-19 durante a primeira fase da pandemia, vive uma história de “sucesso, mas também de retrocessos”.
Enquanto isso, o país tenta avançar sua campanha de vacinação, após um início bastante lento. As autoridades alemãs concordaram em expandir após o feriado de Páscoa a aplicação dos imunizantes para os consultórios médicos, além dos grandes centros de vacinação.
Até este domingo, 9% da população alemã haviam recebido ao menos uma dose da vacina, e 4% receberam as duas aplicações.
Meses de lockdown
Um lockdown mais rígido foi imposto na Alemanha em 16 de dezembro, após uma tentativa de bloqueio parcial no início de novembro não ter sido capaz de conter a explosão de casos no país. Na ocasião, o comércio e as escolas permaneceram abertos, enquanto foram impostas severas restrições a eventos culturais, hotéis e academias de ginástica.
Mas nem as medidas mais rígidas adotadas em meados de dezembro surtiram o efeito esperado. Naquele mês, a Alemanha chegou a registrar recordes de mais de mil óbitos por dia, além de um forte aumento no número de infecções. A situação levou várias lideranças políticas a pedirem a ampliação das medidas de contenção.
Inicialmente previsto para terminar em 10 de janeiro, o lockdown foi então estendido até o fim de janeiro e, em seguida, prorrogado novamente até 14 de fevereiro, e depois até 8 de março. Por fim, nesta quarta, o governo determinou a quarta prorrogação consecutiva do confinamento.
Em meados de fevereiro, porém, foram iniciadas algumas medidas de flexibilização, como a reabertura de escolas e jardins de infância em diversos estados. Já cabeleireiros reabriram em 1° de março.
As medidas restritivas em vigor ajudaram a reduzir consideravelmente o número de novas infecções. No entanto, com a circulação de novas variantes do coronavírus no país, os casos voltaram a subir nos últimos dias.
No início de março, o governo anunciou a prorrogação do lockdown até o final do mês, mas também estabeleceu um plano de flexibilização das restrições em cinco etapas. Uma das principais medidas foi a reabertura de parte do comércio não essencial, que podia ocorrer de maneira mais sistemática em regiões que registraram uma média inferior a 50 novos casos de covid-19 por 100 mil habitantes nos últimos sete dias.
Merkel defendia um número mais rígido, de incidência de 35 por 100 mil habitantes, mas teve que ceder diante da pressão dos governadores, que pela estrutura federativa do país têm poder para impôr ou levantar restrições.