Entre nos nossos canais do Telegram e WhatsApp para notícias em primeira mão.
Telegram: [link do Telegram]
WhatsApp: [link do WhatsApp]
O papa Francisco disse que a invasão da Ucrânia por Moscou foi “talvez de alguma forma provocada”, ao recordar uma conversa no período que antecedeu a guerra na qual foi avisado que a Otan estava “latindo aos portões da Rússia”.
Em entrevista à revista jesuíta La Civiltà Cattolica, realizada no mês passado e publicada nesta terça-feira (14), o pontífice condenou a “ferocidade e crueldade das tropas russas”, ao mesmo tempo em que advertiu contra o que disse ser uma percepção de conto de fadas do conflito como bem versus mal.
“Precisamos nos afastar do padrão habitual de Chapeuzinho Vermelho, em que Chapeuzinho Vermelho era bom e o lobo era o mau”, disse ele. “Algo global está surgindo e os elementos estão muito entrelaçados.”
Francisco acrescentou que alguns meses antes da guerra ele conheceu um chefe de Estado, que ele não identificou, mas descreveu como “um homem sábio que fala pouco, um homem muito sábio mesmo… estava provocando. Perguntei-lhe por que, e ele respondeu: ‘Eles estão clamando às portas da Rússia. Eles não entendem que os russos são imperiais e não podem ter nenhuma potência estrangeira se aproximando deles’”.
Ele acrescentou: “Não vemos todo o drama se desenrolando por trás dessa guerra, que talvez tenha sido de alguma forma provocada ou não evitada”.
Pouco antes da invasão, Vladimir Putin exigiu que a Otan excluísse a entrada da Ucrânia, que faz fronteira com a Rússia, na aliança militar.
O papa disse que não era “pró-Putin” e que seria “simplista e errado dizer uma coisa dessas”. Ele também disse que a Rússia “calculou mal” a guerra. “Também é verdade que os russos pensaram que tudo terminaria em uma semana. Eles encontraram um povo corajoso, um povo que luta para sobreviver e que tem uma história de luta”.
Na manhã de terça-feira, o pontífice publicou uma mensagem dizendo que a invasão da Ucrânia era uma violação do direito de um país à autodeterminação.
“A guerra na Ucrânia agora se soma às guerras regionais que há anos cobram um alto preço de morte e destruição”, disse ele em uma mensagem para o Dia Mundial dos Pobres da Igreja Católica Romana, que será marcado em novembro. “No entanto, aqui a situação é ainda mais complexa devido à intervenção direta de uma ‘superpotência’ destinada a impor sua própria vontade em violação ao princípio da autodeterminação dos povos.”
Enquanto isso, ele disse ao La Civiltà Cattolica que esperava encontrar o patriarca ortodoxo russo, Kirill, um aliado próximo de Putin que apoia a guerra na Ucrânia, em um evento inter-religioso no Cazaquistão em setembro.
Kirill repreendeu Francisco depois que o pontífice o exortou a não se tornar o “menino do altar” do Kremlin em uma entrevista ao jornal Corriere della Sera. Kirill acusou o papa de escolher um “tom incorreto” para transmitir sua mensagem, acrescentando que tais comentários prejudicariam o diálogo entre as duas igrejas.
O casal deveria se encontrar em Jerusalém em junho, mas a viagem foi cancelada devido à guerra.