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Um tribunal especial francês considerou nesta quarta-feira (29) 20 homens culpados de envolvimento nos ataques terroristas do Estado Islâmico ao teatro Bataclan, cafés de Paris e estádio nacional da França em 2015, que mataram 130 pessoas nos ataques mais mortais em tempos de paz da história da França.
O principal suspeito e único sobrevivente da equipe de 10 membros de extremistas, Salah Abdeslam, foi considerado culpado de assassinato e tentativa de assassinato em relação a um empreendimento terrorista, entre outras acusações. Ele pode pegar prisão perpétua sem liberdade condicional, a sentença mais dura da França.
O juiz presidente Jean-Louis Peries leu os veredictos em um tribunal cercado por segurança sem precedentes, encerrando um julgamento de nove meses.
Dos réus, além de Abdeslam, 18 receberam várias condenações relacionadas ao terrorismo e um foi condenado por uma acusação de fraude menor. A sentença é esperada para esta quarta-feira.
Ao longo dos nove meses de julgamento, Abdeslam proclamou seu radicalismo, chorou, pediu desculpas às vítimas e implorou aos juízes que perdoassem seus “erros”.
Para as famílias das vítimas e sobreviventes dos ataques, o julgamento foi excruciante, mas crucial em sua busca por justiça e encerramento.
Durante meses, a câmara principal lotada e as 12 salas lotadas do Palácio da Justiça do século 13 ouviram os relatos angustiantes das vítimas, juntamente com o testemunho de Abdeslam. Os outros réus são amplamente acusados de ajudar com logística ou transporte. Pelo menos um é acusado de um papel direto nos ataques mortais de março de 2016 em Bruxelas, que também foram reivindicados pelo grupo Estado Islâmico.
Para os sobreviventes e os entes queridos enlutados, o julgamento foi uma oportunidade de contar relatos profundamente pessoais dos horrores infligidos naquela noite e ouvir detalhes de inúmeros atos de bravura, humanidade e compaixão entre estranhos. Alguns esperavam justiça, mas a maioria só queria dizer diretamente aos acusados que eles ficaram irreparavelmente marcados, mas não quebrados.
“Os assassinos, esses terroristas, pensaram que estavam atirando na multidão, em uma massa de pessoas”, disse Dominique Kielemoes no início do julgamento em setembro de 2021. Seu filho sangrou até a morte em um dos cafés. Ouvir o testemunho das vítimas foi “crucial tanto para sua própria cura quanto para a da nação”, disse Kielemoes.
“Não era uma massa – eram indivíduos que tinham uma vida, que amavam, tinham esperanças e expectativas”, disse ela.
A França mudou após os ataques: as autoridades declararam estado de emergência e oficiais armados agora patrulham constantemente os espaços públicos. A violência provocou uma reflexão entre franceses e europeus, já que a maioria dos agressores nasceu e foi criada na França ou na Bélgica. E transformaram para sempre a vida de todos aqueles que sofreram perdas ou testemunharam.
O juiz presidente Jean-Louis Peries disse no início do julgamento que ele pertence aos “eventos internacionais e nacionais deste século. ”A França saiu do estado de emergência em 2017, depois de incorporar muitas das medidas mais duras à lei.
Quatorze dos réus foram ao tribunal, incluindo Abdeslam, o único sobrevivente da equipe de ataque de 10 membros que aterrorizou Paris naquela sexta-feira à noite. Presume-se que todos, exceto um dos seis homens ausentes, tenham sido mortos na Síria ou no Iraque; o outro está preso na Turquia.
A maioria dos suspeitos é acusada de ajudar a criar identidades falsas, transportar os agressores de volta para a Europa da Síria ou fornecer dinheiro, telefones, explosivos ou armas.
Abdeslam, um belga de 32 anos com raízes marroquinas, foi o único réu julgado por várias acusações de assassinato e sequestro como membro de uma organização terrorista.
A sentença pedida para Abdeslam de prisão perpétua sem liberdade condicional só foi pronunciada quatro vezes na França – por crimes relacionados a estupro e assassinato de menores.
Os promotores estão buscando sentenças de prisão perpétua para outros nove réus. Os demais suspeitos foram julgados por acusações menores de terrorismo e enfrentam sentenças que variam de cinco a 30 anos.
Nas alegações finais, os promotores enfatizaram que todos os 20 réus, que se espalharam pela capital francesa, armados com rifles semiautomáticos e coletes cheios de explosivos para montar ataques paralelos, são membros do grupo extremista Estado Islâmico responsável pelos massacres.
“Nem todo mundo é jihadista, mas todos aqueles que você julga aceitaram participar de um grupo terrorista, seja por convicção, covardia ou ganância”, disse o promotor Nicolas Braconnay ao tribunal neste mês.
Alguns réus, incluindo Abdeslam, disseram que civis inocentes foram alvejados por causa das políticas da França no Oriente Médio e centenas de mortes de civis em ataques aéreos ocidentais em áreas controladas pelo Estado Islâmico na Síria e no Iraque.
Durante seu depoimento, o ex-presidente François Hollande rejeitou as alegações de que seu governo estava em falta.
O Estado Islâmico, “este pseudo-estado, declarou guerra com as armas de guerra”, disse Hollande. Os atacantes de Paris não aterrorizaram, atiraram, mataram, mutilaram e traumatizaram civis por causa da religião, disse ele, acrescentando que era “fanatismo e barbárie”.
Durante as alegações finais na segunda-feira, a advogada de Abdelslam, Olivia Ronen, disse a um painel de juízes que seu cliente é o único no grupo de agressores que não detonou explosivos para matar outras pessoas naquela noite. Ele não pode ser condenado por assassinato, ela argumentou.
“Se uma sentença de prisão perpétua sem esperança de experimentar a liberdade novamente for pronunciada, temo que perdemos o senso de proporção”, disse Ronan. Ela enfatizou durante o julgamento que ela “não está dando legitimidade aos ataques” ao defender seu cliente no tribunal.
Abdeslam pediu desculpas às vítimas em sua última aparição no tribunal na segunda-feira, dizendo que seu remorso e tristeza são sinceros. Ouvir os relatos das vítimas de “tanto sofrimento” o mudou, disse ele.
“Cometi erros, é verdade, mas não sou um assassino, não sou um assassino”, disse ele.
