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O ex-presidente boliviano Evo Morales acusou, neste domingo (30), o atual presidente Luis Arce de enganar o povo boliviano ao realizar um “autogolpe” na semana passada para ganhar apoio político entre os eleitores.
A declaração reflete um declínio acentuado na relação entre os dois políticos. Inicialmente, Morales foi uma das vozes mais fortes a afirmar que cerca de 200 membros das Forças Armadas, que marcharam com veículos blindados até o palácio do governo na quarta-feira, tentaram um golpe de Estado.
“Estamos convencidos de que a democracia é a única maneira de resolver qualquer diferença e que as instituições e o estado de direito devem ser respeitados”, escreveu Morales em um post no X (antigo Twitter) no dia da ação militar. “Reiteramos o apelo para que todos os envolvidos nesta rebelião sejam presos e julgados.”
Neste domingo, Morales se uniu a outros que acreditam que Arce orquestrou um “autogolpe” para ganhar a simpatia dos bolivianos em um momento em que sua popularidade está baixa.
“Arce desrespeitou a verdade, nos enganou, mentiu, não apenas para o povo boliviano, mas para o mundo inteiro”, disse Morales em um programa de transmissão local no domingo.
Morales apoiou uma acusação feita pelo ex-general Juan José Zuñiga, que supostamente liderou a tentativa de golpe. Morales afirmou que Zuñiga informou colegas e familiares sobre seu plano antes de executá-lo e que, enquanto estava sob custódia, disse às autoridades que Arce o “traiu”.
“O presidente me disse: ‘a situação está muito complicada, muito crítica. É necessário preparar algo para aumentar minha popularidade’”, citou Zúñiga.
Essa teoria foi rapidamente adotada pelos inimigos políticos de Arce, que a chamaram de “autogolpe”.
“Em algum momento a verdade será conhecida”, disse o general Juan José Zúñiga, algemado, aos repórteres enquanto era transferido para a prisão no sábado.
Morales pediu uma investigação independente sobre a ação militar de quarta-feira em um post no X neste domingo.
Pouco depois dos comentários, o Ministro do Governo, Eduardo del Castillo, respondeu em uma entrevista à televisão estatal com uma crítica sutil a Morales, dizendo que “segundo Evo, se não houver mortes, não há golpe de Estado.”
Morales ainda exerce grande influência na Bolívia, especialmente entre os produtores de coca e os sindicatos, enquanto Arce enfrenta descontentamento devido à crise econômica no país.
Morales renunciou à presidência em 2019 em meio a protestos após tentar um terceiro mandato e fugiu para o exílio, um incidente que ele afirma ter sido um golpe. Ele apoiou Arce na eleição de 2020 como candidato do Movimento ao Socialismo (MAS).
A relação entre eles azedou quando Morales retornou do exílio e anunciou que planejava concorrer contra Arce para ser o candidato do MAS nas eleições de 2025. As disputas entre eles se intensificaram, com Morales bloqueando parte da agenda legislativa de Arce no Congresso.
“Fomos politicamente atacados”, disse Arce à Associated Press em uma entrevista na sexta-feira. Mas “nós não atacamos” de volta.
A disputa irritou muitos bolivianos e os comentários de Morales no domingo podem agravar a situação. O ex-presidente disse no programa de rádio local “Kausachun Coca” que sentiu que o incidente prejudicou a imagem da Bolívia e de suas Forças Armadas. Ele também pediu desculpas por ter expressado solidariedade com Arce.
*Com informações da Associated Press*