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Os moldavos votaram com uma pequena maioria a favor de garantir o caminho do país para a adesão à União Europeia, segundo dados divulgados na segunda-feira (21), após um referendo que quase resultou em uma derrota para a presidente pró-Ocidente. Ela acusou “grupos criminosos” de tentar minar a votação.
Com 99,41% dos 1,4 milhões de votos apurados no referendo sobre a UE, realizado no domingo, o “Sim” ficou com 50,39%, enquanto o “Não” alcançou 49,61%, de acordo com a Comissão Eleitoral Central.
O “Não” liderava até que os últimos milhares de votos da grande diáspora moldava fossem contados. Uma derrota seria um desastre político para o governo pró-Ocidente, que apoiou fortemente a campanha a favor da UE.
“Grupos criminosos, em colaboração com forças estrangeiras hostis aos nossos interesses nacionais, atacaram nosso país com dezenas de milhões de euros, mentiras e propaganda, utilizando os meios mais vergonhosos para manter nossos cidadãos e nossa nação presos na incerteza e na instabilidade”, declarou a presidente Maia Sandu após a contagem de cerca de 90% dos votos.
“Temos provas claras de que esses grupos criminosos pretendiam comprar 300 mil votos, um fraude de magnitude sem precedentes”, acrescentou Sandu. “O objetivo deles era minar um processo democrático.”
A votação ocorreu em meio a contínuas denúncias das autoridades moldavas de que Moscou intensificou uma campanha de “guerra híbrida” para desestabilizar o país e atrapalhar seu caminho rumo à UE. As acusações incluem financiamento de grupos pró-Moscou, disseminação de desinformação, interferência nas eleições locais e apoio a um grande esquema de compra de votos.
Nas eleições presidenciais, realizadas ao mesmo tempo, Sandu venceu o primeiro turno com 42% dos votos, mas não conseguiu maioria absoluta. Ela enfrentará no segundo turno, no dia 3 de novembro, Alexandr Stoianoglo, ex-procurador-geral alinhado à Rússia, que surpreendeu nas pesquisas com cerca de 26% dos votos.
A Rússia declarou na segunda-feira que os resultados apresentam “anomalias” e levantam “muitas perguntas”. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, em sua coletiva de imprensa diária, disse que “os indicadores que estamos acompanhando e a dinâmica de suas mudanças, obviamente, levantam muitas questões”. Peskov mencionou a mudança nos resultados à medida que a contagem avançava, o que ampliou a vantagem de Sandu e reverteu o referendo a favor do “Sim”.
Diante das acusações de Sandu sobre interferência estrangeira nos processos eleitorais, Peskov pediu provas, classificando a acusação como “muito grave”. Ele afirmou que é “difícil explicar o aumento mecânico dos votos a favor de Sandu e daqueles que defendem a orientação para a União Europeia”.
Ao final da votação, às 21h de domingo, mais de 1,5 milhão de eleitores — cerca de 51% do eleitorado — já haviam depositado seus votos, segundo a Comissão Eleitoral Central.
Cristian Cantir, professor moldavo de Relações Internacionais na Universidade de Oakland, disse à Associated Press que as pesquisas “superestimaram o sentimento pró-UE” dentro da Moldávia, que não teria aprovado o referendo sem os votos de fora do país.
“Será especialmente problemático porque… vai alimentar as narrativas promovidas pelo Kremlin e pelas forças pró-Rússia”, afirmou.
O porta-voz de segurança nacional dos Estados Unidos, John Kirby, ecoou a preocupação com a interferência russa, afirmando em comunicado que “a Rússia está trabalhando ativamente para minar as eleições na Moldávia e sua integração europeia”. Moscou negou repetidamente interferir na Moldávia.
A União Europeia também declarou que a votação foi marcada por “interferência e intimidação sem precedentes” da Rússia.
“Observamos que esta votação ocorreu sob interferência e intimidação sem precedentes por parte da Rússia e seus representantes, com o objetivo de desestabilizar os processos democráticos na República da Moldávia”, disse o porta-voz da UE, Peter Stano.
No início de outubro, as autoridades moldavas afirmaram ter descoberto um esquema de compra massiva de votos orquestrado por Ilan Shor, um oligarca pró-Rússia exilado na Rússia. Ele teria pago 15 milhões de euros (16,2 milhões de dólares) a 130 mil pessoas para minar as duas votações.
Shor foi condenado à revelia no ano passado por fraude e lavagem de dinheiro e sentenciado a 15 anos de prisão no caso dos 1 bilhão de dólares que desapareceram dos bancos moldavos em 2014. Ele negou as acusações, afirmando que os pagamentos eram legais e citando o direito à liberdade de expressão. O partido populista de Shor, pró-Rússia, foi declarado inconstitucional e banido no ano passado.
Na quinta-feira, as autoridades moldavas desmantelaram outro complô no qual mais de 100 jovens moldavos receberam treinamento de grupos militares privados em Moscou sobre como criar distúrbios civis durante as duas votações. Alguns também participaram de “treinamento avançado em guerrilha” na Sérvia e na Bósnia, segundo a polícia, e quatro pessoas foram detidas por 30 dias.
Um governo pró-Ocidente está no poder na Moldávia desde 2021, um ano após a vitória de Sandu nas eleições presidenciais. No próximo ano, haverá eleições parlamentares.
A Moldávia, uma ex-república soviética com uma população de cerca de 2,5 milhões de habitantes, solicitou a adesão à UE após a invasão da vizinha Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022 e, no verão daquele ano, recebeu o status de candidato, junto com a Ucrânia. Em junho, Bruxelas acordou iniciar as negociações de adesão.
(Com informações da AP, EFE e AFP)