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O Kremlin reagiu com firmeza à decisão da Casa Branca de autorizar a Ucrânia a utilizar armas de longo alcance fabricadas nos Estados Unidos para realizar ataques limitados em território russo. A medida, reportada pela NBC News, representa uma mudança significativa na política de Washington, a poucos meses do término do mandato do presidente Joe Biden, que tem liderado o engajamento dos EUA no conflito desde a invasão em grande escala da Rússia à Ucrânia em fevereiro de 2022.
Até então, a administração Biden havia restringido o uso de arsenal de longo alcance dos EUA a áreas de combate dentro da Ucrânia, permitindo, no entanto, que Kiev utilizasse os Sistemas de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade (HIMARS) para ataques transfronteiriços com o objetivo de defender seu território. A nova autorização ocorre após a chegada de tropas norte-coreanas para apoiar Moscou em um conflito que parece ter estagnado, além de um dos maiores ataques russos à Ucrânia no último fim de semana, conforme relatado pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy.
Em uma declaração, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a decisão da administração Biden representa uma tentativa deliberada de aumentar as tensões ao redor do conflito. “Se essa decisão foi realmente tomada e comunicada ao regime de Kiev, ela marca, sem dúvida, um novo patamar de tensão e uma nova situação no que diz respeito à participação direta dos EUA neste conflito”, disse Peskov.
A Ucrânia, dependente de aliados ocidentais para ajuda militar e humanitária, já recebeu grandes quantidades de armamentos de membros da OTAN, principalmente para fins defensivos em território ucraniano. No entanto, há um receio crescente de que o fornecimento de armas de longo alcance possa provocar uma escalada do conflito e uma represália russa. O presidente russo, Vladimir Putin, já havia advertido que qualquer decisão de um país da OTAN de permitir que a Ucrânia usasse essas armas contra alvos na Rússia seria interpretada como participação direta na guerra.
“O problema não é permitir que o regime ucraniano ataque a Rússia com essas armas, mas sim a decisão de países da OTAN de participar diretamente do conflito militar. Se essa decisão for tomada, significará nada menos que a participação direta dos países da OTAN — Estados Unidos, países europeus — na guerra na Ucrânia”, afirmou Putin, em declarações à agência russa Tass.
Apesar da autorização, analistas do Instituto para o Estudo da Guerra alertam que a liberação limitada de armas de longo alcance pode não ser suficiente para alterar significativamente o rumo da guerra no campo de batalha. Eles argumentam que as forças russas ainda terão uma “zona de refúgio” em outros territórios da Rússia, além da região de Kursk, onde a autorização foi concedida.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, reagiu às notícias afirmando nas redes sociais que a única forma de combater o “terror” russo é eliminar a capacidade da Rússia de lançar ataques. “Não se trata apenas de defesa, mas de justiça — a maneira certa de proteger nosso povo. Qualquer nação sob ataque faria o mesmo para defender seus cidadãos”, disse Zelenskyy.
Ainda é incerto se outros países europeus seguirão o exemplo dos Estados Unidos em autorizar o uso de suas armas por parte da Ucrânia. Ministérios das Relações Exteriores de países membros da OTAN, como Alemanha, França e Reino Unido, foram procurados para comentar a questão. Os ministros de Relações Exteriores da União Europeia se reuniram em Bruxelas na segunda-feira para discutir, entre outros assuntos, o conflito na Ucrânia.
O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, afirmou antes da reunião: “Tenho dito repetidamente que a Ucrânia deve poder usar as armas que fornecemos a eles, não apenas para parar as flechas, mas também para atingir os arqueiros. Continuo acreditando que é isso que deve ser feito.”
A decisão dos EUA também levanta questões sobre o atual arsenal de mísseis de longo alcance da Ucrânia e como ele pode ser usado para apoiar ataques diretos, especialmente com a iminente eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, que já se comprometeu a pôr fim à guerra na Ucrânia dentro de um dia após assumir o cargo, sem fornecer detalhes sobre como isso seria feito.
Apesar disso, a autorização dos EUA foi recebida com aplausos por alguns líderes europeus. Tytti Tuppurainen, membro do parlamento finlandês, disse à CNBC: “Se for verdade, acho que damos as boas-vindas a isso de todo coração. Se há algo que lamentamos, é que tenha vindo tão tarde. A Europa precisa agir agora. Este é um momento crítico.”