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O chefe humanitário da ONU, Tom Fletcher, fez um alerta dramático sobre a situação em Gaza, afirmando que cerca de 14 mil bebês podem morrer nas próximas 48 horas se a entrada de ajuda humanitária adequada não for permitida. A declaração foi feita durante entrevista ao programa “Today”, da Rádio 4 da BBC, na qual ele criticou a insuficiência das atuais medidas para aliviar o bloqueio imposto ao território.
Fletcher destacou que a entrada de ajuda humanitária em Gaza tem sido extremamente limitada e classificou os esforços como “uma gota no oceano”, insuficientes para atender às necessidades urgentes da população local. “Esses caminhões transportam alimentos infantis e produtos nutricionais”, explicou, ressaltando que, embora tecnicamente já estejam em Gaza, ainda não chegaram aos civis por permanecerem do outro lado da fronteira.
A iminência da fome e a pressão internacional levaram o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a anunciar no domingo que o bloqueio de 11 semanas será parcialmente aliviado, embora em um nível mínimo. No entanto, diversas vozes da comunidade internacional consideram que as medidas tomadas até o momento não são eficazes diante da gravidade da crise.
Na terça-feira, a ONU informou que recebeu autorização para enviar “cerca de 100” caminhões com ajuda à Faixa de Gaza, devastada pela guerra. A remessa começou a chegar ao território na segunda-feira, após ampla condenação internacional ao bloqueio total imposto por Israel, que gerou grave escassez de alimentos e medicamentos.
“Houve uma solicitação e recebemos autorização para o envio de muito mais caminhões hoje do que ontem”, disse Jens Laerke, porta-voz do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), em coletiva em Genebra. Ele acrescentou que a expectativa é de que os caminhões cheguem a pontos de coleta dentro da Faixa de Gaza para distribuição.
Na segunda-feira, nove caminhões foram liberados pela ONU, mas os próprios funcionários descreveram a ajuda como “uma gota no oceano” diante das necessidades. Segundo Laerke, os caminhões continham alimentos para bebês e suplementos nutricionais para crianças. Cinco deles cruzaram o ponto de passagem de Kerem Shalom e a ONU recebeu autorização para recuperá-los.
“Hoje, temos autorização para recolher esses caminhões e outros que possam passar pelo processo de entrada em Gaza por Kerem Shalom”, explicou Laerke ao jornal Times of Israel.
Na semana passada, especialistas em segurança alimentar alertaram sobre o risco de fome em Gaza. Durante a trégua mais recente, encerrada por Israel em março, cerca de 600 caminhões de ajuda entravam diariamente no território.
Netanyahu afirmou que decidiu retomar o envio “mínimo” de ajuda humanitária após aliados internacionais indicarem que não apoiariam a nova ofensiva militar israelense caso imagens de fome extrema em Gaza ganhassem projeção global.
Logo após o anúncio da entrada dos primeiros caminhões, Reino Unido, França e Canadá divulgaram uma dura declaração conjunta, classificando a ajuda como “totalmente insuficiente”. Os países ameaçaram “ações concretas” contra Israel, incluindo sanções, e exigiram o fim das novas ofensivas militares em Gaza.
Netanyahu repudiou a declaração conjunta, classificando-a como “um grande prêmio ao ataque genocida contra Israel em 7 de outubro”.
No fim de semana, Israel lançou uma nova onda de ataques aéreos e terrestres em Gaza. O exército israelense ordenou a evacuação da cidade de Khan Younis, a segunda maior da Faixa, onde uma operação militar anterior destruiu grande parte da região.
Israel afirma estar pressionando o Hamas para a libertação dos reféns sequestrados durante o ataque de 7 de outubro de 2023, que desencadeou o atual conflito. O Hamas, por sua vez, condiciona qualquer liberação a um cessar-fogo permanente e à retirada das forças israelenses.
Na segunda-feira, Netanyahu reiterou a intenção de “tomar o controle de toda Gaza” e disse que Israel pretende incentivar o que chamou de emigração voluntária de grande parte da população palestina para outros países — proposta já rejeitada pelos próprios palestinos.
(Com informações da AFP e da AP)
