“Ter filhos é salvar o mundo”, twittou Elon Musk de sua conta na rede social X. Embora o post seja de setembro de 2023, há vários anos o visionário por trás de empresas que revolucionaram indústrias – desde a automobilística com a Tesla até a aeroespacial com a SpaceX – pensa no futuro.
Podemos associar a figura de Musk a termos como tecnologia e inovação; no entanto, há uma preocupação que o intriga há algum tempo: o futuro da humanidade. A demografia global, as taxas de natalidade e o envelhecimento da população e seu impacto são temas sobre os quais ele reflete com frequência.
Essa “bomba-relógio demográfica” poderia ter consequências drásticas para a economia global, a inovação e a manutenção dos sistemas de bem-estar social. Em diversas entrevistas e declarações públicas, o empresário enfatizou como uma população que está envelhecendo com taxas de natalidade insuficientes para substituir gerações poderia levar a uma espiral de contração econômica e estagnação inovadora.
“Eu acredito que é importante criar uma nova geração”, disse Musk em dezembro de 2023, no “Atreju”, um fórum organizado desde 1998 pelos Irmãos da Itália e convidado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Elon apareceu em Roma com seu filho X nos braços, praticando o que prega. A ovação veio quando ele disse: “É tão simples quanto parece: se as pessoas não têm filhos, não haverá uma nova geração”, alertou, provocando o aplauso dos presentes.
Até mesmo dirigiu-se aos políticos presentes no auditório quando acrescentou: “Meu conselho para todos os líderes de governo e pessoas é que tentem ter filhos para criar uma nova geração”.
“A sociedade deverá revitalizar a ideia de ter filhos como uma espécie de dever social. Caso contrário, a civilização morrerá, sem mais”, disse em uma entrevista em 2014. Ter filhos, para Musk, é o antídoto para que a humanidade não desapareça.
Seu interesse parece ser mais intenso, a ponto de ser denominado “evangelização”. Essa é a palavra que o escritor Walter Isaacson usa em sua bem-sucedida biografia do bilionário, Elon Musk, para se referir a quão importante é esse assunto para Elon. Segundo o livro, ele próprio adota um papel ativo nisso, sendo pai de múltiplos filhos e incentivando seus entes queridos a fazer o mesmo.
Influência próxima
Shivon Zilis não tinha planos de se casar. A diretora da Neuralink e uma das principais referências em Inteligência Artificial não estava nessa vibe, mas ao trabalhar lado a lado com Musk começou a sentir “um forte desejo de maternidade”.
Por que isso aconteceu? Conforme relatado na biografia do magnata, o impulso maternal de Zilis, que também é sua amiga íntima, colega intelectual e, às vezes, companheira de jogos, foi acionado pela “evangelização” sobre a importância de as pessoas terem muitos filhos. “Temia que a queda na taxa de natalidade representasse uma ameaça para a sobrevivência a longo prazo da consciência humana”, escreve Isaacson.
No livro, Zilis refere-se às profundas convicções do criador da Tesla sobre o assunto: “Ele realmente deseja que pessoas inteligentes tenham filhos, então me encorajou a fazer isso”. O próprio Musk sugeriu que poderia ser o doador de esperma para que as crianças fossem geneticamente suas. “Parecia que isso o faria muito feliz”, conta a diretora no livro.
O nível de reflexão sobre o assunto é tão profundo que, mesmo após o nascimento dos gêmeos, concebidos por fertilização in vitro, Strider Sekhar Sirius e Azure Astra Alice, Musk twittou em X: “A queda na taxa de natalidade é, de longe, o maior perigo que a civilização enfrenta”.
Na mesma linha, mas em 2019, ele fez uma declaração contundente durante uma conferência sobre Inteligência Artificial: “Assumindo que haja um futuro benevolente com a IA, acredito que o maior problema que o mundo enfrentará em 20 anos será o colapso populacional”.
Elon continuou evangelizando e o fez também com sua fiel irmã, Tosca. De acordo com sua biografia, o apoio de Musk foi crucial para a renomada produtora de filmes românticos decidir ser mãe. Assim, ela embarcou no processo de ter um filho por meio de um doador anônimo de esperma, com apoio financeiro e moral de seu irmão. Ele até “a ajudou a procurar a clínica e escolher um doador anônimo de esperma”, diz o livro.
Pronatalismo e debates
“Não há pessoas suficientes”, explicou Musk em uma entrevista com Joanna Stern durante um evento do Wall Street Journal.
E ele continuou: “Acredito que um dos maiores riscos para a civilização seja a baixa taxa de natalidade e seu rápido declínio. No entanto, muitos, até pessoas inteligentes, acreditam que há muitas pessoas no mundo e que a população está crescendo sem controle. É completamente o oposto. Por favor, olhem os números: se as pessoas não tiverem mais filhos, a civilização entrará em colapso, lembrem-se das minhas palavras”.
Embora a taxa de natalidade mundial venha diminuindo desde 1960, segundo dados do Banco Mundial, as críticas e outras abordagens sobre o pronatalismo não tardam a chegar.
Por exemplo, a colunista do jornal The Guardian, Arwa Mahdawi, comentou com ironia: “O homem mais rico do mundo não terá problemas para alimentar e vestir seus filhos. O restante de nós tem que se preocupar com creches, contas médicas, bilionários que não querem pagar mais impostos…”.
Um usuário do X perguntou a Musk em 2022 o que ele diria às pessoas preocupadas com o custo de ter filhos. O bilionário, ativo nas redes sociais, respondeu: “As crianças valem a pena, se possível. Estou planejando aumentar significativamente os benefícios das creches em minhas empresas. Espero que outras empresas façam o mesmo”.
